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ADAM


O som abafado dos socos ecoou por todo o ginásio enquanto eu liberava o restante da energia que o treino extenuante e improdutivo não conseguiu drenar. A raiva e a decepção agitavam meu íntimo a cada vez que um golpe era desferido contra o saco de areia. Elas não iam embora. Não importava a força impressa nos punhos ou nas pernas, os sentimentos destrutivos continuavam a desempenhar seu papel. Apenas a presença dela me tiraria desse estado claustrofóbico.

Três longos e frustrantes dias que não a via e tudo por conta da minha completa falta de cautela. Eve não estava pronta. Ainda era cedo para aquele tipo de declaração, mas eu havia sido pego em um momento de fragilidade onde as palavras simplesmente escaparam como se possuíssem vida própria.

Ouvir eu te amo quando sua vida fora repleta de dor e perdas não era fácil. Era doloroso e completamente impossível de se acreditar principalmente quando retribuído e eu sabia, pelo olhar que me direcionou naquele momento, que era correspondido.

Mesmo não desejando, Eve me amava e isso foi a única coisa que me impediu de desmoronar ante a reação horrorizada que protagonizou, obrigando-me a concordar em não mais repetir as tão temidas palavras.

Assim como eu, Eve assimilava amor à perda e quando a ouvi pedir uns dias de distância para reflexão, entendi que havia ultrapassado precocemente, limites autoimpostos.

— Não será uma noite fácil para os sacos de areia, afinal. — a voz de Dylan me fez pausar a sequência de chutes e cruzados que freneticamente havia iniciado. Ele estava com os punhos enfaixados e ainda suado do esforço em campo. A única coisa de diferente era a presença do moletom.

Voltei para o saco e reiniciei a série demonstrando mínima vontade em falar. Dylan deixou a mochila cair no canto e se aproximou de outro saco iniciando sua sequência de golpes e ficamos ali, descontando nos pobres objetos, nossas dores e decepções. Já era tarde da noite quando a exaustão nos obrigou a ceder e enfim permitir o diálogo.

— Quer sair e encher a cara? — ele questionou logo que respirar ficou menos dificultoso.

Aceitei retirando a faixa das mãos enquanto pensava que um pouco de diversão seria melhor do que passar a noite em claro.

O Juliu's estava em seu movimento habitual para os dias da semana. Os caras do time se encontravam em uma mesa próxima, rodeados de garotas à exceção de James que não desgrudava os olhos e os dedos do celular, provavelmente preso em uma conversa com Moira. Os dois andavam cada dia mais próximos e por incrível que pudesse parecer, o comportamento do meu colega de time havia mudado drasticamente da devassidão para a monogamia para tristeza das aspirantes a garota da semana e desespero de Dylan.

— Não se juntarão ao time essa noite? — Juliu questionou assim que nos viu buscar bancos a frente do balcão.

— Não. — Dylan esclareceu batendo em minhas costas. — Estamos em um campeonato de vida mais fodida e não queremos companhia.

— Algo mais forte, então?

— Por favor. — pedi antes de ouvir a negação de Dylan fazendo-me fita-lo de forma interrogativa.

— Alguém tem que ficar sóbrio para chegarmos em casa a salvo. — ele justificou antes de pedir uma bebida sem álcool. — Então... quem começa a jogada?

Uma expressão desgostosa tomou meu semblante dando a deixa para que ele iniciasse as lamentações. Não estava pronto para falar ainda. Antes precisava de umas doses.

Sete Minutos no Céu || 1||Onde histórias criam vida. Descubra agora