We'll be okay
together.𖥸
Já fazia uma semana desde o jantar. Uma semana desde o beijo desesperado e repleto de saudade que as duas trocaram contra o balcão da cozinha de Juliette. Nesse meio tempo, não conseguiram tirar tempo para as duas. Entre a rotina enfadonha do trabalho prolongado e filhos para cuidar, elas conseguiam trocar rápidas mensagens se certificando se estava tudo bem mesmo entre as duas. Se o momento que dividiram não havia passado de um sonho. Faziam ligações duradouras antes de dormir, como duas adolescentes apaixonadas, e se olhavam ainda como se fosse a primeira vez. Ouvir falar de Juliette, sempre aquecia o coração de Calliope. Ouvir falar de Calliope, sempre esfriava o sangue de Juliette.
Com o pensamento agitado, Calliope andava rapidamente pelo estacionamento do trabalho. Ela observava o horário no relógio do pulso, quando ouviu o nome ser chamado e os passos tiveram que ser estancados em contrapartida.
- Você tem um minuto? - ela cerra os lábios, perguntando à deusa por que não havia escolhido deixar o carro mais perto naquele dia. Poderia ter evitado isso acontecer.
Porém, ao invés de correr para longe, tudo que ela faz é dar meia volta, ficando de frente para a figura coberta pela sombra do poste de luz amarelada. Ela observa a blusa branca, as calças gastas e o sapato antigo. O óculos de grau parecia meio embaçado, talvez pelo frio, ela imaginou.
- O que está fazendo aqui, Theo? - o homem guarda as mãos dentro dos bolsos frontais do jeans, parecendo sem jeito.
- Na verdade, tentei falar com você a semana inteira. Oliver me deu um número de telefone - ela cerra os olhos - Ele meio que... consegue essas coisas - ela fez uma anotação mental sobre mudar o número do telefone assim que pudesse - Como você está?
- Atrasada para o jantar - ela retira a chave do carro do bolso do sobretudo, e se vira para sair dali, mas a frase que sai dos lábios do irmão a impede de prosseguir mais uma vez.
- Certo. Atrasada para o seu filho - ela morde a língua - O garoto que conheci no outro dia.
- O que você quer, Theo? - ela repete. Dessa vez, sua voz sai baixa, arranhada, quase que dolorida.
- Uma chance - Calliope o olha - Preciso falar com você, ver Apollo mais uma vez.
- Sabe, você sempre pode ir até ele. Por que eu preciso ser a mediadora disso? - Theo arquea as sobrancelhas.
- Porque não é só com ele que quero conversar, Calliope. Você é minha irmã, não nos vemos há vinte anos e parece que eu sou um estranho aos seus olhos - ela solta uma risada irônica.
- Porque você é.
- Cal...
- Olha, eu estou cansada, tudo bem? - ela arruma a bolsa nos ombros. O semblante em seu rosto dizia que ela havia cansado de debater com o fantasma. Só precisava de um banho e chegar em sua casa, somente isso - Nós podemos conversar outro dia?
- Amanhã - ela suspira - Podemos tomar um café. O horário que você puder - ela volta a fitar o relógio em seu pulso, se dando por vencida.
Vencida pelo cansaço.
- Uma e meia saio para almoçar. Você terá dez minutos - ela sorri de lado, mostrando a covinha profunda na bochecha - Tenha uma boa noite, Theseus.
- Você também, Cal.
Ela marcha até o carro, tentando não olhar para trás. Tinha certeza que o homem ainda a observava com um daqueles seus olhares caídos que sempre tiravam de Calliope tudo que ele queria. Ela joga a bolsa no banco do motorista, arruma o retrovisor, e liga os faróis, percebendo que Theo já havia desaparecido.
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Fechando o ciclo
RomanceCalliope e Juliette tiveram um amor adolescente, puro e passageiro. Amor esse que fora transformado em ódio no instante em que Juliette resolveu transformar o irmão de Calliope em um vampiro, transformando-o no monstro que Calliope sempre temeu e fo...