Capítulo 3

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As férias de verão estavam cada vez mais próximas do fim, faltavam apenas dois dias para que as aulas começassem e alegria é a última palavra que poderia definir Luke Davis. Ele gostaria de dizer que já havia pegado dezenas de garotas e esquecido a tal garota misteriosa, mas estaria mentindo para si mesmo. Tinho repetido mentalmente aqueles momentos milhares de vezes para não esquecer nenhum detalhe. Ficava tentando entender como era possível que meros desconhecidos tivessem uma química tão perfeita, como ela havia feito ele sentir tantas coisas com tão poucas palavras. Já havia segurado vela para Ethan tantas vezes desde que se entendia por gente e nunca tinha visto nada ser ao menos parecido com o que tinha vivenciado. Óbvio que o mérito era todo dela, se dependesse das suas habilidades e experiencias mínimas... talvez nunca tivesse rolado.

Talvez.

Depois de Ethan insistir várias vezes e sentir uma esperança infundada de que contaria com a sorte novamente – encontrando a garota de seus sonhos recentes – havia decidido sair para encontrar o amigo e talvez finalmente conta-lo o que havia acontecido na boate.

Vestiu uma camiseta preta de hogwarts e um all star branco de cano baixo que era a marca registrada de todas as vezes que botava os pés fora de casa. Tentou descer silenciosamente e passar despercebido pela sala, por trás do sofá que sua irmã estava deitada e distraída no celular, tudo o que menos precisava era de um interrogatório.

– Já vai sair, maninho? – Nicole perguntou antes mesmo de olhar para ele – Você só usa esse perfume do papai quando vai encontrar alguém...

– Não é da sua conta, maninha!

– Você deveria me tratar bem, não se esqueça que tenho cartas na manga... posso dizer a mamãe que você saiu com Ethan no início das férias e só chegou em casa de madrugada, deixando a pobre e inocente irmãzinha sozinha e sem cuidado...

– Eu não cheguei de madrugada!

– Mamãe vai acreditar mais em mim do que em você – disse fazendo uma cara de vítima para mostrar sua capacidade de atuação.

– Tem certeza? E se eu contar para o papai como te encontrei em casa quando cheguei? – falou sorrindo, tinha um trunfo contra Nicole que não teria coragem de usar, mas julgava ser preciso diante da situação e apenas a ameaça a faria reconsiderar – Imagina quando suas amigas descobrirem que a doce Nick não passa de uma mentirosa e medrosa...

“Medrosa”

Exagerou nessa parte.

Desejou não ter dito no mesmo segundo.

Adjetivo um tanto pesado para atribuir a situação da irmã, era “normal” sentir medo de revelar seus sentimentos diante de uma sociedade preconceituosa e intolerante. Assim que disse se arrependeu, como um cara branco e hétero privilegiado não se colocou no lugar da menina de quase dezesseis anos que estava se descobrindo.

Naquele fatídico dia, quando chegou em casa ouviu algumas risadas altas e gritinhos agudos vindos do andar de cima, subiu as escadas em meio a tropeços para descobrir o que estava acontecendo, ainda estava extasiado por tudo que tinha vivenciado na boate mas se sentiu instantaneamente pronto para expulsar qualquer marmanjo do quarto de Nicole. O que ele não estava pronto era para a grande surpresa que teria ao ver quem estava com ela. Assim que entrou, se deparou com a descoberta de que a caçula não era tão doce e inocente quanto se fazia parecer e que escondia muitos segredos por sabe-se lá o porquê.
Estava prestes a... com uma garota.

Fazer sexo.

Com Kat Lodge.

O susto não estava atribuído a sexualidade da irmã, mas ao conjunto da obra, sempre foram próximos e sempre confiavam um no outro mas por algum motivo ela havia decidido esconder dele. Não é como se ele nunca tivesse notado os olhares dela para a colega de sala, já havia indagado várias vezes se Nicole não sentia nada além de “amor de amigas” e ela sempre desconversava falando sobre os meninos do time de basquete e seus corpos sarados. Era apenas uma cortina de fumaça. Ouviu tantas vezes que isso era impossível que não pôde deixar de se surpreender com o que estava diante de seus olhos. Ainda mais quando viu que ambas estavam quase inteiramente despidas e prestes a...

Essa parte da cena ele queria deletar da mente.

– Você me prometeu que não iria contar pra ninguém, minhas amigas não podem saber que... – sua expressão facial havia mudado para algo mais triste que duplicou o arrependimento que ele já estava sentindo pelas coisas que disse, devia ter evitado tocar no assunto.

Como estavam evitando falar pelos trinta dias que se passaram depois do ocorrido.

A verdade é que ainda não tinham conversado sobre isso, passaram aquele mês evitando o assunto, fingindo que nem tinha acontecido por vergonha de ambas as partes. Às vezes fugir de algo torna a situação ainda mais caótica e explosiva quando finalmente existe a coragem de a confrontar.

– E nossos pais não podem saber dessa festa, que aliás, não aconteceu do jeito que você diz – tentou reverter.

– Eu não esperava isso de você, Luke, sério, expor uma coisa que eu só fiz uma vez e que eu nem gostei, é baixo demais até pra mim!

– Não mente de novo pra mim Nick, tava nítido na sua cara que você está apaixonada pela Kat e eu realmente não sei porque você tem tanta vergonha de dizer que é lésbica, nossos pais não teriam problemas com isso e eu também não, estamos no século 21, isso é completamente normal!

Ele estava chateado por não ter existido confiança para conversarem sobre algo tão importante, estava exaltado por ter acreditado em todas as desculpas que ela dava e não ter visto a verdade diante de seus olhos.

Sentia culpa por não ter notado o quão difícil era tudo aquilo para Nicole.

Ao lembrar do abraço que elas deram ao se despedir, no olhar que trocaram – quando ambas achavam que levariam uma bronca – estava escrito que existia algo forte, honesto e genuíno, que mesmo em segredo, lutariam uma pela outra e Luke lutaria junto, faria tudo pelo bem delas.

– Tudo bem, eu admito que gostei muito mais daquilo do que de ver os meninos do basquete sem camisa, mas eu dizer isso em voz alta não te dá o direito de falar nada pra ninguém!

– Eu não vou dizer sozinho, a gente possa fazer isso juntos, conversar com os nossos pais e eles podem te aconselhar a sair do armário, eu posso pedir dicas ao Ethan e... já chega de se esconder, eu posso resolver tudo. – Disse já se levantando, pronto para pegar o telefone e começar a contatar os pais.

– Você realmente não entende nada sobre isso e o que as pessoas vão dizer de mim, não é? Nunca vou te perdoar por me chantagear com uma coisa que nem eu mesma entendo. Aproveita e vai pra todas as festas que quiser, já que é um hetero privilegiado, eu não me importo mais e também não vou falar mais nada a ninguém, mas eu te juro que se contar algo a quem quer que seja, nunca mais olho na sua cara!

Nicole correu para o quarto com os olhos cheios de lágrimas e Luke deitou no sofá desistindo de sair, preferiu passar as horas olhando pro teto e pensando sobre sua última atitude. Havia sido precipitado, um tanto babaca e precisavam conversar. Ela não havia saído do quarto, nem comido nada nesse meio tempo, talvez uma fatia de pizza soasse como um bom pedido de desculpas ou ao menos fosse uma boa desculpa para tentarem conversar de novo.

– Nick – a chamou depois de bater na porta – por favor, abre pra mim! – tudo permaneceu em silêncio.

– Por favor, Nicole! Eu te trouxe pizza, você não desceu pra comer e... – Decidiu não dar mais arrodeios e ir direto ao ponto. – Eu vim pedir desculpas, de verdade, eu me arrependo muito por ter agido daquela forma. Você tem razão, eu não entendo nada sobre o que está passando e não deveria ter me intrometido, muito menos ter ameaçado te expor, juro que foi da boca pra fora e jamais faria isso. É uma decisão sua e quando você estiver pronta pra contar, vou estar do seu lado te apoiando. Somos eu e você contra o mundo, lembra? Sempre vou cuidar de você.

Ao dar as costas, pôde ouvir o barulho da chave girando e sentiu um grande alivio tomar conta de si.

– Você tinha razão, não em tudo, mas algumas das suas palavras eram verdades que eu não queria ouvir, por isso fiquei com raiva. Tudo isso é novo pra mim.

– Me desculpa por tudo, maninha!

– Está tudo bem, quando a mamãe chegar vou contar tudo pra ela, não é justo me esconder assim. Não tem nada de errado comigo, não é? Não tem porquê me esconder, ou tem?

– Claro que não tem, tudo em você é perfeito. Eu te amo, Nick!

Então eles se uniram em um abraço apertado que curava todas as mágoas do dia e todas as angustias, mas como as pessoas costumavam dizer: A verdade liberta.

Ainda havia umas verdades para serem ditas pela mais nova e futuramente que ele ouviria atentamente, outro dia Luke diria também o que tinha acontecido naquela boate, mas não era hora ainda, não queria mudar o rumo daquele momento.

– Já que estamos sendo sinceros, preciso saber como tudo aconteceu, não a parte em que vocês estavam seminuas e... – Nicole gargalhou – como chegaram naquele momento, como tudo começou?

– A verdade é que naquela noite eu também saí e fui para a mesma boate que você estava, lá encontrei uma pessoa e a gente meio que flertou, na verdade ela que flertou comigo. Não rolou nada, foi apenas uma conversa rápida mas ela me aconselhou a ir atrás do que eu queria sem medo do que os outros iam achar, saí de lá e liguei pra Kat me encontrar aqui e então eu finalmente tive coragem de dizer o que sentia e ela me beijou, o final da história você já conhece.

Ele podia dizer que estava um pouco chocado com a revelação, mas não estava bravo, – fazia parte de Nicole esse tipo de estripulias ¬– tão pouco pensava em recriminá-la, apenas ofereceu o silêncio como apoio, não queria magoá-la de novo tendo em vista que Nick iria precisar de coragem e calma nos próximos dias.

Aquele momento de desculpas foi interrompido ao ouvirem um carro parar em frente à casa deles, conheciam bem aquele som emitido pelo veículo, seus pais haviam voltado antes do previsto. Luke abraçou a garota para lhe transmitir a força e a encorajou a descer e falar de vez sobre sua sexualidade, ela devia fazer isso sozinha.

Mesmo estando confiante na bondade de seus pais, estaria a postos para defende-la de qualquer comentário negativo que pudessem fazer.

Então foi para o quarto, se jogou na cama e decidiu voltar para o mesmo dilema que enfrentou naquela manhã olhar: a garota misteriosa. Tentou novamente a busca pelo instagram mas em seu feed a única notícia era sobre a família Andrews e a mansão caríssima na área mais restrita de Moon Garden onde estavam morando, paparazzis desocupados haviam postado flagras de Matteo e Elena Andrews pelas ruas em um carro luxuoso. Nos comentários, todos perguntavam pela herdeira, ninguém a tinha visto ainda e já fazia cerca de um mês que estavam na cidade.

Essa família o deixava um pouco intrigado – assim como todos os outros moradores de Moon Garden – mas seus pensamentos ainda estavam tomados por um certo par de olhos verdes amarronzados que a cada dia que passava pareciam mais irreais.

Semanas haviam se passado e não a tinha encontrado em nenhum lugar, voltou a boate outras vezes com a esperança tola de vê-la, mas foi em vão. Será que ela realmente havia sido real? Será que realmente a beijou? Era como um fantasma, havia desaparecido do nada e as vezes duvidava da própria lucidez.

Seus pensamentos são interrompidos por uma Nicole vermelha e chorosa que adentrou o quarto, não dava para decifrar se havia dado tudo errado ou se estava apenas emocionada.

– O que houve? Eles não te aceitaram? Te disseram algo de ruim? Fala, Nicole. Pode deixar, eu vou resolver isso. – Levantou rapidamente, pronto para enfrentar o que quer que fosse.

– Não, seu idiota! – ela grita – A mamãe me apoiou e disse que sempre havia desconfiado, que se perguntava quando eu teria coragem de dizer.

– Então, por que você está com essa cara? – perguntou ainda preocupado.

– A viagem dela não foi de férias, Luke, ela foi assinar o divórcio com o papai.

– Não, ele está na Cidade do México resolvendo mais um caso, não tem como ele ter ido a capital, um divórcio leva tempo, seria impossível!

– Luke, quando foi a última vez que o papai esteve em casa?

Essa pergunta o fizera lembrar de algo importante: A quase dois anos, Peter Davis passava longas temporadas viajando pelo México atrás de pistas para um caso importante, passando pouquíssimos dias com a família nesse meio tempo.

– Merda!

– Merda!

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