três.

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Seus dedos deslizavam sobre as pontas do cabelo, encarando aqueles tediosos fios, como se eles pudessem te entreter de algum modo.

Suspirou ao ouvir batuques vindo de Draken, a cada segundo que passava os barulhos irritantes aumentavam gradativamente.

- Estou te irritando? - indagou sarcástico, aumentando o volume.

Fingiu mexer nos cabelos, desligando os aparelhos, instantaneamente as batidas irritantes sumiram, sobrando somente alguns ruídos mínimos.

- Não. - sorriu, pronta para ficar sem escutar por longas horas, se livrando de se irritar com Draken.

- Tem certeza? - o garoto arqueou as sobrancelhas ao vê-la virar o rosto, fixando o olhar no teto, como se fosse algo extremamente interessante.

Nenhum sinal de irritação, nada.

Draken começou a bater a palma contra a mesa, ocasionando em um barulho ainda mais alto. E mesmo assim, nada.

- Você é uma péssima capitã, sabe disso né?

Foi ignorado.

- Está me ignorando?

Novamente não foi respondido, você notou ele se levantar da cadeira, caminhando em sua direção.

Suspirou ligando os aparelhos novamente, apenas escutando metade da frase que ele disse.

- ... ignorando de novo?

Quando estava sem aparelhos, apenas ouvia baixos ruídos, não perdeu completamente sua audição no acidente, um dos ouvidos possui surdez moderada e o outro severa.
Mesmo que ainda escute sons baixos sem os aparelhos, continua sendo difícil, devido ao fato de metade da população não se comunicar com libras e a leitura labial se torna desgastante.

- De novo essa história que te ignorei? - observou ele se sentar na cadeira à frente.

- De novo se fingindo de sonsa? - recrutou. - Fui falar com você duas vezes e me ignorou como se eu fosse um imbecil.

- Ahn? - Draken se assustou ao lhe ver genuinamente confusa. - Eu não te ignorei, só fiquei sabendo da sua existência ontem.

- Como isso é possível? - semicerrou os olhos. - Eu nitidamente estava do seu lado e você continuou andando como se ignorasse minha existência.

Você suspirou já sabendo o que aconteceu, ele tentou falar com você quando estava sem os aparelhos.

- Eu... - murmurou pensativa, recebendo ainda mais atenção do mesmo.

- Voltei! - exclamou a secretária. - Não se mataram ainda?

- Quase. - se assustaram com uma voz diferente, sequer havia notado a presença de outro aluno na sala. - Esses idiotas de times são estúpidos.

- Quando que ele apareceu na sala caralho? - Draken murmurou incrédulo.

- Essas vão ser as horas mais longas da minha vida.

...

- Porra! Finalmente! - saíram da sala, quase se ajoelhando para agradecer alguma divindade.

- Isso durou uma eternidade. - murmurou sentindo todos os seus músculos doerem, consequência de ficarem tanto tempo parados em uma cadeira desconfortável.

- Ei [Nome].

Antes que pudesse seguir o seu caminho, o loiro lhe chamou.

- O que?

- Não terminou a sua frase, quando a secretária chegou. O que estava prestes a dizer?

- O que eu estava prestes a dizer? - mordeu o interior da bochecha. - Se chamar alguém que está ocupado, provavelmente essa pessoa vai te ignorar, foi isso que aconteceu.

O loiro parou por alguns segundos para pensar, antes de apenas assentir com a cabeça e se afastar para ir embora.

- É sobre isso que seu pai te alerta. - murmurou para si mesma. - Sua idiota do caralho.

Quantas pessoas foram ignoradas sem intenção por você? E sequer tem noção sobre isso.

E quantas vezes isso vai continuar acontecendo?

...

- Então... - o silêncio foi quebrado por seu pai, ao jantarem.

- Então? - continuou a comer.

- Me contem sobre o dia de vocês. - sorriu.

- Não foi nada grandioso, escola, vôlei e casa. - parou alguns segundos para engolir a comida. - E o seu?

- Um grande dia tedioso no trabalho! - exclamou. - Não foi em sua consulta hoje?

- Ah. - a sua reação respondeu ao questionamento. - Eu acabei esquecendo.

- [Nome]! - o homem esbravejou. - De novo!?

- Eu prometo ir na próxima semana, ok?

- Não sei porque continua indo. - disse sua mãe. - Aquele psicólogo não ajuda em nada, é perda de tempo.

- Não fale assim Hana. - seu pai observou a mulher se afastar da mesa. - Deveríamos ir em uma terapia de casal.

- Ah claro, como se fosse salvar alguma merda. - a voz dela ecoou de longe, ela fazia questão que ele ouvisse sua frase.

- Apenas... não siga os conselhos de sua mãe, ok?

- E de quem eu deveria seguir conselhos? - o olhou. - Talvez ela esteja certa... e...

- Não. - te interrompeu. - Ajuda psicológica é importante, você está indo pelo caminho certo, essas coisas levam tempo.

Moveu seus talheres sobre o prato, pensativa.

- Eu parei na detenção hoje. - o homem quase se engasgou com o suco que estava bebendo. - Discuti com um colega.

- [Nome]... como assim entrou em discussão?

- É complicado. - afirmou dando de ombros. - Por isso atrasei pra chegar em casa.

- Tudo bem mas... porque discutiram?

- Ah, todo mundo discute com alguém, não foi nada sério. - se levantou, levando o prato até a pia para lavar.

- Eu sei... mas discussões que te levam em detenções não são positivas.

- Aprendi a minha lição, pai.

- [Nome]. - o encarou. - Isso teve relação com a sua surdez?

- Porque teria? - devolveu a questão.

- Você não respondeu à minha pergunta.

- Eu respondi, porque minha detenção teria relação com a minha surdez?

- Alguém pode ter comentado alguma coisa? Você pode me contar filha.

- Foi apenas uma discussão normal pai, nada relacionado a minha surdez. - balançou as mãos, espirrando água pelo ar. - Vou dormir agora, boa noite. - acenou, saindo da cozinha.

- Porque essa garota mente tanto?

O homem bufou se apoiando sobre a mesa de jantar, sozinho. Ele estava tentando resgatar as poucas migalhas que sobraram em seus relacionamentos, tanto com a própria mulher, como com sua filha.

Ele esteve tanto tempo absorto em seu trabalho, que nunca percebeu as coisas que aconteciam ao seu redor. Sobre o que acontecia com as pessoas.

Até sua ficha cair, quase tarde demais.

Sua filha se tornou uma grande casca dura que nega ajuda, e sua esposa nem o olha direito.

O que mais poderia vir à tona?

𝚂𝚒𝚕𝚎̂𝚗𝚌𝚒𝚘... - 𝙺𝚎𝚗 𝚁𝚢𝚞𝚐𝚞𝚓𝚒, 𝙳𝚛𝚊𝚔𝚎𝚗. Onde histórias criam vida. Descubra agora