Unexpected Love - Wantasha.

39- Esclarecimentos

Natasha POV.

UM ANO ATRÁS:

Às vezes a gente cai no conto do amor que machuca, que aprisiona, que limita e que faz sofrer. Isso não é amor. É machucado, prisão, limitação e sofrimento.

Amor é paz.

Eu vi meu interesse por Wanda surgir no passado. Vivi essa atração física e aproveitei cada segundo dela. No entanto, com o passar do tempo, eu estava completamente apaixonada, deixando meu coração queimar nas brasas de uma paixão avassaladora. Então a euforia da paixão passou, dando espaço a tranquilidade do amor. Estar apaixonada foi apenas o ponto de ignição, o início de uma coisa muito maior, porque eu passei a ama-la com cada fibra do meu ser.

Descobri que amor é cuidado. Amor é zelo. Amor é a paixão controlada, porque alguém apaixonado perde um pouco da capacidade de cuidar. Amor, diferente da paixão que é euforia, é o cuidado.

Eu a amava e a queria bem.

Tomar a decisão de partir foi a coisa mais difícil da minha vida, mas seus olhinhos murchos a cada chamada de vídeo, sua insegurança, sua voz falha, fizeram-me ver que aquele relacionamento já não era o melhor para ela.

Eu não era inocente, longe disso. Me encontrei algumas vezes com Maria para tomar café, mas já tinha deixado claro que estava em um relacionamento e a mulher respeitava isso. O fato é que eu estava sozinha na Rússia, então alguém diferente de Alexei e Melina para dialogar, era sempre bem vindo.

A cada discussão com Wanda eu sentia meu coração despedaçar, porque estava cada vez mais que óbvio o que deveria ser feito.

Foram semanas amadurecendo a idéia, criando coragem, repassando a decisão. Mas sempre chegava a mesma conclusão: era o certo a ser feito.

No entanto, o certo nem sempre significa o mais fácil.

Não tinha coisa mais difícil do que partir amando.

Então quando ela gritou do outro lado da linha, revoltada com a minha decisão, foi um pedacinho a mais do meu coração que despedaçou.

Quando, na realidade, eu que a estava a quebrando.

-Aonde você vai, filha? - mamãe questionou, olhando para mim de maneira curiosa e preocupada. Era óbvio. Eu estava parecendo um caco.

-Eu preciso sair. - não estava com o melhor dos raciocínios, então foi apenas isso que meu cérebro conseguiu formular.

Ter deixado a mulher que amava foi extremamente doloroso, então, uma súbita vontade de sair daquela casa me tomou, como se as paredes de concreto estivessem me sufocando.

Mas não tinha nada a ver com as paredes. Era apenas a porra de uma consciência pesada e um coração quebrado.

Minutos dirigindo pelas ruas geladas da Rússia, pensando em como ao menos esquecer aquela dor por míseras horas, entendi que ainda era perigoso que eu fosse a uma balada em meio a madrugada, então procurei outro destino.

Um hotel caro.

Dentro de uma banheira vazia. Um copo de whisky em mãos. Um cigarro ocupando a outra.

Essa foi a minha primeira noite sendo uma mulher solteira.

E os dias seguintes não foram menos difíceis.

O cheiro de Wanda ainda estava penetrado em cada poro meu. Seu calor ainda era vivo em mim. O gosto da sua boca ainda não tinha se despedido.

Tudo o que eu sentia ainda era muito vivo.