Os Andrews haviam chegado naquela tarde ao que chamariam de “novo lar”.
Em paralelo a alegria inexistente que a filha exalava, Elena Andrews parecia empolgada com a ideia de rever seus amigos da adolescência, tanto que jantou rapidamente e pediu que o motorista a levasse a casa de Diana Lodge, sua amiga de infância e antiga vizinha. Apesar de já ter ouvidos várias conversas delas no telefone, Aisha não a conhecia e preferiu evitar o que seria um “programa de mãe e filha” cheio da nostalgia que tanto considerava brega.
Matteo não havia dado uma só palavra no jantar, apenas se trocou e foi de encontro aos novos sócios, deixando antes de ir ordens explicitas para que os seguranças não deixassem a filha sair de casa, ainda como parte do seu castigo. Ela já conhecia esse truque dele e estava previamente preparada para derrubar essa ordem facilmente com alguns milhares de dólares e a promessa de que iria se comportar, dizendo que ia apenas visitar uma amiga e voltava antes dele. Funcionou facilmente, principalmente por o segurança daquela noite ser Dean Willians com quem ela já havia “negociado” intimamente várias vezes e com um provável bônus a ser pago depois.
Matteo não chegaria antes dela e isso era um fato. Seus encontros com sócios eram fachadas para ver suas garotas, mesmo em um novo país, ele não se demorara muito para encontrar uma moça ambiciosa que quisesse lhe satisfazer na surdina da noite. Embora não houvesse motivo para que ele mentisse já que Elena sempre soubera que não lhe era o marido mais fiel do mundo e não discutia isso, não lhe recriminava e muito menos pensava em o deixar. Em algum momento Aisha chegou a pensar que a mãe também o traía ou que apenas não queria quebrar em mais um pedaço uma família que já era disfuncional, no fundo sabia que não e o motivo real era uma verdadeira incógnita em sua mente.
Naquela noite ela se arrumou rapidamente e pediu um Uber, dando ao motorista apenas a ordem de que a levasse ao lugar mais próximo que poderia lhe oferecer alguma diversão, não haviam muitas expectativas de que nessa humilde cidade existisse uma boate tão luxuosa e vip quanto as que ela costumava frequentar mas estava disposta a se contentar com uma bebida forte e um espaço para dançar com classe.
Sua primeira surpresa da noite com certeza fora o lugar onde a corrida encerrou, parecia no máximo decente porem era melhor do que imaginava. Ignorando a fumaça dos cigarros que entorpeciam alguns meninos idiotas e também um jovem caído na porta, talvez fosse propício para a diversão que ela ansiava tanto depois de um mês sem colocar os pés fora de casa graças ao maldito castigo.
Assim que circulou pelo local, a primeira coisa, ou melhor, os primeiros caras que ela notou e gastou algum tempo observando já lhe causaram interesse. O mais despojado e musculoso era muito atrativo visualmente mas não era o tipo de conquista que buscava para aquela noite, não queria ter que lidar com o que parecia ser um garoto popular e talvez jogador dotado de autoconfiança, já o seu amigo... ele era diferente, era tão bonito quanto o outro mas estava com trajes menos atuais, o cabelo muito alinhado e com certeza não parecia estar confortável no local. Aisha arriscaria dizer que ele era um nerd e poderia apostar que não estava lá por vontade própria.
O tipo perfeito pra ela.
Assim que o despojado saiu de encontro com algumas meninas, ela entendeu como a hora perfeita de aplicar seu golpe. Nerds solitários eram sempre uma presa fácil, bobinhos o suficiente para acreditar em qualquer história – ou as vezes nem chegarem a ouvir uma já que sua história e seu nome real sempre permaneciam em sigilo.
Funcionava como uma espécie de massagem ao próprio ego, talvez para fugir do tédio, talvez para se vingar de rapazes que nem conhecia, imaginando seu primeiro amor adolescente passando por dores e humilhações piores do que as que vivenciou de forma cruel. Afinal, “todos os homens são iguais”. Todos eles mereciam passar pela rejeição para que pensassem duas vezes antes de enganar uma pobre menina cheia de sonhos. Em algum momento fora essa menina mas agora agia de modo totalmente diferente.
Ela os conquistava, fazia com que se apaixonassem lhes dando a atenção que não recebiam de ninguém. Eles sempre caíam. Sempre terminavam a noite lamentando pelo seu sumiço repentino, por não saberem ao menos o nome.
Não se considerava má por fazer isso.
Talvez até fosse em certo ponto, mas em uma escala de vilania padrão Disney seria uma Malévola: um passado de dor e rejeição que explicava suas atitudes menos humanas. Aisha não estava condenando ninguém a um sono perpétuo que apenas seria despertado após um beijo de amor verdadeiro, apenas estava os ensinando a partir do sofrimento, assim como ela foi obrigada a aprender dolorosamente com quatorze anos. Agora, seu esporte favorito com certeza era partir o coração dos homens assim como fizeram com ela no pior dia de sua vida, o dia que Charlotte desapareceu.
20 de agosto de 2008
– Charlie! – entrou em casa afoita, procurando sua irmã. Precisava contar a ela com urgência o que havia acontecido.
Simplesmente havia dado o primeiro beijo com Alex McCoy.
Apesar de toda a baba no início, ele havia sido muito compreensível e carinhoso. Foi um momento único e sentia como se houvessem milhares de borboletas na barriga. Já idealizava um possível namoro, imaginava se sua família iria apoiar, se um dia Alex a pediria em casamento, nem precisaria pensar na resposta. Para ela, tudo bem ele ter três anos a mais, era como um príncipe e agia diferente de todos os outros da sua idade.
– Aisha? Porque você estava gritando? – Charlie apareceu na sala às pressas, pensando ser algo grave.
– Maninha, você não vai acreditar no que aconteceu!
– Não vai me dizer que...
– Sim, sim, sim! Alex McCoy me beijou!
Os gritinhos agudos eram inevitáveis por parte de ambas.
– O filho de Miguel McCoy? Ele é muito gato, Ashie!
– Foi bem estranho no começo, não sei explicar. Ele é tão lindo, beijava tão bem e eu estava perdida, sem saber como continuar – relembrava esse momento com um sorriso no rosto – Havia acabado de sair da aula de educação física, estava toda suada, ele me chamou pra um canto, disse que tinha muita vontade de fazer uma coisa e simplesmente me beijou. Charlie, você tem noção que o menino mais bonito da escola, escolheu a mim para beijar?
– Maninha, eu não entendo porque tanta surpresa. Você é garota mais linda que eu conheço e não é de se estranhar que exista uma fila de meninos e meninas loucos por você.
– Se eu me parecesse um pouco mais com você, se eles soubessem sobre a importância da nossa família, talvez realmente existisse uma fila. Por enquanto, ele é o único que já se aproximou de mim dessa forma e...
– Já te disse milhares de vezes que te acho perfeita do jeitinho que é. Nós temos o cabelo parecido, mas seus outros traços são idênticos aos da sua mãe. Elena é uma mulher linda e você tem sorte de ter olhos tão lindos quanto os dela, se os outros não te veem da mesma forma que eu, o problema está neles e não em você. – Charlotte sabia sorrir de forma cativante e confortante e conseguia convencer – mesmo que temporariamente – aquela pobre garota insegura da veracidade de suas palavras.
– Obrigada por isso.
– Não precisa agradecer, Ashie. Apesar de Elena não ser minha mãe biológica, você é minha irmã, tem meu sangue e mesmo se não tivesse, nós temos uma conexão de almas inexplicável. Eu te amo, minha doce menina e esse amor é maior que a quantidade de estrelas que há no céu!
Havia um tom melancólico na voz da mais velha, soava como se uma despedida se aproximasse. Poderia ter passado de forma imperceptível se a mais nova não a conhecesse tanto. Aisha apenas relevou e a abraçou. Afagada por um carinho quase materno, sentiu que nada de ruim nunca iria lhe acontecer enquanto estivesse cercada por tanto amor e carinho da sua irmã. Não estava errada, jamais imaginaria que sua irmã sumiria como se fosse uma nuvem de poeira e que tudo começaria a dar errado a partir daquele dia.
25 de agosto de 2008
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Aisha
Romance"NÃO SEI SE VOCÊ PERCEBEU, MAS EU NÃO TENHO UM CORAÇÃO PRA QUE POSSA CONQUISTAR" Luke Davis é um jovem peculiar e esquisito em Moon Garden, uma pacata e humilde cidade no interior dos Estados Unidos, sem muitas experiências e envolvimentos amorosos...