Arkham

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—O que você disse capitão?
—O que você ouviu! Olhe para esse sangue negro, isso não sangue humano!
     Respondi enquanto olhava com nojo e desprezo para aquele maldito cadáver.
—Ele corrompeu a sua alma e é por isso que deixou de ser humano se tornando um bruxo, essa técnica que permite aumentar o poder é magia negra uma magia proibida e considerada um crime grave pelo templo.
      O sacerdote explicou enquanto também olhava para o cadáver do bruxo de feições sinistras.
— Bruxo? – Perguntei com curiosidade já que nunca havia visto um bruxo.
—Sim, e se não for  purificados poderá volta como Lich, o que seria um problema ainda maior.
— Então o templo escondeu esse tempo todo a origem do lich assim como esses monstros denominados bruxos? – Perguntei em afirmação e reprovação na voz, o sacerdote suspirou e começou a falar.
— Acredito que esse não será o primeiro bruxo que encontraremos e não há como continuar a esconder do mundo a existência deles, após a purificação vou explicar com mais detalhes.
     Eu concordei com um aceno de cabeça antes de voltar a falar.
  —Vou trazer os outros dois, pode começar seu ritual sacerdote.
      Assim que falei fui buscar os outros dois corpos, e os joguei ao lado do corpo do bruxo o capuz de um deles caiu revelando uma cabeça careca com um rosto jovem, o sangue agora seco em seu peito ainda era vermelho carmesim.
—Por que esse mago se parece a um monge de Hagnar.  – Perguntei desconfiado então retirei o capuz do outro mago me certificando que ele também tinha sua cabeça raspada.
—Absurdo! As práticas de Hagnar não existem mais! Além de que um sacerdote de Hagnar não usa magia em suas práticas somos escolhidos por Vita que nos abençoa com seu poder divino!
      O sacerdote se defendeu como se estivesse sofrendo uma grave ofensa.
   —Não fique tão nervoso, eu apenas não entendi porque eles são assim, vamos te esperar lá fora!  –Assim que terminei de falar sai com Ravy e Eric o deixando sozinho.
  —Um bruxo que se veste igual aos antigos sacerdócios de Hagnar, e magos com as mesmas características isso pode ser uma dor de cabeça ainda pior.
—Penso o mesmo.
      Eu e Eric concordamos com Ravy e cada um de nós se perdeu em seus próprios pensamentos até que o sacerdote terminou e voltamos para o local em que as tropas estavam.
—O que... O que diabos eram aqueles monstros?
       Conde Erastor perguntou ainda com um rosto pálido esverdeado.
—Drakevacs e Mylings, são corpo e almas de crianças e fetos não nascidos de plebeus ou aristocratas que abandonaram seus bastardos!
   Os olhos do conde se abriram em choque com a resposta de Eric, esse tipo de mosntro quase não se via em Freya já que cada nobre do império podia pagar por um sacerdote a qualquer momento, o que fazia os aristócratas serem bastante discretos con suas aventuras, mas isso não quer dizer que se aplicava a outros reinos e apenas os cavaleiros que já foram mercenários ou que já aceitaram todos os tipos de missões ordenada pelo imperador tiveram a oportunidade de conhecer e lutar com  todos os tipos de monstros.
—Ah! Malditos bastardos!
      Ouvi o Conde xingar em voz baixa, neste momento apertei minhas mãos em punhos contendo a vontade de lhe dar um soco, aqueles tipos de mosntros só existiam em grande maioria por culpa desses aristocratas hipócritas que não conseguiam controlar suas calças, algumas maldições quase invadiram minha boca e tive que morder meus lábios para não explodir minha indignação. —Eles não tinham culpa de se transformar no que eram!
   Assim que falei me afastei do conde Erastor que havia se tornado uma grande rocha em meus sapatos.
— Vamos partir! Fiquem atentos! Se baixarem as suas guardas podem acabar como seus companheiros que ficaram para trás!
     Gritei para que todos pudessem ouvir e seguimos nossa jornada em silêncio por dois dias fazendo apenas três paradas de trinta minutos para comer pão preto com carne seca e vinho, não havia muita conversa entre os cavaleiros que ainda sentiam o luto de perder seus irmãos.
— Vamos partir em dez minutos! Organizem os cavalos! Aliás quem está cuidando dos vagões?
—Henri e Diot estão cuidando dos cavalos e dos vagões capitão!
      Eu apenas fiz um gesto de cabeça para Eric, e logo continuamos nossa jornada, minha mente vagou para aqueles dois idiotas e a culpa por suas perdas ainda me consumia. —Como vocês conseguiram morrer com este tipo de ataque! – Pensei com amargura, os aprendiz de escudeiros que participavam nas expedições eram escolhidos após muito treinamento pesado e só aqueles que se destacavam seguiam conosco em uma missão tão arriscada conforme seu desempenho seriam promovidos a escudeiros e em um ano se tornariam cavaleiros, Milo e Bertô eram uns dos melhores aprendiz de escudeiros. —Eles estavam entre os melhores, mas ainda não estavam prontos e foi meu egoísmo que os trouxe aqui! – Tentei com todas as forças suprimir aquele pensamento, mas o sentimento de culpa era algo sorrateiro e devastador, olhei em volta e percebi que as sombras das árvores eram cada vez menores era hora de se preparar para acelerar as tropas.
—Ravy, mago de Aegis preparem-se para usar magia nos vagões, estamos saindo da floresta e assim que entrarmos na estrada devemos acelerar antes do anoitecer estaremos em Arkham!
      Os cavaleiros de Aegis olharam uns para os outros sem falar nada, era visível que estavam exaustos e um pouco chocados, uma viagem que levaria quatro a cinco dias estava sendo feita em menos de tres dias mesmo com o tempo perdido com o ataque dos monstros.
  —Eles são realmente humanos...?
  —Você não viu quando um dos cavaleiros dele fez essa mesma viagem em menos de doze horas?
—Estou começando a sentir meu orgulho ficar ferido...
—Eles perderam apenas dois aprendiz de escudeiro...
—Nós perdemos mais de trinta cavaleiros...
     Eu podia ouvir os sussurros de alguns cavaleiros de Aegis atrás de mim, também consegui sentir o corpo do capitão deles que cavalgava ao meu lado ficar cada vez mais tenso já que também ouvia o que seus subordinados diziam, era visível que moral dos cavaleiros estava caindo, mas ele não falou nada e apenas olhava orgulhosamente para frente, em mais algumas horas estávamos galopando a toda velocidade quando o crepúsculo caiu já era possível avistar Arkham, como a cidade era independente e direcionada para todos os tipos de viajantes os dois cavaleiros que guardavam os portões os abriram assim que nos avistaram.
—Procurem as estalagens disponíveis...
—Lindos cavaleiros aqui! Temos quartos quente e um serviço especial!
    Olhei para as mulheres que chamavam sem parar e percebi que havia um grande prostíbulos ao lado esquerdo da rua, várias garotas apareceram nas janelas dos quartos e algumas até saíram para a rua, elas jogavam beijos e lenços bordados em nossa direção.
—Capitão precisamos relaxar após essa exaustiva viagem...
—Por favor capitão, não sei quando poderei me enterrar novamente em braços tão suaves...
—Capitão...
    Os cavaleiros de Aegis começaram a implorar a liberação de seu capitão que me olhou interrogativamente, eu sabia que aqueles homens haviam levado seus corpos ao limite e que também muitos deles não voltariam com vida para suas casas, eu suspirei pesadamente enquanto assenti com a cabeça.
—Todos estão liberados, partiremos amanhã ao meio dia sem atrasos!
     Eles concordaram antes de correr para dentro do prostíbulo, eu os olhei antes de seguir para uma estalagem um pouco mais a frente.
  —Henri, Diot cuidem dos vagões antes de entrar, vou deixar um quarto reservado para vocês.
   Os dois garotos concordaram e eu entrei na estalagem, além de mim, Eric, Arvid, Ravy, o Conde Erastor, o sacerdote que nos acompanhava  e o capitão de Aegis também entraram na mesma estalagem.
—Quero um quarto, um banho e um jantar, mais um quarto separado com duas camas de solteiro...
—Serão três banhos quentes?
—Sim...
    Enquanto eu ordenava meu pedido eu olhei em volta da Estalagem que era um lugar simples, mas bem limpo e quieto, haviam alguns viajantes já jantando no restaurante enquanto três serventes caminhavam de um lado para o outro servindo os clientes, assim que paguei pelos quartos peguei a chave do meu quarto e segui para ter um banho quente, mas do que a fome eu estava desesperado por um banho.

†††

—Capitão!
     Eric me chamou assim que me viu descer as escada olhei em sua direção e em uma grande mesa estavam mais vinte homens que não foram para o prostíbulo.
—Capitão a comida aqui é muito boa e a cerveja também!
    Henri falou alegremente já com suas bochechas vermelhas, se fosse em outro momento eu o teria castigado por estar bebendo tanto álcool, mas agora eu sabia a tristeza que havia em seu coração pela perda de seus irmãos de espada.
—Sim, eu imagino.  –Respondi com um sorriso amargo.


AlynaOnde histórias criam vida. Descubra agora