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ADAM


— Está atrasado. — Otavian afirmou o óbvio ao me ver chegar.

Era a primeira vez que ia ao Chez Panisse e a companhia não poderia ser a pior. O restaurante era bastante famoso e acabara de ser reaberto após um incêndio ocorrido há três meses. Sua fachada exalava um requinte e originalidade que se estendia aos seus dois andares. No térreo funcionava o restaurante e no segundo andar havia um bar/café bem mais descontraído. O interior revestido de madeira e decorado com lanternas e abajures dava ao ambiente uma sensação aconchegante e intimista, perfeito para encontros românticos - o tornando no lugar preferido das garotas -, mas altamente sufocante para encontrar um pai ditador.

Aposto que já contava com isso, não? — respondi com indiferença ao me sentar à mesa observando a pouca movimentação do lugar tão contrastante à loucura que deveria estar o Juliu's àquele horário. Realmente nem todos podiam gastar quatrocentos dólares em uma porção de comida para passarinho.

— Soube que Spencer nomeou um sagueiro como capitão. — Ele comentou tentando iniciar uma conversa amigável e até funcionaria se eu tivesse paciência para papo furado.

— Claro que soube. — desdenhei.

— E o que fez para perder a braçadeira?

— De acordo com ele, sou narcisista e indisciplinado, mas a verdade é que ele está puto por eu ter desobedecido sua ordem no último jogo e tornado os Golden Bears campeões da liga.

— Se me lembro, foi graças a sua insubordinação que ele adicionou mais um troféu na estante. — ressaltou confuso.

— Foi o que joguei na cara dele, mas Spencer quer que eu banque a babá dos caras e sinceramente não estou a fim de fazer meu ouvido de penico.

— Contenha esse linguajar lamentável. Não invisto alto em sua educação para que aprenda a falar como um desordeiro.

— Foi mal. A pré-escola foi de péssima qualidade porque mamãe teve que escolher entre termos o que comer ou me matricular em colégio de bacana, já que meu amado pai tocou o fodase e sumiu.

Minha paciência estava se esgotando como sempre acontecia quando ficávamos nessa situação. Por que fingir que se importava quando sabíamos que não era verdade?

Otavian inspirou profundamente e soltou o ar de maneira lenta tentando ser paciente embora eu soubesse que ele também não suportava minha presença.

— Precisamos conversar, mas antes quero ver sua grade curricular. —  anunciou antes de colocar a mão dentro do termo Armani caríssimo e puxar seu celular.

Peguei o meu e enviei uma cópia digital para seu número e aguardei o julgamento que sabia estar por vir.

— Cancele a matrícula em Fotografia. É um total desperdício de tempo. — ele ordenou sem ao menos tirar os olhos da tela.

— Nosso trato só diz respeito ao cumprimento da maldita carga horária integral. Disciplinas optativas passam longe da sua jurisdição, sendo assim, não se meta onde não lhe cabe.

— Tenho planos para você nesse semestre, algo realmente produtivo, preciso que haja espaços na sua agenda.

— Mude-os então, pois não vou perder horas da minha vida em seu escritório vendo-o dominar o mundo. Já falei que só começo nesse estágio no último ano.

Sete Minutos no Céu || 1||Onde histórias criam vida. Descubra agora