nove.

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Flashback on

A porta foi fechada bruscamente, chamando a atenção de seu pai que estava comendo concentrado, e devido ao susto, derrubou boa parte da comida no chão.

- [Nome]!? O que houve!? - o homem indagou ao ver seus olhos exalando raiva e frustração.

Jogou os aparelhos sobre a mesa, se derramando em lágrimas e soluços altos.

- C-colocaram no vaso de n-novo! - exclamou com um único fio de voz. - Eu quero mudar de escola! De cidade! Quero ir embora desse inferno!

Cobriu o rosto com as duas mãos, sentindo mais lágrimas incontroláveis se manifestarem, não estava suportando mais viver daquela maneira.

Seu pai travou diante daquela situação, sem saber o que fazer ou falar. Sequer conseguia mover o corpo da cadeira.

- Eu só peço que me tire dessa cidade. - levantou o olhar para encarar o homem. - Por favor...

O homem rapidamente assentiu, se levantando para caminhar em sua direção.

- Nós vamos, eu prometo. - lhe puxou para um abraço, no qual não retribuiu porque ainda enxugava as lágrimas, ou tentava.

- Eu fui castigada, pai? - ele te encarou confuso. - Porque as pessoas me odeiam só por causa disso? Ser surdo é sinônimo de ser amaldiçoado?

- Nunca mais repita isso, você não foi castigada e muito menos amaldiçoada! - ficou sobre os joelhos, na sua altura. - As pessoas são más, isso não tem nada haver com você, está bem?

- Eu queria ter morrido naquele acidente. - as palavras fugiram de modo automático de sua boca, deixando seu pai perplexo e olhar perdido.

- Não... não diga isso... - ele murmurou com a voz falha. - [Nome], não diga isso...

- Às vezes eu te odeio por ter dirigido naquela noite... - novamente soltou as palavras sem pensar. - Minha vida é um inferno, e eu só tenho doze anos! Quanto tempo mais vou ter que passar por isso!?

- Eu... eu não sei filha... - ele murmurou abalado com as palavras ditas, mesmo sabendo que apenas as falou por consequência da raiva.

E foi nesse dia que decidiu que quando se mudasse, jamais contaria sobre sua surdez. Jamais.

Flashback off.

- Então os boatos são verdadeiros!? - levantou o olhar, havia um trio à sua frente. Duas garotas e um garoto. - É realmente surda?

Suspirou pesadamente, voltando o olhar para o livro que lia.

- Sim. - sequer precisou olhar os rosto para saber que estavam cochichando coisas sem noção.

- Tecnicamente você é uma surda falsa... já que está me escutando... - soltou um riso baixo, carregado de sarcasmo e cinismo.

- Como que é? - levantou a cabeça, com os olhos semicerrados.

- Bom... você está nos ouvindo, então... não é surda.

- Eu não sei se você perdeu o seu cérebro no caminho, ou foi a sua ignorância que preencheu o vazio da sua cabeça... mas a merda da sua fala não fez o mínimo de sentido. - a garota te encarou com os olhos arregalados, ela realmente acreditava no que estava falando? - Se quer dar a opinião sobre algo, ao menos estude sobre. Ninguém é obrigado a suportar burrice de graça.

- Vocês a escutaram... vão estudar vão. - ouviu a voz de Draken se aproximar, fazendo com que o trio se afastasse, finalmente te deixando em paz. - Admiro sua paciência, eu teria mandado ir tomar no cu.

𝚂𝚒𝚕𝚎̂𝚗𝚌𝚒𝚘... - 𝙺𝚎𝚗 𝚁𝚢𝚞𝚐𝚞𝚓𝚒, 𝙳𝚛𝚊𝚔𝚎𝚗. Onde histórias criam vida. Descubra agora