First Conversation

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Será que o meu coração realmente tinha amado até agora? Pois eu nunca vi beleza tão pura até esta noite.

𖥸

- "Oh, onde está Romeu?...Quieto, perdi eu mesmo, não estou aqui e não sou Romeu." “Romeu, Romeu? Por que és Romeu? Renega teu pai e abdica de teu nome; ou se não o quiseres, jura me amar e não serei mais um Capuleto (...) Teu nome apenas é meu inimigo. Tu não és um Montecchio, és tu mesmo (...) Ó! Sê algum outro nome! O que há num nome? O que chamamos uma rosa teria o mesmo perfume sob outro nome (...). Romeu, renuncia a teu nome; e em lugar deste nome, que não faz parte de ti, toma-me toda!"

- Uou, a Julieta era mesmo bem profunda.

- Ela o amava profundamente e não se importava com sobrenomes, assim como ele também a amava.

- O problema era as famílias.

- O problema era as famílias - Jules arruma a cabeça que estava descansando em cima da barriga da amada, que tinha o livro favorito de ambas aberto, lendo para a mesma em um tarde qualquer, após a escola.

- Não gosto do final. Sempre paro antes de ler o fim.

- É bem trágico. Amor nenhum deveria ser trágico.

- Parece que você é minha Capuleto - Juliette faz careta, levantando o olhar para fitar uma Calliope séria. Séria até demais - Não é?

- Não acho que eu queira ser.

- Nosso amor é como o deles: proibido. Nossos pais jamais aceitariam, e existe toda uma linhagem de vampiros e caçadores, Jules. Nós somos diferentes, nossos ancestrais sempre se odiaram, sempre mataram entre si.

- É, mas não somos eles, Cal.

Cal coça o queixo, largando o livro.

- Não.

- E eu te amo. Digo, você não me ama de volta? - Calliope sorri de lado, puxando a nuca da namorada para desferir um selinho casto em seus lábios roseos.

- É, eu te amo também, Jules Fairmont.

- Ótimo. Entre nós não existe família, nem ancestrais estranhos que se matavam entre si, nem nada disso. Quando estamos sozinhas, só precisamos ser Jules e Cal, certo?

- Certo. Só precisamos ser Jules e Cal.

𖥸

- Mãe, parece que temos que conversar.

Juliette fora trazida de volta à realidade pela voz baixa e entrecortada do filho. Ainda encostada contra a porta fria, ela levanta o olhar para William, lábios entreabertos, queixo trêmulo e mãos cerradas.

- Vá buscar minhas cápsulas, William.

- Mas, mãe...

- William - o garoto acena brevemente com a cabeça, contra sua vontade, correndo escada acima sob o olhar angustiado da mãe.

Juliette tremia da cabeça aos pés.

Se sentia exatamente como um viciado após alguns instantes sem sua droga. Seu corpo tremulava como se estivesse no meio de uma noite fria, nua, sozinha e desprotegida. Sem aguentar o próprio peso nos próprios joelhos, ela acaba caindo sentada no chão de madeira, encostando a cabeça contra a porta e fechando os olhos com força. Sentia as unhas afiadas entrando contra a palma da mão, o coração acelerado e uma lágrima fina escorrer por sua bochecha até aspirar o perfume amadeirado e familiar perto de si.

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