Fuga

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Betty viera como o habitual trazer minha bandeja de jantar, ela acabou vendo que eu organizava minhas coisas e questionou o que eu estava fazendo. Eu disse que estava aproveitando o tempo para reorganizar o guarda-roupa e separar umas coisas. Acho que ela acreditou, tentei ser o mais convincente possível. Estava a cada dia mais cansada, e minha visão no espelho não andava das melhores, estava ficando muito pálida, quando estiver em casa procurarei descansar de fato. Thomas não é mais responsabilidade minha, na verdade nunca fora, eu quem decidi que queria investigar Lucille, mas não dá mais. Foi escolha dele me afastar, é escolha minha aceitar.

Quanto mais a noite adentrava, mais cansada eu ficava, a casa já estava em silêncio. O quarto de Thomas estava fechado, mas eu conseguia ver pela fechadura e frestas da porta que havia a luz da lareira, era realmente uma noite fria e eu só conseguia pensar em como eu gostaria de estar ali sendo aquecida por seu corpo sobre o meu, sua respiração no meu pescoço enquanto dividimos o mesmo cobertor. Ainda me lembro da última vez que nós nos amamos, seu cheiro, seu sorriso na minha pele, seus batimentos desregulados, seus sons de prazer e eu imaginando o quanto eu não conseguia mais viver sem tudo aquilo.

Estava acabado de vez e era hora de partir. Enxuguei minhas lágrimas e decidi que aquela era a última vez que eu chorara por sir Thomas. Desci as escadas sem fazer barulho, escadarias de madeira geralmente rangem quando você tenta não chamar atenção, mas para minha sorte ela não rangeu. Nicolle estava pairando no ar, na entrada da casa, pedi que me perdoasse, mas não queria continuar sofrendo também. Ela sabe que tentei, e ela por sua vez parecia me compreender, então pedi que não contasse nada a Thomas, pelo menos não até que eu já estivesse no trem de volta.

Como ventava esta manhã, ainda estava meio escuro e nebuloso, cobri-me com uma capa grossa e olhando para Allerdale Hall uma última vez, respirei fundo e segui meu caminho deixando quase todos os meus vestidos e pertences para trás, sozinha não conseguiria carregar a bagagem e meu plano incluía caminhar até a vila mais próxima (o que não era tão fácil pois não era tão perto), pegar uma carruagem pública e ir até a estação de trem e lá seguir meu caminho.

Já não conseguia ver Allerdale, de qualquer forma o vento e a neblina não me ajudavam e eu estava ficando com frio, e agora adicione uma tosse para me fazer sentir pior do que já me sinto. Só conseguia pensar em pedir um chá quente no trem com alguns biscoitos amanteigados, se tiverem com goiabada seria ainda melhor. Queria guardar o resto do dinheiro que vai sobrar das passagens para juntar as minhas economias, mas estou tão cansada que acho que irei utilizar para comprar uma cabine no trem, preciso tanto descansar os pés.

O vento soprava cada vez mais forte, e eu não sabia a quanto já estava andando, a manhã já era perceptível, porém a visão era péssima graças a neblina que não diminuíra desde então. Não aguentava mais andar, mas não podia parar agora, minha tosse me castigava e meu cansaço já era evidente até para qualquer alma viva que aparecesse por ali e que frio.

Dizem que quando estamos para morrer vemos toda a nossa vida passar diante de nossos olhos. Comigo não foi assim, eu o vi. Eu vi Thomas. E como um último impulso de vida, suspirei seu nome e desabei ali naquele chão de terra e pedras, já sem me importar se viveria para ver um novo dia.

Thomas Sharpe Pov.:

Betty veio ao cair da noite conversar comigo. A princípio eu não queria ouvir, ando muito cheio de problemas para ouvir sermão agora, mas ela é como uma mãe para mim e reconheço sua autoridade, a respeito. Permiti que entrasse e falasse o que tinha para me dizer.

-Thomas, pelo amor de Deus, o que você está fazendo da sua vida menino?

-Betty, eu preciso ficar sozinho... Tem tanta coisa que...

Love in the Dark: Sir Thomas SharpeOnde histórias criam vida. Descubra agora