Capítulo 7

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Jauregui Point Of View

Observei a Doutora sair e suspirei cansada, eu só queria dormir. Esse quarto todo branco me causa náuseas e dor nos olhos, Verônica percebeu meu desconforto e se sentou ao meu lado na cama.

ㅡ Precisa de algo?

ㅡ Apenas de um abraço, odeio ficar em uma cama de hospital.

Verônica abraçou-me com força, e eu retribuí o gesto. Ela era minha melhor amiga desde a infância, e fomos vizinhas por muitos anos. Ao completar dezesseis anos, decidi me assumir para minha mãe, mas infelizmente, sua reação foi péssima. Ela me agrediu e me expulsou de casa. Fiquei devastada e desde então, não nos falamos mais. Encontrei refúgio na casa de Verônica e sua família, que me acolheu com carinho e amor. Meu pai sempre me apoiou e tentou me levar de volta para casa, mas infelizmente, minha mãe não permitiu. Eu segui em frente, busquei meus sonhos e me formei em direito e administração.

Com o apoio de meu pai e Verônica, consegui abrir meu próprio escritório e, com muito esforço, transformei-o em uma empresa bem-sucedida. Verônica tornou-se minha assistente e também decidiu seguir os mesmos caminhos da minhas duas faculdades. Jamais imaginei que minha mãe poderia querer me ver novamente depois de tudo o que aconteceu e das palavras horríveis que foram trocadas entre nós. No entanto, parece que o amor prevalece sobre o preconceito. Pelo menos era o que eu gostaria de acreditar.

Alguns anos atrás...

Hoje é o momento decisivo, não posso mais adiar isso e preciso me assumir de uma vez por todas. Meu armário está coberto de poeira, mas brincadeiras à parte, chegou a hora de enfrentar essa situação de frente. Meu pai já sabia sobre mim, ele me viu beijando Verônica quando eu estava bêbada, e, surpreendentemente, reagiu bem. Disse que me amava, independentemente de qualquer coisa. Ele é o melhor pai do mundo. Pedi ajuda a ele, pois sei que minha mãe é um pouco complicada e sempre mostrou resistência em relação aos gays. Ela acredita que não são normais, que Deus criou o homem e a mulher por uma razão...

Provavelmente, ela vai me dizer coisas horríveis, me xingar; é inevitável. No entanto, não posso mais esconder quem sou, ela precisa saber a verdade antes que descubra por outras pessoas. Saí do meu quarto e caminhei calmamente até a cozinha, onde minha mãe preparava o almoço. Sentei-me à mesa e observei toda a sua delicadeza ao cortar os legumes. Meu pai estava secando a louça e ambos estavam rindo de alguma coisa. Fiz uma pequena pausa, pigarreando para chamar a atenção deles, e ambos sorriram para mim.

ㅡ Quer alguma coisa, querida? - Perguntou minha mãe, e eu assenti. Ela largou as panelas no fogo e sentou-se à mesa.

ㅡ Eu preciso te contar uma coisa, eu sei que você não aprova, mas precisa saber... - Comecei.

ㅡ Não me diga que está grávida, sempre te ensinei a se cuidar - ela disse, rindo. Olhei para meu pai, que balançou a cabeça, encorajando-me a continuar.

ㅡ Eu sou gay, eu gosto de mulheres e não espero que entenda, apenas que me respeite - Confessei.

Seus olhos se arregalaram e ela se levantou bruscamente, jogando o pano de prato que segurava na mesa com fúria.

ㅡ Isso é algum tipo de brincadeira? Acha engraçado, Lauren? - Perguntou, furiosa.

ㅡ Querida, Lauren está falando sério. Eu a vi beijando uma garota, fiquei confuso no início, mas entendi que ela nasceu assim - Meu pai disse, colocando a mão no ombro de Clara. Ela parecia prestes a explodir.

ㅡ Nasceu assim? Está ficando louco se acha que irei aceitar essa pouca vergonha em minha casa. Eu vou chamar o pastor... Ele vai tirar isso de seu corpo, filha - Ameaçou.

ㅡ Não tem nada no meu corpo, eu sou assim e sempre vou ser. Não importa que chame até mesmo o Papa, ligue para o presidente ou me leve a um hospício, não pode mudar quem eu sou - Respondi, irritada. Como ela não podia entender? Ela é minha mãe e deveria me apoiar.

ㅡ Você não é assim, Lauren. Você é uma garotinha doce que jamais falaria dessa forma comigo. O que foi que fizemos de errado? Eu te criei tão bem, não é possível... É tudo culpa daquela pervertida da Iglesias, não é? Ela que te levou ao mau caminho - Acusou, apontando dedos.

ㅡ Eu deixei de ser essa garotinha há muito tempo, você só esteve ocupada demais olhando para o próprio nariz. Verônica foi a primeira a perceber o quanto eu estava mal por guardar tudo isso para mim. Não coloque a culpa nos outros por ser ignorante ao ponto de não aceitar a sua própria filha - Declarei, com lágrimas nos olhos.

Nesse momento, minha mãe me puxou pelo braço, com um olhar mortal. Uma lágrima escapou ao sentir o tapa forte em minha bochecha direita.

ㅡ Nunca mais ouse falar dessa forma comigo! É melhor você arrumar suas coisas e sair dessa casa- Ela determinou, dando as costas e voltando à cozinha como se nada tivesse acontecido.

Corri para o meu quarto em prantos, tentando evitar ouvir a discussão que se iniciava no cômodo inferior. Peguei uma mala grande e coloquei o máximo de coisas que consegui, incluindo uma blusa de frio e calcei meus tênis.

Parei no meio da escada ao ouvir os berros de meus pais brigando.

ㅡ VOCÊ ENLOUQUECEU! NÃO PODE BATER EM NOSSA FILHA, ELA É APENAS UMA ADOLESCENTE! - Copos de vidro foram ao chão, meu pai estava furioso. Ele sempre foi meu maior protetor, e, apesar de amar minha mãe, não a perdoaria tão facilmente.

ㅡ ELA NÃO SABE O QUE ESTÁ FAZENDO, PRECISA SENTIR DOR PARA APRENDER!"

ㅡ SINCERAMENTE, CLARA, EU NÃO TE RECONHEÇO MAIS. ELA VAI FICAR!

ㅡ ELA VAI SAIR DESSA CASA E PONTO FINAL! SE RECLAMAR, VOCÊ VAI JUNTO!

Suspirei tristemente e entrei na cozinha. Ambos olharam para mim e minha mala.

ㅡ Eu estou indo, te amo, Papai. Muito obrigada por me entender, você é meu herói - Disse, abraçando-o e chorando em seu ombro. Meu pai me pegou no colo e me rodou, como costumava fazer quando eu era criança.

ㅡ Você sempre será minha pessoa favorita na Terra, Lolo. Amo você.

Após nos despedirmos, abri a porta e lancei um último olhar para minha mãe, mas não disse nada. Ela sequer me olhou. Saí de casa e atravessei a rua, encontrando abrigo no único lugar que me deixava extremamente feliz, a casa de minha melhor amiga.

Bati na porta e Verônica me olhou assustada ao me ver chorando. Ela me abraçou forte e eu retribuí.

ㅡ O que aconteceu, Laur? - Perguntou, secando minhas lágrimas e observando minha mala.  ㅡ Está se mudando para minha casa?

ㅡ Na verdade... se tiver um lugar para mim... Minha mãe me expulsou de casa.

ㅡ O que? É claro que pode ficar aqui, minha mãe te idólatra e meu pai é seu maior fã. Vamos, irei preparar o quarto de hóspedes.

Entrei na casa e sorri para a minha amiga, sua mãe observava quieta e veio me abraçar assim que Vero deixou o lugar.

ㅡ Vai ficar tudo bem, Lauren. Eu vou cuidar de você como se fosse a minha filha.

Beyond time  ㅡ CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora