Seu corpo estava exausto, o suor escorria por toda a sua nuca, deixando-lhe agoniada, estava mais suada do que do dia que teve seu maior campeonato.
Estava treinando incansavelmente desde as seis da manhã, com a ajuda de sua treinadora. Nunca havia falhado tanto em um treino como antes, isso lhe deixava mais frustrada do que deveria.
A mão da treinadora pousou em seu ombro, chamando a sua atenção. Ela respirou fundo e esticou as duas mãos, sinalizando:
“você... vai... conseguir... tenha... paciência”
Sorriu sem mostrar os dentes, aquilo foi um pequeno conforto que aqueceu seu coração diante de toda a derrota que sentia. Odiava a sensação de fracasso, se sentia como aquela garotinha de oito anos que teve que aprender a escutar de novo na marra, e falhava e desistia quase todas as vezes”
“errar é humano”
“obrigada" respondeu.
“está liberada... descanse agora”
Assentiu com a cabeça, se afastando para pegar sua bolsa e seu celular. Lá continha uma mensagem de Draken.
“quer uma carona até o psicólogo?”
Observou aquela mensagem, se recordando do conselho que o homem lhe deu em relação ao “clube de surdos”. Talvez seja um bom acolhimento que precisa nesse momento tão trágico.
“pode me levar em outro lugar? ao clube?”
“sim!”
Sorriu, sentindo uma pequena pontada de ansiedade surgindo em seu peito. E se não fosse algo legal? E se as pessoas te tratassem de forma grosseira e estúpida? E se você se arrependesse amargamente de ir depois?
- Calma... – murmurou de modo monótono . – Para de se auto sabotar... se algo der errado, eu vou saber lidar.
Repetiu essas palavras como uma mantra durante o trajeto da sua casa, no banho, no almoço e no caminho até o clube.
“e se me odiarem?”
“e se eu sofrer aqui também?”
Deu mais um passo, olhando para trás. Draken te observava com um grande sorriso, lhe incentivando a continuar caminhando. E assim fez, abrindo a porta.
De imediato uma garota se aproximou. Era baixa, cabelos curtos e cacheados, pintados de coloração azul.
“oi!” ela sorriu animada, seus dentes eram cercados por um aparelho colorido. “bem vinda ao clube dos surdos! Eu me chamo Ayla”
“sou a [Nome].” Sorriu timidamente.
“muito prazer [Nome], espero que se sinta acolhida aqui!” ela parou ao seu lado. “vamos?”
Assentiu com a cabeça, acompanhando-a. Caminharam até um sala, suas paredes eram pintadas de roxos e haviam inúmeros pufes amarelos espalhados por ela.
Ao entrar na sala, inúmeros olhares pousarem em você. Haviam muitas pessoas da sua idade, pais com filhos e pessoas mais velhas.
“Essa é a [Nome]! Chegou agora”
Foi cumprimentada por todos. Retribuiu, sendo incentivada por Ayla a se sentar ao lado dela.
“Sou Alex” o rapaz ao seu lado disse. “tenho surdez unilateral com utilização de aparelhos, e você?”
“surdez moderada no ouvido direito e severa no esquerdo. Utilizo aparelhos, mas eles estragaram... agora estou esperando os novos chegarem.”
“É uma merda ficar sem eles, né?” concordou com a cabeça. “eu já pisei no meu sem querer, isso que dá ser míope e surdo de uma vez”
A frase te fez rir. Suspirou aliviada, não estava se sentindo mais deslocada ali.
“Eu tenho profunda! Uso implante coclear” Ayla se virou, mostrando o objeto que estava sob sua cabeça, o aparelho era devorado com figurinhas de girassol. “fofo, né!?”
“é brega” respondeu Alex. Ayla revirou os olhos, mandando ele ficar quieto.
“não ligue pra esse imbecil [Nome]. Está sempre de mau humor, eu faço um favor ao ser amiga dele”
“eu que sou pago para te aturar” retrucou Alex, te fazendo rir. O assunto continuou rendendo, todos lhe contaram como perderam a audição, o grau e as suas experiências.
...
“Não acredito nisso! Eles realmente fizeram isso!?” questionou Ayla, após você contar sobre o ocorrido no torneio. “vai quebrar a cara deles, né?”
“não precisa usar a força para se vingar” disse Alex. “mas também não pode deixar eles saírem ilesos.”
“não vou, já cansei de deixar esse tipo de pessoa ferrar com a minha vida”
“evento canônico na vida de todo PCD” Ayla sorriu. “mas ainda apoio você quebrar a cara deles, te faria bem”
“não obedeça essa impulsiva, ela já fez isso e foi expulsa da escola” Alex apontou pro rosto da cacheada. “você não pode dar um mau exemplo pra ela”
“como você é chato! Só estou tentando ajudar minha nova amiga, tá!?”
“se vingue de maneira ética, [Nome].” Sorriu Alex. “tenho certeza que essa é a decisão inteligente que deve tomar”
“um deles já apanhou... mas não foi de mim”
“agora só falta essa Felícia! Quer que eu bata nela?” indagou Ayla, estalando os dedos das mãos.
“fazer outras pessoas usarem a força no seu lugar... acho isso inteligente...” murmurou o rapaz, pensativo. “menos ético, mas ainda sim inteligente... faça isso de novo”
“ainda fala que EU que dou péssimos exemplos...”
“mas é você mesmo idiota!"
Você observava toda aquela caótica cena com um pequeno sorriso no rosto. Era estranho, mas confortável estar junto com pessoas que tiveram experiências parecidas com você.
“sabe... uma vez... colocaram meu implante no copo de suco de uva. Fiquei por três anos com trauma de suco, foi um pouco desesperador.” Ayla estava com os olhos arregalados enquanto contava a situação. “e teve outra vez que arrancaram com força do meu ouvido, e acabou sangrando. As pessoas são cruéis.”
“me deixa puto sofrer por algo que não tive escolha. É como se ainda estivéssemos na idade média e ser surdo fosse o sinônimo de maldição.”
“me sinto assim...” murmurou, desviando olhar. “perdi a conta de quantas vezes desejei morrer naquele acidente, por causa do modo como me tratavam.”
“acho que a melhor coisa que poderíamos ter feito... é ter achado esse lugar. Não somos perfeitos, mas ninguém vai te tratar como merda” Ayla depositou um leve carinho em sua mão. “estamos todos no mesmo barco”
Agora sim você estava disposta a vir mais vezes ali.

VOCÊ ESTÁ LENDO
𝚂𝚒𝚕𝚎̂𝚗𝚌𝚒𝚘... - 𝙺𝚎𝚗 𝚁𝚢𝚞𝚐𝚞𝚓𝚒, 𝙳𝚛𝚊𝚔𝚎𝚗.
Fanfiction"𝙴́ 𝚌𝚘𝚖𝚘 𝚎𝚜𝚝𝚊𝚛 𝚍𝚎𝚋𝚊𝚒𝚡𝚘 𝚍'𝚊́𝚐𝚞𝚊, 𝚗𝚘 𝚜𝚒𝚕𝚎̂𝚗𝚌𝚒𝚘 𝚒𝚜𝚘𝚕𝚊𝚍𝚊 𝚍𝚊 𝚖𝚊𝚛𝚐𝚎𝚖, 𝚎𝚞 𝚜𝚎𝚒 𝚚𝚞𝚎 𝚊𝚜 𝚙𝚎𝚜𝚜𝚘𝚊𝚜 𝚎𝚜𝚝𝚊̃𝚘 𝚏𝚊𝚕𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚊𝚘 𝚖𝚎𝚞 𝚛𝚎𝚍𝚘𝚛, 𝚖𝚊𝚜 𝚎́ 𝚒𝚖𝚙𝚘𝚜𝚜𝚒́𝚟𝚎𝚕 𝚌𝚘𝚖𝚙𝚛𝚎𝚎�...