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*Pov Sn Stark*

* * *

Pode parecer que não fazíamos muita coisa. Mas, na verdade, os dias com Josh eram
sutilmente diferentes, variando conforme o humor dele e, mais importante, a intensidadedas dores. Alguns dias, quando eu chegava, percebia pela rigidez do maxilar dele quenão queria falar comigo, nem com ninguém.

Assim, eu me ocupava do anexo, tentandoprever o que ele ia precisar para não ter que perguntar.

As dores dele tinham causas variadas. Havia a dor pela perda muscular — apesar de
toda a fisioterapia feita por Alex, Josh tinha muito menos músculos para sustentar o
corpo. Havia a dor de estômago causada por problemas digestivos; a dor no ombro; ador por infecção urinária — inevitável, apesar dos esforços de todos.

Ele também tinha
uma úlcera estomacal devido ao excesso de analgésicos que tomara como se fossem
balinhas no início da recuperação.

De vez em quando, tinha escaras na pele por ficar sentado na mesma posição
durante muito tempo. Por duas vezes, precisou ficar na cama para que as feridas
cicatrizassem, mas ele detestava ficar na cama.

Ficava deitado ouvindo o rádio, os olhosbrilhando de raiva de tal forma que nem conseguia controlar. Josh também tinha doresde cabeça.

Para mim isso era efeito colateral da raiva e frustração que sentia. Ele tinhamuita energia mental mas não podia usá-la para nada.

Tinha de desaguar em alguma
coisa.
Mas o que mais incomodava era a incessante queimação nas mãos e nos pés que
não o deixava pensar em outra coisa.

Eu trazia uma tigela de água gelada e mergulhava
as mãos dele, ou enrolava os pés em uma flanela fria na esperança de amenizar seu
desconforto. Um músculo da sua mandíbula se retesava e ficava pulsando e de vez em
quando Josh parecia sair do ar, como se a única forma de não sentir dor fosse deixar o
próprio corpo.

Surpreendentemente, eu havia me acostumado às suas necessidadesfísicas. Parecia injusto que, além de não poder usar ou sentir as mãos e os pés, elesainda causassem tanto desconforto.

Apesar de tudo, ele não reclamava. Por isso levei semanas para perceber que estavasofrendo. Agora eu conseguia decifrar o cansaço em seu olhar, os silêncios, o jeito comoele parecia se refugiar dentro de si mesmo.

Ele apenas pedia:
— Pode trazer água gelada, Sn? — ou: — Acho que preciso de alguns analgésicos.

Às vezes, a dor era tanta que ele ficava pálido, de um branco pastoso. Esses eram os
piores dias.

Mas nos outros dias nós nos dávamos muito bem. Ele não parecia mais mortalmente
ofendido quando eu falava com ele, como no começo. Naquele dia, tive a impressão de
que ele estava sem dor.

Quando a Sra. Beauchamp veio nos avisar que as faxineiras
demorariam ainda uns vinte minutos, fiz mais um chá para nós e demos outra volta
vagarosa pelo jardim, Josh conduzindo a cadeira pelo caminho de pedras e eu olhandominhas sapatilhas de cetim escurecerem na grama molhada.

— Interessante escolha de sapatos — observou Josh.
Eram verde-esmeralda. Encontrei-as num brechó. Noah disse que eu ficava
parecendo um duende drag queen.
— Sabe, você não se veste como alguém daqui. Sempre aguardo ansioso a próxima
combinação maluca de roupas com que vai aparecer.

COMO EU ERA ANTES DE VC _BEAUSN_Onde histórias criam vida. Descubra agora