Em meio a uma forte chuva, um grupo não muito grande de homens passava pelos portões de entrada de Elibar. Era um número bastante reduzido em relação ao grupo que saíra vinte dias antes para reforçar as defesas da fronteira com Zordaris. Uma parte seguiu seus respectivos senhores para regressar a seus locais de origem, enquanto o restante, que compunha a Guarda Real, seguia Edwin no retorno.
Embora houvessem conseguido repelir a investida inimiga, suas tropas haviam sofrido baixas bem consideráveis. Centenas de cavaleiros pereceram na última batalha, e outros estavam gravemente feridos.
Até mesmo Edwin regressava ferido. O ombro direito doía de forma torturante onde a espada de Richard Trevelyan, rei de Zordaris, o atravessara. Só não tivera sua vida ceifada, pois o comandante Mitchell conseguira bloquear o novo ataque e seus comandados o haviam retirado do local. E, ao mesmo tempo, suas tropas conseguiam conter as de Zordaris, decretando assim a vitória de Ekhbart.
Vitória essa que, para seu rei, tinha um gosto de derrota, e a chuva intensa parecia deixar tudo ainda mais amargo. Mas, por outro lado, era melhor sem ninguém para ver a chegada do grupo. Não precisava ter o populacho lançando a eles olhares atravessados de ingratidão.
Já era vergonhoso o suficiente voltarem em número reduzido, feridos, sujos e ensopados pela chuva.
A marcha seguia em silêncio, pois era uma vitória que não poderia ser comemorada. Edwin pensava em suas tropas desfalcadas e no ultimato que recebera da Ordem dos Dragões Cinzentos.
Havia o risco de perder seus maiores aliados e precisava resolver isso. Mas não agora.
Precisava se recuperar física e mentalmente, pois havia mais problemas para resolver agora em seu regresso do que antes de sua partida, a começar pela dor excruciante em seu ombro direito... E, a julgar pela forma como o castelão vinha correndo ao seu encontro, havia algo mais com o que lidar.
*
O amanhecer de um novo dia chegou, testemunhado pelos olhos cansados de Melissa. Depois da conversa que tivera com o pai, tivera certo alívio em confessar a ele o que vivera durante a última década sob o fardo do casamento. Na verdade, o alívio fora de ambos por finalmente poderem ter uma conversa franca de pai e filha sob o olhar atento de uma discreta Agnes.
A atual esposa de seu pai até iria deixar o recinto onde os dois estavam, mas James não permitiu. Alegava que sua jovem senhora seria de grande valia para esse diálogo, devido às suas vivências passadas e que agora queria ajudar a filha, mesmo que isso custasse suas posses, sua honra, seu prestígio. O Lorde Starr não suportava mais ver sua filha se aniquilando apenas para manter sua casa numa posição privilegiada.
Ainda assim, ela também não gostava de ver que seu pai também sofria bastante por sua causa. Por isso, pensava bastante no que faria dali em diante. Sentia que precisava mudar algo em si, e isso não era de agora. Olhou para o espelho do quarto em que estava, vendo refletido nele uma imagem que por muito tempo odiava: a imagem de si mesma, cujo rosto exibia uma expressão de resignação e apatia.
Era uma expressão que mantinha fazia uma década, intercalando com sorrisos falsos protocolares e expressões enfurecidas contidas à força e pelo medo. Ela não era assim uma década atrás. Parecia que a Rainha Melissa Turner realmente havia matado dentro de si a jovem Melissa Starr, como Lucy dissera certa vez.
Ela estava simplesmente irreconhecível, embora sua aparência pouco tivesse mudado.
― Parece que vi alguma determinação em seu olhar.
Os olhos verdes de Melissa se arregalaram ao perceber que fora flagrada enquanto se encarava longamente no espelho. Era fácil reconhecer aquela mulher esguia e de cabelos prateados presos em um coque.
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Exilium
FantasyUma ascensão antecipada ao trono. Uma traição. A queda. O exílio. Dez anos se passaram desde sua queda e sua condenação injusta ao exílio. Com sede de vingança, Maximilien Turner retorna ao reino de Ekhbart, disposto a retomar o que é seu de direito...