Melissa recostou-se nos travesseiros de penas de ganso, buscando controlar seus temores. Ouvir aquela conversa mexera muito com ela. Se havia dúvidas de que realmente corria riscos, elas haviam desaparecido por completo.
O que fazer? Teria alguma alternativa para livrar a sua pele?
Precisava pensar no que fazer. Não podia mais ficar convivendo com uma ameaça contínua. Não poderia simplesmente fugir...
... Ou poderia?
O perigo que sua vida corria se tornou mais palpável a partir daquele momento. E, ao mesmo tempo, ressurgia em seu íntimo o desejo de liberdade. Mas, por outro lado, isso significaria a ruína para os Starr.
Porém...
Morrendo ou fugindo, a Casa de onde veio iria cair em desgraça. A morte encerrava tudo, mas uma possível fuga poderia dar-lhe uma nova chance de viver.
Se a Melissa de dez anos atrás a encontrasse, estaria totalmente envergonhada do que se tornara. Tornara-se a rainha de Ekhbart, mas não com o marido que queria. Não da forma que queria.
Aniquilar-se por seus pais fora, definitivamente, a pior coisa que fizera. Arrependia-se por não ter se rebelado naquele dia, mas já era tarde. Por mais que, anos antes, fosse uma garota de espírito livre, era uma filha obediente que sabia qual era o seu papel.
Até então, desempenhara seu papel da melhor forma possível... Entretanto, agora poderia ser morta por não ter, segundo Edwin, qualquer utilidade. Sua possível morte seria acima de qualquer suspeita, tal como ocorrera com o rei Edward Turner.
E isso poderia ocorrer durante seu período de recuperação. Por isso, precisaria pensar em algo o quanto antes!
E, neste exato momento, uma ideia começava a ocorrer em sua cabeça.
*
Na penumbra que começava a surgir logo após o crepúsculo, uma silhueta contrastava com os últimos raios de sol que ainda se recusavam a partir. O cavaleiro e seu cavalo seguiam para uma direção bem conhecida, mas por muito tempo não tomada. Seguiam o caminho com cautela, pois, naqueles tempos, todo cuidado era pouco e, mesmo estando de volta ao seu lar, era como se estivesse em solo inimigo.
Não se sentia mais tão bem-vindo como antes.
Deixou seu cavalo no lugar de costume após passar pelo lago e se dirigiu até a porta. Usou uma pequena parcela de magia e destrancou a porta principal. Normalmente acenderia o primeiro archote para transitar pela sala principal em meio à escuridão noturna, porém, o local já estava iluminado, assim como sua sala particular.
Seus olhos não ficaram surpresos ao se deparar com o homem que se levantava de sua cadeira. Pelo contrário, sorriu ao ver o albino, que disse:
― É bom revê-lo, Mestre! Espero que volte a se sentir em casa depois de tanto tempo fora!
― Certamente me sentirei mais em casa do que na casa do meu irmão. – Calvin sorriu discretamente, como costumava fazer. – Tive uma viagem longa de autodescoberta. Mas, e você? Parece estar muito falado por aqui, Luke.
O albino deu um sorriso divertido:
― Falem bem, falem mal, mas falem de mim. Apenas anunciei as verdades que deveriam ser anunciadas. A Fênix Imortal está de volta e vai lutar para recuperar o que lhe é de direito... E Maximilien está de volta, como foi dito pela visão que tive.
― Sim, está. – Calvin se dirigiu até a janela que ficava atrás de sua cadeira de espaldar alto e olhou para os vaga-lumes que voavam em meio à escuridão noturna. – Mas não será nada fácil para ele conseguir. E não falo somente do poderio militar do usurpador e dos Dragões Cinzentos.
― Eu entendo. Há o mago deles.
― Sim. Ele raramente demonstra seu poder, e é por isso que toda a cautela é necessária. De nada adianta termos poderio militar e aliados de peso, se não levarmos em consideração a magia... E devemos estar preparados para tudo. Principalmente para eventuais sacrifícios de nossa parte.
― Compreendo. E durante sua ausência não fiquei parado. Além de andar de taverna em taverna, de estalagem em estalagem e por outros lugares para espalhar o aviso sobre a chegada de Max, também procurei me aperfeiçoar. Sei que há muito mais em jogo do que a coroa do reino de Ekhbart.
― Eu me atreveria a dizer que há muito mais em jogo do que até mesmo suas visões do futuro poderiam revelar. Devemos ter muita cautela, e redobrada.
*
Impaciente, Edwin estava sentado na cadeira de espaldar alto de mogno, com vários entalhes. No topo do espaldar, havia um entalhe de uma fênix com asas abertas. O rei, embora estivesse confortável sobre o estofamento de veludo azul da cadeira, se sentia bastante desconfortável com a nova situação que começava a se desenhar naquele momento.
Convocara uma reunião de emergência do conselho, o que não demoraria a ocorrer. Precisava urgentemente tomar algumas decisões, as quais não dependiam somente dele. Não seria muito difícil conseguir a aprovação de tais decisões, visto que o Conselho era seu aliado... Ainda mais agora, com dois oposicionistas deixando seus cargos.
Embora na maioria das vezes eles se pusessem contra suas decisões, eram importantes pela experiência que possuíam. Mas agora o Conselho estava desfalcado e deveria encarar essa situação momentânea.
Afinal, integrantes do conselho poderiam ser substituídos sem problemas. Mas os homens que abandonaram seus postos deveriam ser punidos, e o seriam.
Nas mãos, segurava um pergaminho que recebera poucas horas antes, enquanto via que chegavam Roman Ravenhart, Alphonse Gardner, Jamie Neville, Nikos Bolton, Thomas Mitchell e o mago Dimitri Krone, da Ordem dos Dragões Cinzentos. Tão logo eles tomaram seus lugares, Edwin se pronunciou:
― Senhores, eu os convoquei para que comecemos imediatamente a planejar uma retaliação à agressão do reino de Zordaris ao nosso reino. Precisamos agir o quanto antes... Eu faço questão de ir ao campo de batalha retomar de uma vez por todas o que é nosso, e mostrar que somos superiores!
O rei de Ekhbart olhou para cada rosto iluminado pelos archotes estrategicamente colocados na sala de reuniões. Prosseguiu:
― Precisamos botar nossos homens em marchacontra nossos inimigos, e impor a eles uma amarga derrota!
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Exilium
FantasiaUma ascensão antecipada ao trono. Uma traição. A queda. O exílio. Dez anos se passaram desde sua queda e sua condenação injusta ao exílio. Com sede de vingança, Maximilien Turner retorna ao reino de Ekhbart, disposto a retomar o que é seu de direito...