𝚂𝚒𝚕𝚎̂𝚗𝚌𝚒𝚘... - 𝙺𝚎𝚗 𝚁𝚢𝚞𝚐𝚞𝚓𝚒, 𝙳𝚛𝚊𝚔𝚎𝚗.

dezenove

"Oi! Como foi?"

"Você ficou esperando até agora?" indagou ao ver Draken sentado na calçada, ao lado da moto.

"Uhum." o garoto se levanta. "Acho que eu estava mais ansioso que você."

Deixou um riso escapar de seus lábios, conseguia facilmente acreditar que ele fez isso. Draken virou o maior companheiro que você já teve, uma mistura de lealdade com segurança. A primeira pessoa que descobriu sobre sua surdez, e que fez de tudo para entrar em seu mundo.

Você reconhecia tudo isso, e se sentia grata por terem se conhecido.

"Obrigada por me trazer aqui."  encarou os olhos dele. "Foi muito bom."

"Que tal irmos comer algo e você me conta tudo?" assentiu com a cabeça, acompanhando-o até a moto.

Ele se virou, colocando o capacete em sua cabeça e arrumando de maneira delicada.

"Vamos?"

"Vamos."

...

Fazia cerca de longos minutos que você estava falando sobre a sua experiência no clube, Draken escutava silenciosamente enquanto assentia com a cabeça em alguns momentos.

"Gostou de ter encontrado pessoas com quem se identifica?"

"Sim!" respirou fundo. "Passei muitos anos esperando por isso. Acho que a [nome] de oito anos iria ficar muito feliz se soubesse disso.... Minha vida teria sido outra se tivesse encontrado pessoas assim quando criança..." o encarou. "Mas... fico feliz que tenha acontecido agora, pelo menos te conheci"

"Eu tenho certeza que a gente teria se conhecido de qualquer jeito." o garoto disse. "Eu sei disso."

Você o observava se comunicar com um grande sorriso no rosto, Draken havia evoluído muito nos últimos dias. O garoto virou várias noites estudando libras e estava sendo recompensado por isso.

"Também acho" respondeu.

Ele sorriu, mas você sentia que algo o incomodava. Seu olhar estava perdido e suas respostas vagas.

"Draken... algo aconteceu? Estou sentindo você um pouco incomodado."

O homem respirou de modo sôfrego, concordando com os dedos.

"Eu não tava planejando falar isso agora, por causa do que tá rolando com você... mas... a Toman vai acabar. Tive uma reunião com Mikey e... decidimos isso. A formatura já está chegando... vamos nos formar e cada um já sabe com o que quer seguir...." seu semblante estava visivelmente abalado. "Vai doer, mas decidimos o melhor."

"Se você sente que foi a melhor decisão, eu te apoio. Você sabe que boas lembranças vão durar pra sempre, mesmo que a Toman acabe." - ele te encarou surpreso, concordando com a cabeça.

"Sim, isso é verdade." sorriu. "Sabe... eu ia gostar se..." ele desviou o olhar. "Se você conhecesse todos os membros... sabe? Já que nós estamos... tendo algo... e... eles são... a minha família..."

"Você pode chamar eles pra assistir meu próximo jogo."

"Sério? Posso?" aproximou o rosto do seu.

"É óbvio! Eles são sua família!" antes que pudesse sorrir, sentiu os lábios contra os seus. Ambos sentiam vontade de pausar o tempo e morar naquele momento por uma eternidade.

Mas sabiam que não podiam ter esse luxo, pelo menos não agora.

"Preparada para se livrar da Felícia amanhã?"

Você bufou.

"Já tinha esquecido desse assunto!" respirou fundo. "Mas não tenho outra escolha."

"Você vai se sair bem, faça o que se sentir confortável."

...

Entrou dentro do vestiário, avistando de longe Felícia se arrumando para o jogo. Respirou fundo antes de dar o primeiro passo em sua direção.

- Felícia. - ela te encarou com confusão, logo depois soltando um riso irônico.

- O que? Achei que iria querer que eu fizesse aqueles sinalizações idiotas. - fez uma imitação tosca. - Já que está sem aparelhos. Você adora trazer toda a atenção do mundo pra si.

Antes que pudesse controlar toda a raiva que subiu por todo seu corpo, caminhou em direção a garota. Suas mãos agarram seus fios de cabelos, puxando-a até a cabine do vaso sanitário.

Subiu a tampa, aproximando o rosto da garota.

- Foi isso que fez com meus aparelhos!? Se divertiu!? - empurrou o rosto dela perto da água, ameaçando afunda-lo.

Seus gritos ecoavam tão alto, que até mesmo seus resquícios de audição podiam ouvir. A garota lutava para tentar tirar suas mãos, mas sua raiva não permitia que ela se desvencilhasse.

Toda sua raiva acumulada de tantos anos de bullying estava finalmente sendo expulsa para fora. As lembranças dos comentários irônicos, das agressões e o mais puro e cruel capacitismo.

- Responda! - empurrou um pouco mais o rosto, o nariz da garota estava em contato com a água.

- Eu sinto muito! - suas mãos soltaram os fios bruscamente. Se afastou, observando o rosto da garota vermelho e choroso. Ela estava incrédula que você havia feito mesmo isso.

- Vou lembrar disso pra sempre. Espero que faça o mesmo. - suspirou, se afastando em direção ao corredor.

Avistou a treinadora correndo em direção ao banheiro, parou em sua frente, dizendo:

- Foi a Felícia que jogou meus aparelhos no vaso.

Os olhos da mulher se arregalaram.

- Como... tem certeza?

- Absoluta, tenho provas. E não fez sozinha. – virou o rosto para encarar Felícia que estava saindo do vestiário, ainda com a feição assustada. – Eu espero que ela seja devidamente punida por isso.

A mulher respirou fundo, ordenando:

- Felícia, por favor me acompanhe.

Observou a garota fazer isso de mau grado. Todo o ar que estava segurando foi expelido, podia sentir toda adrenalina percorrer pelo seu corpo. Ainda não acreditava que havia feito aquilo mesmo, por pouco não a afundou por inteiro na água.

- Draken vai rir muito disso... – finalmente soltando um riso. – Meu Deus...