Capítulo 12: De agitadores e favores

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— O que achou do aviso daquele branquelo, Dimitri? Acha que devemos dar crédito àquele homem?

— Vossa Graça não precisa ficar pensando naquelas palavras. – Dimitri disse com sua voz soturna. – Ele certamente fez uma encenação apenas para impressionar.

— Não me pareceu ser apenas uma encenação. – Edwin disse pensativo. – Ele conseguiu derrubar quatro cavaleiros sem nem tocar neles... E aquele brilho dos olhos me foi muito convincente.

— Apenas usou poderes para trazer mais impacto para aquela profecia fajuta, Majestade.

— Pode ser fajuta, mas os poderes daquele homem me parecem perigosos. Além do mais, estamos falando de um Amaldiçoado.

— Se Amaldiçoados fossem perigosos, Majestade – o mago de cabelos negros sorriu. – Eu já teria liquidado aquele tolo antes mesmo de aproximar de Vossa Graça.

— Sei que sim. – o rei de Ekhbart também sorriu agora mais tranquilo. – Mesmo assim, devemos ficar de olho, pois ele é um potencial agitador.

— Colocarei toda a Ordem dos Dragões Cinzentos para observar esse Amaldiçoado. Qualquer novidade a respeito desse homem, eu mandarei informa-lo, Majestade.

— Ótimo. Não podemos deixar que os agitadores desestabilizem o reino. Estamos em guerra e não podemos ter nada que nos atrapalhe a defender a parte que retomamos de Zordaris. E fique atento, porque pretendo fazer uma reunião ainda hoje.

— Como Vossa Graça quiser. Se me permite, agora eu me retirarei.

— Permissão concedida.

Enquanto Dimitri se retirava, Edwin começava a andar em círculos em seu escritório. A festa da noite anterior fora frustrante, principalmente por conta daquele Amaldiçoado. Os outros haviam festejado, mas ele não. E não era apenas isso que o incomodava.

Melissa o incomodava também. Ela parecia não fazer qualquer esforço nem mesmo para fingir alguma felicidade com o casamento. Aliás, por que ela se mostrava infeliz? Ela era a rainha de Ekhbart pelo casamento, tinha todos os privilégios e todas as coisas a que uma rainha tinha direito. Porém, sua rainha nunca estava satisfeita. Ela nunca estava satisfeita com ele e, com isso, ela até então não lhe dera um filho, um herdeiro. O que faltava para aquela mulher dar-lhe um herdeiro? Será que teria que rezar ainda mais para o deus da fertilidade?

Esperava não ter que recorrer a rituais para conseguir um herdeiro. E precisava ter um descendente logo, pois Ekhbart vivia em estado de guerra. O risco de morrer era iminente a cada batalha, que era cada vez mais feroz quando começava.

Mais uma razão para deixar um herdeiro ao trono de Ekhbart o mais breve possível.

Seus pensamentos foram interrompidos quando ouviu a porta se abrir e, por ela, entrar um homem com mais ou menos a sua estatura. Cabelos castanhos curtos, mas já bem grisalhos e olhos verdes. E no rosto sem muitas rugas, um sorriso bastante divertido e, como de costume, aquele homem não se ajoelhava diante do monarca.

— O que o traz aqui desta vez? – Edwin perguntou de forma seca.

— Negócios, Edwin. Não se esqueça de que temos há anos uma troca de favores.

— Qual favor você quer desta vez, Roman? Ainda não é suficiente para pagar aquele que me fez?

— Não, e ainda vai demorar até que você liquide a dívida que tem para comigo. Lembre-se de que você só se tornou o rei de Ekhbart graças à minha ajuda... E à ajuda da minha semente.

— Você não precisa me lembrar disso a todo instante.

— Como não? – Roman questionou com ironia. – Você age comigo como se fosse um filho ingrato. Eu consegui a proeza de transformar um Ravenhart em um Turner, corrigindo um erro do destino. Só que essa correção foi bem complexa, você sabe muito bem disso.

— É, eu sei. Mesmo assim, acho que está exigindo demais. Eu sou o rei, não sou a Casa do Tesouro do Reino!

— Mas manda na Casa do Tesouro.

— Eu mando em qualquer coisa. Sou a autoridade máxima, como deve saber.

— Não fosse por mim, não chegaria nem ao nível de plebeu. Continuaria lamentando sua maldita sorte e maldizendo Edward Turner por ter sido escorraçado. Tive que interferir e ajudá-lo, lembra?

Edwin nada respondeu, apenas continuou a encarar o homem de sessenta anos e de boa aparência, dessas capazes ainda de atrair alguns olhares femininos. Esse homem, chamado Roman, não se dava ao trabalho de reverenciá-lo, tampouco de tratá-lo formalmente. Antes o tratava de forma bastante íntima.

— Edwin, não se esqueça de que fui eu quem te deu o reino de Ekhbart nas suas mãos. Graças a mim foi possível tudo isso, desde o documento que atesta que é filho de Gladys com Edward, até o anel que usa em seu dedo. Eu me encarreguei de conduzir o filho de Gladys Turner ao que lhe é de direito e mereço ser devidamente recompensado.

— Já lhe dei o título de Lorde e muitas posses... O que quer agora?

— Quero integrar o alto escalão, o Conselho.

— Lamento, mas não há lugar para você.

— Terá de criar um lugar para mim.

— Não farei isso só porque quer.

— Terá que fazer, ou serei obrigado a cobrar ainda mais alto. E eu cobro alto, Edwin. Cobro alto para manter seu segredo trancado dos outros a sete chaves.

*

Desde cedo, o grupo formado por Maximilien, Ambrose, Leon e Calvin caminhava rumo ao porto principal de Christel. Levavam somente o estritamente necessário, e guardavam as moedas para adquirirem, além de mantimentos para a longa jornada até Ekhbart, as espadas. Os ladrões estavam à espreita o tempo todo, poderiam surpreender viajantes a qualquer momento.

Não só os ladrões, como os cavaleiros encarregados de evitar que os exilados saíssem de Christel a fim de voltar a seus reinos de origem. E diante do quarteto estavam vários desses homens. Calvin tomou a frente do grupo e fez com que seus olhos brilhassem.

— Por favor, senhores – ele disse. – Cedam a nós suas espadas, para que possamos nos defender durante a nossa jornada.

Imediatamente quatro cavaleiros desembainharam as espadas e as entregaram ao Mago Negro, para depois liberarem a passagem do grupo. Ele sorriu e disse:

— Assim que eu estalar os dedos, vocês esquecerão que nos viram. Adeus!

Logo que os quatro homens de Ekhbart seguiram caminho, Calvin estalou os dedos e os cavaleiros tentavam procurar as espadas que eles nem perceberam ter dado ao quarteto que já estava longe.

— Bom, já temos as nossas espadas – o mago sorriu. – Agora é procurar um navio para Ekhbart e seguirmos nossa jornada. Temos um longo caminho pela frente, e não temos tempo a perder.

O príncipe tomou a frente do grupo, seus olhos verdes determinados a levar adiante o plano de vingança que começava a se desenvolver em sua mente. Ele tinha que retomar o que era seu, e o faria.

Ele se prepararia para enfrentar Edwin... E,quando chegasse o momento oportuno, ele mostraria quem era o verdadeirousurpador!

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