Biblioteca do Mosteiro

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A biblioteca era o único lugar que Evya poderia ficar escondida e ter alguma diversão ao mesmo tempo. Mesmo que os livros do mosteiro fossem chatos e não a levassem para qualquer aventura mundo a fora, eram boa companhia. Evya apenas evitava as histórias que contavam dos conflitos entre os nórdicos e os adalenos, embora algumas dessas histórias fossem interessantes. Geralmente contavam das vitórias dos nórdicos, tratando com pouco respeito os adalenos.

Sentada num canto da biblioteca, Evya mordiscava uma maçã enquanto folheava um livro que contava sobre a realeza de Damaria, o mais imponente reino nórdico dos três que compunham a união. O livro era interessante, contava de algumas intrigas familiares, de como alguns nórdicos traidores se casaram com príncipes e princesas adalenos ou de outros reinos humanos.

Com o término das orações, alguns monges e noviços entraram na biblioteca. O bibliotecário velho logo os advertiu do barulho. Evya se esgueirou para fora de seu esconderijo, atraindo alguns olhares, ela deixou a biblioteca como uma raposa espreitando sua presa.

Ela saiu para o corredor, noviços e monges ocupavam as salas de estudos. Mesmo que para Evya sua rotina fosse árdua, chata e monótona, ela não conseguia pensar numa maneira mais horrível de morrer do que aquela: se tornar monge. A rotina que eles levavam era para a vida toda, mudaria apenas quando subissem de cargo ou fossem enviados para alguma missão.

— Está lendo o quê? — a voz de Linz a pegou de surpresa.

— Ah, nada demais. Apenas algumas fofocas sobre a realeza de Damaria. — Evya mostrou a capa do livro com o título "Idas e Vindas da Família Real de Damar".

— Impressionante. Estamos em falta de genealogistas mesmo, já pensou em subir de cargo? Ouvi dizer que o velho Rubris precisa de alguma companhia, além dos livros.

Evya sorriu. Linz devia ter cerca de uma hora antes ter que realizar alguma outra tarefa entediante em algum lugar naquela mosteiro, ele geralmente a procurava para conversar, mas nem sempre a adalena estava disponível ou era encontrada pelo jovem noviço. Mas hoje o rapaz dera sorte.

— Podemos dar um volta? Acho que vou morrer se tiver que rezar mais um apánk.

— Cuidado! Se Milkos te pega falando algo assim, você já sabe para onde vai.

— Estou andando ao lado de uma adalena, isso já é risco suficiente.

— E você anda se arriscando assim à toa?

O ar de fora estava frio e pegou a adalena de surpresa, o tempo estava mudando. Uma nuvem espessa e cinza se aproximava, choveria mais tarde.

— Não, não. Bzadr me livre. Só me arrisco pelo que vale a pena.

A dupla conversou alegremente. Linz conseguia tirar alguns sorrisos da adalena, e ela distraída, não percebia que o rapaz sempre sorria de volta. A amizade deles atraia olhares de repreensão dos monges, mas os homens experientes sabiam que a juventude era difícil de se lidar. O perigo morava nos olhares invejosos dos outros noviços. Evya não se aproximava espontaneamente dos demais rapazes, mas Linz tinha um jeito de ser que a fazia se sentir leve.

Finalmente os dois pararam atrás da igreja, o jardim estava do jeito que Evya deixara, ela se lembrou de que tinha que fazer mais remédios para a menina doente da vila, mas naquele momento ela só queria esquecer da vida. Linz estava contando de como ele e seu irmão mais velho, estavam lutando contra cães selvagens lá na sua vila natal, anos atrás, antes de ser enviado para o mosteiro. A história era intrigante, mas Evya parou de prestar atenção em Linz quando ouviu a chegada de cavalos, pelo menos dois. Linz percebeu a distração no olhar da adalena.

— O que foi Evya? — o rapaz tocou suavemente a mão da adalena.

— Hãn? Nada, nada. Apenas... me lembrei de algo.


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