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ADAM

— Adam!

A voz de Dylan penetrou na lembrança que meu cérebro revivia incansavelmente.

— O que foi? — questionei irritado mais comigo do que com sua entonação.

Não tinha o costume de ficar pensando em olhos e bocas por mais de um minuto e o fato de não conseguir desviar os pensamentos me deixava confuso e raivoso.

— Eu que pergunto. Estou a cinco minutos te chamando e você parece estar em outro mundo. Tudo isso por conta da garota do esbarrão? — Dylan quis saber já cheio de curiosidade.

— Óbvio que não. — neguei achando tudo muito ridículo. — Garotas daquele tipo estão fora dos limites e você sabe bem o motivo.

— Não foi o que pareceu. — ele comentou intrigado.

— Não faço a mais remota ideia do que está falando.

— Você ficou babando feito um São Bernardo quando a viu. E além do mais, ela não é de se jogar fora. Com um trato no visual, poderia colocar a Sam no bolso fácil.

— Ah claro, e Papai Noel irá jantar lá em casa amanhã.

— Você sabe que falo a verdade. — ele insistiu. — Garotas como aquela...

— Vamos mudar de assunto, por favor. — interrompi sua fala, rezando para que ele cooperasse.

Dylan ficou um momento em silêncio e eu liguei o som para impossibilitá-lo de retomar o assunto. A melodia dos anos 80 inicia e a voz de Bon Jovi invade o ambiente. Dylan imediatamente aumenta o volume e começamos a cantar a todo pulmão como dois malucos.

Sim, nós éramos verdadeiros tietes da banda. Os caras simplesmente eram o máximo. Na verdade, quase todas as bandas de rock dos anos 80 me deixava animado, porque as canções faziam sentido e os caras tocavam mais por amor do que por fama e dinheiro. Hoje em dia tudo o que importava era lucrar com letras rasas e melodias chicletes que só serviam para deixar as pessoas alienadas. Salvo algumas raras exceções, claro.

Continuamos cantando até estacionar na entrada do aeroporto.

— Ih, a Tampinha está puta Dylan. — constatei ao ver Moira de braços cruzados e batendo o pé freneticamente na entrada do aeroporto, já com suas malas ao redor.

— Merda, a culpa é todinha sua, seu mané. Se ela me deixar sem sexo por conta de sua compulsão por xavecar, voou vender sua preciosa coleção de quadrinhos no eBay até o fim de semana.

— Você trouxe flores, não trouxe? Garotas amam essas coisas. — Moira nem vai reparar no atraso quando as receber. — afirmei tranquilo antes de abrir a porta da sua caríssima Land Rover.

O cara era mesmo dominado pela namorada. Teve a oportunidade de ficar com um R8 spyder preto maravilhoso em seu aniversário, mas optou pelo SUV branco totalmente tedioso apesar de bonito pelo simples fato de que a namorada havia achado o primeiro modelo nada adequado a um cara comprometido. Onde já se viu tamanho absurdo? Garota alguma me faria desistir de um carro foda, não importa quão gostosa fosse.

Moira detinha todo o poder naquela relação e não fazia cerimônia em se valer do trunfo. Ela mantinha Dylan atado à sua coleira como um cachorrinho de madame, permitindo raros momentos de liberdade.

Isso não me chocava. Garotas são, por natureza, controladoras, críticas e obsessivas. Mal conhecem um cara e já começam a imaginar como serão os filhos, qual a casa perfeita, que bairro oferecerá a melhor vizinhança e qual escola proporcionará a melhor educação aos pirralhos catarrentos que terão... São totalmente incoerentes e esse era apenas um dos motivos pelos quais não entrava em relacionamentos. O que me deixava realmente abismado era o fato de Dylan não se incomodar com as correntes. E mais. Ele parecia até gostar.

Sete Minutos no Céu || 1||Onde histórias criam vida. Descubra agora