- Boa noite. - observou seu pai apoiado na parede. - O treino foi puxado hoje?
- Sim... o torneio está próximo. - abriu a geladeira, procurando algo para comer.
- E como está lidando com os treinos? - sua feição mudou com a pergunta. - Nunca falamos sobre isso antes.
- Por que está interessado de repente?
- Bom... porquê pra mim é óbvio que você esconde a sua surdez. Só quero entender como se vira nos treinos e jogos.
- Me virando. - pegou uma garrafa de leite. - Como sempre me virei... e eu não escondo minha surdez.
- Ah não? Então quais de seus amigos sabem?
- ...nenhum. - o olhar de julgamento caiu sobre você. - Porque isso importaria?
- Porque é algo que faz parte de você! Porque não falar sobre isso!? - indagou o homem. - Não precisa sentir vergonha.
- Eu não sinto vergonha. - recrutou. - Só não preciso de ninguém sentindo pena de mim.
O homem suspirou, se aproximando de você. O olhar do mais velho exalava preocupação e uma pitada de desespero, sem saber exatamente o que falar ou fazer.
- Filha... as coisas pra você já são difíceis eu sei, mas...
- Você não sabe de nada. - se afastou pegando um copo. - Estou demonstrando que estou com dificuldade?
- Você esconde isso... esconde desde que nos mudamos.
- É irrelevante. - jogou o leite sobre o copo. - Eu uso aparelhos, escuto como vocês, o que muda se eu contar?
- E quando o aparelho parar de funcionar? Do nada?
- Eu dou um jeito, eu sempre dei um jeito.
- Filha... a questão não é essa, a questão é sobre sua acei-
- Desculpa pai, mas eu não preciso de um ouvinte opinando sobre como devo agir em relação à MINHA surdez. - deu ênfase na penúltima palavra.
Seu olhar pousou sobre as mãos do homem, o qual sinalizou em libras a frase "apenas quero te ajudar, não pode fugir disso para sempre."
"Cuide da sua vida." Sinalizou de volta.
- Viu como é lindo se comunicar assim!? - ignorou a fala do homem, subindo as escadas para se trancar no quarto.
Fechou a porta do quarto, se sentiu frustrada com tal conversa. Porque tão repentinamente seu pai começou a ligar para sua surdez?
Tão pouco era mencionado sobre isso, quando foi descoberto sequer citavam a frase "surdez" no início. Tudo tão novo e desconhecido, ninguém sabia como lidar com a situação inusitada.
Vivendo anos sem informação ou sem saber para quem falar sobre, você se fechou completamente em relação ao assunto, enterrando em sua mente para que ninguém tenha acesso.
- Sabe... às vezes eu desejo ser um gato. - observou o felino se espreguiçar sobre seu colchão. - Sem problemas...
O animal de pelagem escura a encarou, com aqueles penetrantes olhos, era como se pudessem te responder.
"Você mesma cria seus problemas, humana estúpida."
Provavelmente esse era um dos pensamentos que percorriam a mente do felino.
- Me pergunto se você tem inimigos. - bebeu um gole do líquido que continha no copo, lambendo os lábios antes de dar continuidade. - Provavelmente tem... deve lidar com eles arranhando seus rostos ou sei lá o que...
Os olhos da gata se fecharam lentamente, como se escutasse atentamente o que você falava.
- Mas no meu mundo... - puxou o celular, entrando na conversa do time. - Resolvemos de outra maneira.
Mina: um idiota do time de basquete discutiu com a nossa libero! Dá pra acreditar!?
Yu: esses idiotas estão passando dos limites
Felicia: vamos pegar o horário deles da quadra🤷♀️
Yu: eu apoio, quero ver eles putos
Senju: [Nome] convence a professora rapidinho, vai ser easy
Mina: calma, cadê a [Nome]? Ela quem decide.
Yu: então [Nome]?? O que acha?
[Nome]: eu apoio.
...
- Vão roubar a nossa quadra!? - Draken encarou os companheiros com o semblante furioso.
- [Nome] armou isso! - um dos garotos afirmou. - Precisa resolver isso!
- Eu vou. - disse sério.
- Ah, vai? Então resolva isso agora!
- Isso! Não é justo que nossa quadra seja roubada! É o NOSSO horário de treinamento!
- Eu vou resolver isso agora. - o loiro se levantou. - Eu já volto.
O corpo do garoto se virou apressado, caminhando pelos corredores à sua procura. Avistando você de longe, observando um mural.
- [Nome]. - inclinou brevemente a cabeça para o lado. - Há! Agora não está me ignorando?
- E algum dia eu te ignorei? - cruzou os braços, observando ele se aproximar.
- Vai se fingir de sonsa agora? - questionou irritado. - Quer agir como uma criança e me ignorar por uma rixa, por mim tudo bem. Mas não ouse prejudicar minha equipe.
Seus olhos evidenciaram confusão, sequer se recordava dele para tê-lo ignorado. Não fazia sentido, só descobriu ontem que ele era o novo capitão.
- Escute aqui. - deu um passo em direção à ele. - Se seu companheiro não tivesse se metido com nossa líbero, isso não teria acontecido. Controle seus caras.
- E você controle suas minas, elas que começaram a briga!
- Eieiei! - se assustaram com o grito da secretária. - Que baderna é essa por aqui?
- Ele veio encher o meu saco. - afirmou.
- Eu!? Elas roubaram nosso horário de treino!
- Merecido.
- Chega! - ambos se calaram com a repreensão. - Detenção para os dois, ninguém vai treinar hoje.
- O que!? - responderam em uníssono, se entreolhando em seguida.
- Não pode fazer isso. - disse Draken.
- Ah, eu posso. - sorriu. - Vão ficar por aqui depois das aulas acabarem... mas sem treininho.
A baixa mulher se virou satisfeita, sumindo do campo de visão da dupla.
- Isso é culpa sua. - se afastou.
- Minha!? É culpa sua!
...
- E se eu ouvir alguma gritaria, vai ser mais 30 minutos de detenção, entenderam?
Seu olhar pousou sobre o rosto de Draken, o qual estava no outro canto da sala, com a mesma carranca que a sua.
- Entenderam?
- Sim. - responderam.
- Ótimo, irei beber um café... e já volto. Se forem se matar, esperem ao menos eu voltar.

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𝚂𝚒𝚕𝚎̂𝚗𝚌𝚒𝚘... - 𝙺𝚎𝚗 𝚁𝚢𝚞𝚐𝚞𝚓𝚒, 𝙳𝚛𝚊𝚔𝚎𝚗.
Fanfic"𝙴́ 𝚌𝚘𝚖𝚘 𝚎𝚜𝚝𝚊𝚛 𝚍𝚎𝚋𝚊𝚒𝚡𝚘 𝚍'𝚊́𝚐𝚞𝚊, 𝚗𝚘 𝚜𝚒𝚕𝚎̂𝚗𝚌𝚒𝚘 𝚒𝚜𝚘𝚕𝚊𝚍𝚊 𝚍𝚊 𝚖𝚊𝚛𝚐𝚎𝚖, 𝚎𝚞 𝚜𝚎𝚒 𝚚𝚞𝚎 𝚊𝚜 𝚙𝚎𝚜𝚜𝚘𝚊𝚜 𝚎𝚜𝚝𝚊̃𝚘 𝚏𝚊𝚕𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚊𝚘 𝚖𝚎𝚞 𝚛𝚎𝚍𝚘𝚛, 𝚖𝚊𝚜 𝚎́ 𝚒𝚖𝚙𝚘𝚜𝚜𝚒́𝚟𝚎𝚕 𝚌𝚘𝚖𝚙𝚛𝚎𝚎�...