Branco Como a Lua

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O dia estava frio, cinzento e melancólico. Chovia lá fora e eu precisava me apressar para tomar uma carruagem que me deixaria na estação de trem que me levaria até Crimson Peak para encontrar Lucille Hale, minha prima distante que se casaria em dois meses e havia me convidado para passar uma temporada com ela e ajudá-la com o casamento já que morava sozinha na mansão de sua família. Saí pela manhã pois sabia que o caminho até lá era longo e não queria chegar à noite, fazia muito tempo que não via minha prima e pouco me lembro de Lucille Hale, todavia aceitei ajudá-la. Seria uma boa oportunidade de sair da monotonia que havia se tornado meus dias.

Cheguei à estação de trem de Crimson Peak no final da tarde, continuava a chover forte e eu temia que as estradas até Allerdale Hall estivessem muito enlameadas fazendo com que a viagem até lá demorasse ainda mais. Olhei para os lados e não via Lucille, será que minha prima esqueceu que eu havia dito que chegaria hoje? Continuei esperando na plataforma que agora estava praticamente vazia não fosse por um homem de ar misterioso do outro lado da plataforma. O homem era alto e esguio, e apesar da quantidade de roupa que usava eu conseguia ver que sua pele era branca como a lua. O vi me encarar de longe, embaixo daquela chuva, segurava um guarda-chuva preto e grande, ele então começou a se aproximar da plataforma e fechando o guarda-chuva se aproximou de mim. Pude ver agora com mais clareza que seus cabelos eram negros com leves cachos na altura do queixo, estavam penteados e eram cobertos por uma cartola preta que adornava sua cabeça. Sua feição era séria, e tinha olhos azuis como um mar revolto, embora o olhar fosse triste. Mas não anulava em nada sua beleza. Vestia roupas pretas, e um sobretudo de camurça azul tão escuro que de longe se confundia com preto, sapatos e luvas também pretos. Ele parecia triste.

-Boa tarde, a senhorita deve ser Lily Field prima de Lucille Hale?

-Boa tarde! Sim senhor sou eu mesma. - Respondi o homem que agora se curvava para beijar minha mão e me fazer sentir um arrepio na espinha e uma sensação de que que algo naquele momento mudaria meu rumo.

-Lucille me pediu para buscá-la porque ela precisou ir à cidade e não conseguiria fazer as duas coisas. Ela retorna amanhã à noite. Eu sou Thomas, Thomas Sharpe e por favor perdoe-me por ter feito a senhorita esperar tanto mesmo eu já estando do outro lado aguardando, a verdade é que Lucille não me deu nenhuma descrição fiel a senhorita e eu achei por bem ver quem sobrava por último na estação. Novamente, me desculpe por isso!

-Não tem problema sir Thomas, aqui dentro não me molhei e passei muito tempo sentada no trem, estou de certa forma descansada. É um prazer conhecê-lo! - Fiz uma reverência sorrindo levemente e ele rapidamente pegou minhas malas e carregou até a carruagem. Voltou agora com o guarda-chuva aberto e erguendo o braço para que pudesse ter uma ajuda para andar por aquele solo molhado. Segurei em seu braço encostando o corpo mais próximo ao dele, que estava quente e com a mão que me sobrara eu segurei o vestido o erguendo um pouco para conseguir andar. A carruagem era bonita, de madeira escura e envernizada, cabiam quatro pessoas e havia um cocheiro que ajudou sir Thomas a guardar as malas na parte de cima. Sir Thomas deixou meu braço e abriu a porta, me acompanhando com o guarda-chuva para que não me molhasse tanto e me deu a mão me ajudando a entrar. Sentei-me em um canto enquanto o observava fechar o guarda-chuva o chacoalhando para tirar um pouco da água antes de entrar e me fazer companhia. Ele era um homem muito bonito, vendo-o mais de perto era quase impossível não sentir o ventre queimar sempre que ele me olhava com aqueles olhos azuis.

Seguimos a viagem em silêncio, ele havia se sentado de frente para mim e uma vez ou outra eu sentia seus joelhos encostarem nos meus e eram esses momentos que eu o olhava. Quase toda a viagem ele passara sentado com as pernas bem abertas, como se o que tem no meio das pernas não permitisse que ele as fechasse. Eu mal o olhava, não por vergonha, mas porque sentia o sangue me queimar nas veias cada vez que ele me olhava nos olhos ou encostava seus joelhos em mim ao se ajeitar em seu acento. Com toda a chuva do lado de fora as janelas estavam fechadas e embaçadas, eu esqueci de retirar um livro para ler no caminho e estava ali no silêncio com sir Thomas que ora me encarava e ora me dava joelhadas que eu começava a achar que eram propositais.

Love in the Dark: Sir Thomas SharpeOnde histórias criam vida. Descubra agora