O balde de peixes exala seu odor distinto diretamente nas narinas da jovem adalena, aquele era o pior trabalho que ela poderia realizar na vila: carregamento de peixes. A vila de pescadores era minúscula e ocupava uma curva do rio Heleno que serpenteava desde a Cidade Branca, ou mais conhecida como capital de Helenia. Ao sul, bem distante, ficava a cidade de Svera, a capital do reino humano de Lamary. Evya morava naquela pequena vila há alguns anos, e era graças aquela pequena vila fedida que ela ainda estava viva.
Mas em realidade, a jovem adalena que se recusava a fazer amigos e formar laços naquela vila, habitava uma cabana distante, cerca de duas horas de caminhada da vila. A cabana no meio da floresta pertencia a uma velha curandeira que se recusava a morrer. A velha adalena era com certeza centenária, um exemplo vivo da longevidade dos elfos. Evya morava com aquela curandeira, que lentamente estava passando seu conhecimento adiante, através da jovem que agora dividia sua cabana com ela.
E o odor maravilhoso dos peixes do rio Heleno voltou a sufocar a adalena, aqueles poucos grollins que ela faria carregando baldes de peixes pela vila seria suficiente para comprar o resto dos suprimentos para a cabana. Apesar de Evya ser muito grata a velha Ingelina, ela estava quase farta de fazer todos esses trabalhos na vila. Por que ela não poderia simplesmente vender seus serviços como curandeira? Evya certamente já sabia o suficiente para fazer muito mais do que um punhado de grollins, e melhor ela não teria que carregar peixe do atracadouro para o depósito por longas horas e feder pelo resto do dia. Só de pensar que esse cheiro ficava ainda pior no inverno, especialmente com a impossibilidade de tomar banhos.
— Eai, princesinha, tudo bom? Já pensou na minha proposta?
O balde desceu com força na lama a frente do pescador. Evya ainda tinha que lidar com aquilo. Todo final de temporada de pesca dezenas de pescadores voltavam para suas casas, e é claro que em seu tempo ocioso esses pescadores buscavam diversões. Mas Evya não era esse tipo de garota, e nunca seria. Na verdade, era difícil encontrar uma garota na vila que fosse esse tipo de donzela que os pescadores buscavam, por isso muitos, nesse tempo ocioso viajavam para a Cidade Branca, mas não todos.
— Eu já disse que não, Have. Nem por um barco cheio de peixes eu me casaria com você.
— Oras. — Have se moveu para bloquear o caminho da adalena. — Você pensou com carinho? Minha casa é logo ali, posso te mostrar mais alguns motivos para aceitar minha oferta...
— Não me toque, Have. Você me enoja. — Evya se esquivou do elfo loiro, mas ele foi mais rápido. Have agarrou seu braço esquerdo com força.
— Não fale assim comigo, garota, ou vou lhe ensinar bons modos aqui mesmo. — Have falou por entre os dentes, mas não querendo atrair atenção para aquela situação, largou o braço da menina e saiu do caminho dela. Evya aproveitando sua chance de escapar apressou o passo sem olhar para trás, mas Have ainda desceu lhe um tapa em seu traseiro.
Para ela a vida parecia que nunca iria melhorar. As vezes ela escapava um pouco do cotidiano, fugindo da velha Ingelina e indo para o topo de uma colina, bem próximo da cordilheira Dórica. Lá de cima ela podia ver a grande floresta de Nordilia, várias curvas do rio Heleno e, em dias com ótima visibilidade, ela poderia ver um ponto branco no Norte. Aquele ponto branco era de onde Evya tinha vindo anos atrás. Ela se lembrava com alguma dificuldade da noite em que a coronel Rotha a deixou com a velha curandeira.
Evya se sentia tão assustada, era tudo tão novo. Ela se lembra de ter descido da escuna ao lado da coronel, alguns krigares as acompanharam. A vila estava dormindo, talvez um ou dois pares de olhos espiaram a procissão silenciosa caminhar pela vila e adentrar a floresta, Evya foi levada para cabana da velha curandeira quase às pressas. Ingelina foi acordada e seu mau humor não foi disfarçado. Rotha explicou com palavras rápidas para Ingelina o que estava acontecendo e a entregou uma carta, Evya não se recorda das palavras da coronel para a curandeira, embora ela tenha se esforçado incontáveis vezes. E para sua infelicidade, Ingelina queimou a carta depois de lida.
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Gardênias
FantasyEvya é uma doce e inocente adalena. Seu passado, no entanto, é repleto de sangue, morte e trevas. Sua delicada aparência esconde uma história sombria que pode alterar o destino do mundo, para melhor, ou pior. Saiba como Evya passou de nobre princes...