O amor procura o amor como o estudante que para a escola corre: num instante. Mas,ao se afastar dele, o amor parece que se transforma em colegial refece.
𖥸Calliope poderia dizer que nunca dormiu pior em toda a sua vida.
Seus membros doíam e estalavam completamente como se tivesse sido esmagada entre uma compressa e o asfalto, seu pescoço parecia travado, impedindo que ela o virasse, e sua cabeça retumbava como um tambor desgovernado. Antes que pudesse abrir os olhos castanhos, escutou três batidas fortes na madeira da porta do quarto, tirando dela um suspiro algo e dolorido.
Apertando os olhos por conta do sol forte escorrendo pela janela de vidro que, inconscientemente, esquecera de fechar noite passada, ela murmura algo quase que inaudível, se colocando em pé e buscando o hobbie preto com as mãos cegas. Porém, as batidas não cessaram.
- Inferno, não me ouviu? Eu disse que já... - sua voz morre na garganta, à medida que gira a maçaneta da porta, abrindo-a e deparando-se com a imagem do menino de sorriso torto e culpado - Você sabe que horas são?
- Nove e trinta e sete da manhã. O que indica que estamos sete minutos atrasados - ele constata, arqueando as sobrancelhas grossas ao fitar a mulher coberta pelo hobbie vinho e pantufas pretas - Não me diga que ainda estava dormindo.
Calliope franze o cenho.
Atrasados?
- Eu não - ela coça a nuca, fazendo uma careta desgostosa pela fisgada repentina no local. Ainda conseguia sentir as marcas, mesmo que internamente, e isso a fazia querer arrancar o pescoço fora de vez em quando - é, eu estava dormindo - confessa, culpada.
- Claro que estava - o menino ri, revirando os olhos cor de chocolate. Calliope percebeu como, especialmente naquele dia, ele parecia devidamente arrumado dentro de seus jeans escuros, suéter vinho e óculos de grau em armação redonda. A familiaridade daquele par de óculos e daquele sorriso de lado a tirou um sorriso nostálgico. Ela estende a mão esquerda, acariciando a bochecha do garoto com a palma gélida.
- Você está bonito.
Ele ri nervoso, arrumando a armação dos óculos. Calliope recolhe sua mão, a guardando dentro do bolso do hobbie.
Timeus era a materialização de seu maior arrependimento, de sua memória rompida e tentava fracassada de esquecimento. O menino era esguio, até mesmo para sua pouca idade - quinze anos e três meses - tinha cabelos crepos sedosos, olhos profundos e grandes, pele cor de chocolate terno, mãos grandes e sorriso torto que só o deixava ainda mais adorável. Tim era o tipo de garoto que odiava arrumar brigas e preferia passar seu precioso tempo trancado em seu quarto, revistando revistas antigas de super-heróis ou estudando para uma prova que, provavelmente, o mesmo se daria bem sem muito esforço. Apesar de ser bastante tímido e recluso, o garoto era feroz e faminto quando se tratava de sua família. Abandonava a timidez e se transformava em um verdadeiro leão, como Calliope sempre gostava de dizer. Apesar de a mais velha dos Burns ser uma das melhores caçadores que o Clã já viu, Tim poderia se comparar à mesma quando mexiam com as pessoas que o mesmo se importava.
- Obrigado, mãe - o garoto rebate, negando com cabeça - Mas será que podemos ir? Eu disse que não podíamos nos atrasar hoje, você lembra? - ela franze a testa. Não, não lembrava, e isso era estranho.
- Ah, certo. Mas pode só me recordar, hum, do motivo? Ainda estou meio zonza - o garoto estica o livro de capa azul - O debate!
- Isso. O debate que vai começar em - ele afasta a manga do suéter para fitar o relógio prata no pulso - quinze minutos.
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Fechando o ciclo
RomanceCalliope e Juliette tiveram um amor adolescente, puro e passageiro. Amor esse que fora transformado em ódio no instante em que Juliette resolveu transformar o irmão de Calliope em um vampiro, transformando-o no monstro que Calliope sempre temeu e fo...