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"Por favor, reaja!"

Eu gritava a plenos pulmões enquanto tentava sem sucesso encontrar um meio de libertá-la das ferragens. A água subia cada vez mais rápido e logo não conseguiríamos submergir com vida.

"Vai ficar tudo bem." Era o mantra que repetia simultaneamente na intenção de encontrar a calma necessária para conseguir destravar seu cinto de segurança e voltar a atenção para o que quer que estivesse impedindo-a de sair, mas a contínua inundação impossibilitou.

A água chegava até a cintura. Não havia meios de tirá-la a tempo.

Voltei os olhos para o rosto outrora tão lindo, agora parcialmente coberto pelo sangue que minava de um profundo corte na fronte e tentei acordá-la mais uma vez. Um gemido baixo e fraco fora a única chama de esperança que ela me entregou, mas forte o suficiente para que lutasse com mais afinco.

"Irei tentar te libertar por fora. Não se preocupe, não te deixarei."

Prometi antes de passar pelo espaço da janela de minha porta sentindo os cortes que os fragmentos restantes do vidro proporcionaram. O lago não era tão profundo, mas tinha metros o suficiente para ceifar vidas. Se eu não me apressasse, a dela seria tomada em minutos.

Contornei o veículo, já todo submerso e alcancei a porta do motorista. Tentei abrir, mas não consegui. Algo estava impedindo.

Eu gritava na medida em que crescíamos em profundidade. Batia e batia na intenção de desemperrar a peça, mas a única coisa que conseguia era ferir-me ainda mais.

Sabia que morreríamos. Ambas. Eu não a deixaria. Nunca

De repente, braços circundaram meu corpo me fazendo entender que alguém havia aparecido para o salvamento.

"Ela! Ajude-a!"

Tentava implorar, mas a água impedia que qualquer palavra fosse dita. Os braços me puxaram para a superfície enquanto eu desesperadamente tentava não abandoná-la. Aquela morada seria de nós duas. Eu não existiria em um mundo em que ela não estivesse.

A crescente perda dos sentidos promovida pelo afogamento minou as forças que ainda me restavam fazendo com que eu desapegasse da porta e começasse a submergir. Em um último vislumbre de seu rosto, consegui visualizar o momento em que os olhos se abriram e sua boca proferiu uma última frase.

"Vingue-me. Faça o pagar!"

Sete Minutos no Céu || 1||Onde histórias criam vida. Descubra agora