― Como... – Edwin não conseguia esconder a surpresa ao rever aquele rosto. – Como você...?
― Nunca morri, se é isso que você quer saber. E decidi voltar. – Maximilien pousou a mão esquerda na bainha da espada à cintura enquanto sustentava seu sorriso triunfante. – Não imagina o prazer que sinto por estar de volta!
Alguns cavaleiros da Guarda Real sacaram suas espadas e as apontaram para Maximilien, que se divertia com aquela cena. Parecia a mesma cena de dez anos atrás, quando sua coroação fora impedida. Entretanto, o medo mudara de lado. Era divertido ver no rosto de Edwin e em seus demais aliados e bajuladores uma expressão de assombro.
Era divertido ver que todos que conspiraram contra ele estavam assombrados com sua aparição.
― Embainhem suas espadas. – Edwin disse aos cavaleiros enquanto buscava recuperar seu autocontrole. – Não quero que nada estrague minha festa hoje.
― Ouçam-no – Maximilien não deixava de sorrir. – Apenas daremos a todos um duelo memorável.
Os dois homens desembainharam suas espadas e Edwin agora prestava mais atenção ao seu adversário. Os traços do rosto de Maximilien não deixavam dúvidas de que era realmente aquele jovem de dezoito anos recém-completados que fora enviado ao exílio em Christel. À exceção dos traços de seu rosto, nada mais o remetia ao garoto franzino e assustado de dez anos atrás.
Seu adversário era um homem mais velho, cujos cabelos castanhos bem aparados até os ombros emolduravam o rosto bem barbeado. Muitas vezes o imaginara como um fantasma maltrapilho, que tentava assombrá-lo a cada vez que ouvia a profecia do albino metido a mago. Entretanto, ele via um homem diferente. Via, naqueles olhos verdes, algo mais do que autoconfiança.
Na capa, jogada para trás para liberar os braços de Maximilien, havia um broche prateado, com um formato facilmente reconhecível. Era a fênix com as asas abertas, como se saísse voando do meio das cinzas. Aquela era a representação da Fênix Imortal da Casa Real dos Turner. E as asas se repetiam na guarda da espada que empunhava, a qual possuía um brilhante diamante azul. E uma pedra idêntica estava no anel que usava na mão que segurava a espada.
Um anel idêntico ao seu. E ao vê-lo, percebeu que aquela joia poderia ser a sua ruína, mais cedo ou mais tarde.
Maximilien percebeu que o olhar de Edwin o perscrutava de forma atenta. Parecia querer ter certeza de que estava diante do homem condenado ao desterro uma década antes. E teve a sensação de que os olhos dele se detiveram mais no anel que usava do que na magnífica espada que empunhava.
Em dez anos, Edwin deixara o cabelo crescer e sua expressão não se suavizara em momento algum. Ele adorava respirar a atmosfera de guerra, concluiu. Sua espada tinha a lâmina mais larga que a da Fênix Imortal, e uma aparência mais simples em sua guarda e empunhadura. Mas, mesmo assim, era uma lâmina intimidadora.
E essa lâmina estava disposta a beber do seu sangue... Mas Maximilien Turner não iria permitir tal coisa.
*
Levara a mão à boca para abafar uma exclamação de surpresa ante aquela cena. E sua mão, trêmula, denunciava o que sentia naquele exato momento em que Maximilien se revelava a todos.
Sim... Era ele! Ele não estava morto!
Ela reconhecera facilmente aquele rosto, mesmo tendo se passado tanto tempo. Seus olhos ainda possuíam o verde intenso, e sua face mantinha praticamente os mesmos traços de uma década atrás. Entretanto, algo nele parecia distanciá-lo do jovem com quem convivera até então.
Melissa estivera prometida a ele e os dois se casariam tão logo ela chegasse à maioridade. Isso não levaria mais do que alguns meses após a coroação dele.
Ela fora coroada rainha, mas não pelo casamento com aquele que lhe fora prometido. Estava presa a um casamento feito através de chantagem, ao qual se submetera para evitar que o pior acontecesse à sua família.
Melissa se aniquilara em nome da honra de seus pais.
E, vendo Maximilien novamente, sentia-se numa situação ainda mais miserável. De que adiantava ser uma rainha, se perdera tudo o que era mais importante? Perdera sua liberdade, perdera aquele a quem amava... Perdera até mesmo o direito sobre seu próprio corpo.
As lágrimas que lhe embaralhavam a visão externavam uma constatação: de que já não vivia, apenas existia.
Apenas existia para viver dias mais e mais amargos.
*
Edwin deu a primeira investida, mas Maximilien bloqueou a lâmina adversária com eficiência. O príncipe dava uma mostra de que não seria um adversário tão fácil como imaginava. A cada ataque do monarca, seu adversário bloqueava os sucessivos golpes recebidos. Maximilien contra-atacou, mas Edwin também bloqueou. Os dois esgrimiam muito bem, num rápido jogo de ataque contra defesa. Era a experiência de várias batalhas contra a habilidade de quem voltara a empunhar uma espada há pouco tempo.
Assim como as espadas, as pernas de ambos os homens dançavam enquanto avançavam e recuavam, ao mesmo tempo em que tomavam cuidado para não saírem da delimitação marcada para os duelos. Todos ao redor pareciam prender a respiração e evitar piscar os olhos, para não perder nenhum movimento.
Edwin encontrava dificuldades em ter um contra-ataque efetivo, pois o desterrado era ágil. Precisava ter cuidado e descobrir uma brecha para conseguir superá-lo. Por seu lado, Maximilien também não tinha muita facilidade. Por mais que, durante sua infância e adolescência tivesse aprendido a empunhar e lutar com a espada, por dez anos não segurava uma, ainda mais em um duelo. Voltara a praticar com mais intensidade após encontrar a Fênix Imortal e ter novamente aulas de manejo de espadas com Leon.
Mesmo tendo voltado a manejar a espada há pouco tempo, percebera que estava bastante ágil e melhorara suas habilidades, o que lhe dava ainda mais confiança.
Lembrava-se do festival em homenagem ao rei, quando garoto. Um festival que, no caso, homenageava o rei Edward, seu pai. Recordava-se de cada movimento que seu pai fazia quando duelava com os desafiantes, demonstrando suas habilidades com a espada. O fato de, naquela época, as espadas usadas serem de madeira não diminuía a agilidade e precisão com as quais ele executava cada movimento e vencia seus oponentes, sem feri-los com o aço.
Os duelos eram uma divertida forma de entretenimento e nada mais. Algumas vezes Edward deixava alguns adversários – sobretudo crianças – vencerem. Até mesmo ele já duelara com o pai e se divertira muito.
Soube que, logo que assumira, Edwin mudara o sentido daqueles duelos. Eram brutais, nos quais os oponentes se digladiavam usando lâminas de verdade, em vez de espadas de madeira. Havia deixado de ser uma brincadeira para ser um espetáculo de sangue.
Mas Maximilien não iria fazer um espetáculo de sangue. Não ainda.
Entretanto, iria dar o primeiro passo rumo à sua vingança... E não havia melhor ocasião do que esta!
Maximilien aproveitou um novo ataque de Edwin e emendou um contra-ataque, cruzando as lâminas e, quando forçou a Fênix Imortal contra a espada adversária, conseguiu fazer com que ela caísse longe, desarmando seu oponente. O rei não conseguiu alcançar sua espada para prosseguir o combate, pois a lâmina de seu desafiante estava perigosamente perto de seu pescoço.
― Este é o meu presente pelo seu aniversário. –Maximilien parabenizou com ironia. – Aproveite bastante para comemorar, pois noque depender de mim, seu reinado não será longo e não terá muitos anos de vida.
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Exilium
FantasíaUma ascensão antecipada ao trono. Uma traição. A queda. O exílio. Dez anos se passaram desde sua queda e sua condenação injusta ao exílio. Com sede de vingança, Maximilien Turner retorna ao reino de Ekhbart, disposto a retomar o que é seu de direito...