First regret

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Romeu: Eu amo uma mulher mas ela jurou não amar ninguém.
Benvólio: Aprenda a esquecê-la.
Romeu: Oh, ensina-me como eu poderia esquecer de pensar!


𖥸

Os olhos esverdeados fitavam a xícara de café preto e quente em sua frente. Ela passava o indicador pálido de unhas pintadas de vermelho sangue pela borda da xícara branca, questionando a existência e tudo que se alastarava pela mesma, até que teve o rompimento de pensamentos por uma segunda presença dentro de seu espaço pessoal.

- Me lembre o motivo de estar usando óculos escuros em uma cafeteria fechada.

Ela solta uma rápida risada anasalada, retirando os óculos escuros com cuidado e os colocando em sua frente, passando as mãos pelos fios castanhos que escorriam pelo coque, caindo, irreparável, por seus olhos.

- Achei que já tínhamos conversado sobre toda aquela coisa de vampiros.

O garoto arquea as sobrancelhas bem desenhadas, tendo o canudo do milkshake entre os lábios róseos.

- Certo. E achei que já tínhamos combinado que minha mãe não é nenhum Edward Cullen. Você pode receber sol tranquilamente, não pode? - seu tom de voz sai questionador, à medida que ele entortava a cabeça, exatamente como a mulher fazia quando estava em dúvida sobre algo.

- Não quando estou me recuperando de uma ressaca - ele abre os braços, constatando, finalmente, a verdade pelos lábios da mãe - Certo. Me pegou, Will.

- Obrigado - ela o segura no queixo, passando o guardanapo pelo local sujo de chocolate e baunilha, tirando do garoto uma careta nada agradável - Fala sério, mãe...

- O que? Você estava sujo - constata, arqueando as sobrancelhas.

- Não sou mais uma criança, ok? - ele toma o guardanapo de suas mãos - Posso me limpar sozinho.

A mulher estica as mãos em rendição.

- Certo, senhor independente. Você pode pagar nossa conta também.

- Essa honra eu deixo para você, mas obrigado.

- Há há.

A risada do garoto a faz, abruptamente, mergulhar mais uma vez em memórias. Ela observa os fios lisos de William muito bem postos em um topete para cima, sua covinha na bochecha esquerda, seu queixo modelado, seus lábios finos e roseos e seus olhos esverdeados. William era, verdadeiramente, uma cópia quase que fiel sua - por mais maluco que pudesse parecer, decorrendo da história de ambos -, e ela mesma ainda se surpreendia com a constatação diária desse fato.

Até mesmo o senso estranho e singular de humor dos dois era parecido, apesar de divergirem em um punhado de ideias, William poderia muito bem compartilhar de seu sangue, Juliette sequer desconfiaria. O garoto era doce, responsável - mesmo tendo pouca idade -, carinhoso e dedicado. Jules não podia pedir nada mais que aquilo, seu filho era seu maior orgulho, seu maior legado.

- Acho melhor irmos. Não quero perder o horário - ele informa, passando as mãos pela calça de linho preta.

- Certo. Vamos lá. Aqui - ela o entrega o cartão dourado e se coloca de pé - Vá pagar, senhor independente. Vou ao banheiro, não demoro.

Fechando o ciclo Onde histórias criam vida. Descubra agora