Barganha

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Eu via Nicolle carregando aquele bebê novamente, ela nunca mais apareceu sem ele. Eu sentia que ela queria estar perto de mim, e ainda mais agora que eu estou tão fraca e Betty foi levada por Lucille já não sei a quanto tempo, ela só levou Betty daqui. Eu tenho comido apenas uma vez, provavelmente para que eu não morra, mas que definhe lentamente, água também é uma vez por dia geralmente depois das refeições e outras vezes não, pra que eu morra de sede até o outro dia.

Já não tenho mais lágrima para chorar, não tenho vontade para lutar e nem acreditar que vou sair daqui ou que verei Thomas novamente. As correntes e a mordaça me deixam feridas, então tenho preferido não me movimentar. Sonho com Thomas todas as noites e em todas elas nós estamos juntos, felizes.

Nicolle está aqui com o bebê, eu olhei para ela e pedi para vê-lo, ela se aproximou de mim e pude ver um menino, a pele branca acinzentada não negava que era um fantasma, mas os olhos azuis e cabelo negro me lembrava o boneco que Thomas salvara da loucura de Lucille, me lembrava ele e me lembrava algo mais, senti um aperto ao olhar para ele e ele dormia nos braços de Nicolle. Queria perguntar novamente que bebê era aquele, mas só consegui chorar e dormir de novo.


~*~

-Ora, ora, já está bem meu querido, logo poderemos ir embora desse lugar e para longe de todos!

-Você está louca se acha que irei para algum lugar com você.

- Não é um pedido, querido!

-Lucille, onde está Lily?

-Se eu tiver sorte o suficiente ela está morta a essas horas!

-Lucille... Eu... Irei embora com você, mas tem uma condição!

-Qual?

-Lily, liberte sua prima e a deixe ir embora!

-Isso nunca!

-Lucille, eu prometo que ficarei com você, irei sem me queixar, sem relutar e seremos o que você quiser que sejamos, mas liberte-a, de nada vai valer matá-la se eu garantir que serei todo seu!

-Por favor, Lucille, se me ama como diz liberte Lily!

-Você promete que não vai relutar e será somente meu?

-Eu prometo!

-Ótimo! Libertarei minha prima.


~*~

-Abra!

-Sim, senhora!

-Olá, querida prima! Tenho uma notícia e uma surpresa para você. -Lucille olhava para mim com o rosto coberto por um brilho diferente que eu não sabia identificar. Apenas a olhei de onde estava, fraca demais para manter a cabeça firme e de repente vi alguém entrar logo após Lucille.

-Thomas? -Minha voz abafada pela mordaça, mas os olhos cheios de lágrimas por poder olhar para ele uma vez mais, acho que estou alucinando.

-Lily! -Ele se colocou aos meus pés me segurando em seus braços. Seus braços que meu corpo sente tanta falta, e reconhece ao menor toque.

-O que fez a ela, Lucille? Solte-a! -Ele tirara a mordaça de mim, sussurrei seu nome e aspirei seu cheiro.

-Levante-se já daí e não me faça me arrepender do nosso trato!

-Você não ousaria!

-Você me conhece o suficiente para saber do que eu sou capaz.

-Me deixe cuidar dela...

-Não!

-Lucille, pelo amor de Deus, olhe como ela está fraca, machucada, suja, com fome... -Ele falava enquanto me abraçava firme –Eu irei com você, serei o que quiser que eu seja, mas me deixe cuidar dela, até ela se recuperar e estar bem o suficiente para ir embora e...

-Eu já disse que não, se permiti que viesse comigo era porque queria dar a ela a notícia de que você ficará comigo..., mas, lhe darei mais uma prova de que estou cheia de boa vontade! Betty cuidará dela, levarei ela até a cabana em que estava e lá ela já não será mais problema nosso.

-Lucille...

-Ou você aceita ou eu a mato aqui mesmo, lenta e dolorosamente e você não poderá fazer absolutamente nada mais!

-Que história é essa de que você ficará ao lado dela? -Sussurrei para ele.

-Levante-se, Thomas!

Eu o vi me olhar, sussurrou algo que parecia um pedido de desculpas e suspirando se levantou me deixando ali. Lucille me olhava e a vi sorrir enquanto segurava o braço de Thomas.

Logo em seguida o capanga me soltou e me levaram de Allerdale, a cabana que Lucille manteve Thomas e aparentemente irá me manter é no meio de lugar nenhum entre as árvores, Betty me aguardava com o quarto preparado e comida pronta. Mais uma vez ela cuidou de mim, me lavou, alimentou e cuidou dos meus ferimentos.

-Eu o perdi, Betty. Perdi Thomas para sempre! -Eu chorava enquanto a abraçava.

-Eu estou sabendo do que aconteceu, menina. Sinto tanto por tudo isso, mas foi a única maneira de salvar você que ele encontrou.

-Eu preferia a morte!

-Não fale uma besteira dessa. Vamos, deite-se e descanse!

-Eu o perdi, Betty! O perdi!

Eu sonhei com ele aquela noite. Ele estava se casando com ela. Maldita seja, Lucille! 

Love in the Dark: Sir Thomas SharpeOnde histórias criam vida. Descubra agora