Carta de Norman

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     Dois meses já haviam se passado quando finalmente recebi a carta que tanto ansiava.
    —Minha senhora, chegou esta carta de Norman.
    —Obrigado Gaya. – Assim que ouvi suas palavras meu coração se agitou. Só poderia ser acarta de admissão de Norman, —finalmente estava aqui. –Pensei animada enquanto pegava a carta de Gaya e abria com mãos trêmulas.
     "Senhora Alyna Cedrick é com muita honra que a Torre dos Magos aceita sua candidatura a maga na Academia Mágica de Norman "
     Apenas aquelas palavras impressas em um pergaminho dourado garantia minha entrada na Torre dos Magos em Norman, eu li e reli ainda não acreditando.
    —Gaya pode se retirar. – Mandei ela sair assim que percebi ainda estar no quarto, eu queria estar sozinha e assim que Gaya se retirou eu sentei em minha cama sentindo meu coração bater tão rápido que podia ouvi-lo. —Finalmente... Estou dentro... Quantas vezes desejei estar lá? Desejei tanto que doeu muito quanto percebi que era impossível. – Minha voz saiu em um sussurro enquanto eu levava minha mão ao peito, ir para Norman era um sonho impossível no passado já que eu não conseguia usar meu poder mágico, mais tarde quando me casei finalmente me dei por vencida e enterrei aquele desejo bem fundo em meu coração, mas agora eu estarei lá em breve no mesmo lugar em que minha mãe estudou. Aquele pensamento me fez rolar na cama em alegria. — Então eu não estarei mais perto da minha mãe?  – Me perguntei mentalmente me deixando levar para um êxtase sem fim o que resultou na dificuldade em dormir naquela noite o que me fez acordar tarde no dia seguinte.

†††

    —Minha senhora talvez eu devesse chamar  médico ou um sacerdote? – Gaya perguntou preocupada ao me ver tão sonolenta a tarde.
    —Apenas não consegui dormir bem a noite tinha muito o que pensar, Gaya Chame Anael e o senhor Giell.
    —Sim minha senhora.
     Em menos de dez minutos ambos estavam na minha frente.
    —Senhor Kaleb o dragão de gelo que Kael foi matar não está hibernando no norte? – Percebi que o senhor Kaleb ficou um pouco atordoado por eu ter me referido a ele por seu primeiro nome e também pela pergunta que eu havia feito, ele levou a mão a boca e tossiu antes de responder.
    —Sim é no norte, mas isso não significa que estejam perto, na verdade está a milhas de distância de nós, o deslocamento da caravana com saída de Amell  até até o ponto de hibernação do dragão vai levar em torno de oito meses e um mensageiro com um cavalo veloz leva em torno de cinco meses.
     Talvez o senhor  Kaleb tenha imaginado que eu queira mandar uma carta para Kael, bem até que eu queria, mas ainda não era o momento.
    —Eu estava pensando que no momento em que o dragão acorda isso não afetaria o clima do Norte? – O senhor Kaleb me olhou surpreso e ficou pensativo por um longo tempo.
    —Isso... Isso pode acontecer, afinal é um dragão de gelo. – Diz ele franzido o cenho.
    —Anael, para este inverno dobre o pedido de madeira e cera para o castelo e também no caso de um interdição das estradas faça uma lista de pedidos extras de trigo, açúcar, grãos...
      Comecei a citar todos os produtos que super valorizaram seu preço de compra pela escassez dos mesmos no mercado durante a nevasca ocorrido no passado.
    —Minha senhora esta lista...
    —Anael se as ruas ficarem interditadas ou por uma má colheita e esses produtos vierem a faltar não seriam supervalorizados pela lei de falta e procura? Iremos sofrer mais se não nos preparamos de antemão, não apenas o castelo, mas também o povo, quero que inclua em sua lista cobertores extras que serão doados para os aldeões mais pobres, também o castelo vai ter que servir sopas e outras bebidas quentes para garantir a sobrevivência de cada morador de Amell, se for preciso abra as portas do castelo para acolhe-los.
     Minhas últimas palavras foram direcionadas para o senhor Kaleb, que concordou com um leve aceno de cabeça, assim que eles saíram respirei aliviada, peguei meu pergaminho de anotações e risquei minhas tarefas concluídas, agora só faltava ir para Norman.
    —Sim tudo está indo de acordo com meus planos  mesmo tendo um contra tempo ou outro e após três anos em Norman ainda voltarei alguns meses antes que Kael. – Suspirei ao me lembrar de Kael, ele era sempre tão super protetor e ciumento, sorri ao me lembrar de suas pequenas ações quando estava com ciúme, minha mente me levou a um tempo que mesmo estando em minha mente ainda não havia acontecido.
    —Alyna Cedrick o que você está fazendo aqui? – Um Kael surpreso, assustado e de alguma maneira aliviado me perguntou em voz muito contida.
    —Eu não suportava a ideia de deixar você... – Respondi com voz baixa sem ter coragem de olhar em seus olhos e ao ouvir sua respiração pesada encolhi involuntariamente meu corpo.
    —Não me diga que você vem viajando escondida nesta maldita carroça de mantimentos desde que saímos de Amell?! Há! Há! Há! Há! – Kael fez essa pergunta que não era bem uma pergunta, e sim uma afirmação e logo começou a rir descontroladamente, não era uma risada feliz era uma risada irada ele estava enlouquecido. – Alyna! Você... Você por acaso tem a mínima noção do perigo que correu?! Você poderia ter morrido em tantas vezes que fomos atacados! E AGORA MESMO PODERIA TER SIDO UMA DELAS!– Ele havia gritado ao falar suas últimas palavras, aquela era a primeira vez que Kael gritava comigo e logo grossas lágrimas escorreram por meu rosto.
    — Agora você chora? – Ele perguntou em um misto de raiva e arrependimento, então respirou fundo e me abraçou eu chorei em seus braços até me acalmar, é claro que eu estava assustada afinal foi a primeira vez que vi um ogro de tão perto, minha garganta ainda doía de tanto gritar, mas também após passar o medo comecei a sentir uma imensa alegria já que estava ao lado de Kael e também havia usado magia pela primeira vez.
   — Vamos sair daqui antes que mais monstros apareçam. – Kael deu a ordem ao olhar os restos mortais dos monstros, eu mais uma vez montei o mesmo cavalo negro que Kael e só quando ele segurou as rédeas que percebi que suas mãos ainda estavam um pouco trêmulas, seguimos o caminho todo em silêncio e ao anoitecer chegamos em um vilarejo.

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AlynaOnde histórias criam vida. Descubra agora