A janela do quarto exibia a linda paisagem que Evya estava se acostumando. Ao longe ela podia ver a grande floresta de Veros, suas altas árvores lentamente perdiam a cor com a aproximação do inverno. A adalena sentiu um calafrio na barriga, uma estranha ansiedade tomava conta da jovem, algo não estava certo, ela podia sentir. Antes da floresta de Veros, largas planícies se estendiam até a vila de Llandre, várias outras vilas ocupavam a paisagem, todas menores do que Llandre, nenhum outro castelo em vista, apenas o em que Evya estava.
A vila abaixo estava acordando, era manhã, alguns galos cantavam e as primeiras carroças saíam em direção aos portões de madeira da vila.
— Evya? Poderia me ajudar? — a voz sonolenta de Aniriel tirou Evya de seu devaneio, mas a adalena ainda não se livrara da angústia em seu âmago.
— É claro m'lady
Aniriel ainda se recuperava do ferimento na perna, Evya ainda não contara para sua nova amiga, mas as chances de que um dia ela voltasse a andar normalmente eram quase nulas. Evya foi até sua nova amiga e ajuda-a a levantar da cama, em seguida, servindo de muleta, Evya levou-a até o armário de alguma madeira nobre e juntas escolheram um vestido para a princesa.
— O que acha Evya? Está melhor?
A adalena levantou o suficiente de sua camisola para revelar o ferimento ainda aberto e infeccionado. Evya se abaixou, e tratou como de costume o ferimento, trazendo novas ervas todos os dias para tentar combater a infecção e ao mesmo tempo cicatrizar o ferimento. Para Evya aquele machucado era um dilema. Apenas uma outra vez a curandeira viu um ferimento como aquele, e ela se lembra que a única solução tinha sido amputar metade da perna do sujeito. Por sorte a armadilha não tinha prensado o osso da princesa, se não sua amiga certamente já não teria as duas pernas.
— Está melhorando Ani, acredito que dentro de um mês tu estarás andando como nunca!
— Tens certeza? Nenhum príncipe do norte desposaria uma manca. E a cicatriz! Oh! Evya, como vou encontrar um bom marido assim?
— Qualquer príncipe que se preocupe com tuas cicatrizes e ignore esse seu lindo coração e sorriso, podem pastar com os nórdicos ao sul.
Aniriel sorriu. Mesmo que a relação de ambas fosse de senhora e servente, Aniriel era jovem demais para conhecer a maldade que nobres como ela podiam exercer sobre seus serventes. E Evya era boa demais para a jovem, além de uma boa companhia, era versada na medicina e inteligente, a duquesa de Llandre enxergou isso. Médicos eram caros, serventes eram caros. Evya, por outro lado, era uma pobre coitada sem lugar para ir; dando-lhe um teto e algo para encher a barriga todos os dias, seria mais do que suficiente, isso e jogar alguns trocados todos os meses.
A dupla se apresentou ao salão do trono, se é que poderia ser chamado disso. Era pequeno, mal decorado e o trono era de madeira, pelo menos era bem iluminado. Um punhado de guardas e nobres ocupavam o salão, a duquesa Arellas sentava-se aprumada no trono, ela lançou um olhar gentil e materno a dupla de adalenas quando estas entraram no salão. Os nobres e guardas faziam a costumeira mesura enquanto Evya servia de muleta para a princesa até o trono a esquerda da duquesa.
— Como está se sentindo minha filha? Tua ferida está de alguma forma melhor?
— Estou bem mamãe, minha perna ainda dói horrivelmente, mas sinto alguma melhora.
A duquesa lançou um olhar de aprovação a Evya, mas ao mesmo tempo inquisitivo, Evya teria que se explicar mais tarde para a duquesa. Mas nada que a comprometesse, a duquesa sabia que pouco podia ser feito por sua filha, aquele era um ferimento feio e delicado. De alguma forma Arellas sabia que Evya detinha algum poder curativo peculiar que ela ainda era incapaz de decifrar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Gardênias
FantasíaEvya é uma doce e inocente adalena. Seu passado, no entanto, é repleto de sangue, morte e trevas. Sua delicada aparência esconde uma história sombria que pode alterar o destino do mundo, para melhor, ou pior. Saiba como Evya passou de nobre princes...