Capítulo 1

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A pacata Moon Garden estava mais agitada que o normal. Junto com a chegada das férias de verão, vinha também a família que estava estampando a primeira capa dos jornais locais com seu brasão imponente, causando um grande burburinho. Eles eram os Andrews, filhos da cidade que haviam ido embora por algum motivo desconhecido.

Os boatos corriam soltos, falava-se que o patriarca enriquecia cada vez mais por meios ilícitos e que sua esposa seria uma socialite egoísta e conservadora que perdoava as traições do marido em troca de bolsas caras. A herdeira Andrews era a verdadeira incógnita em meio a todos os boatos, desde que a primogênita desapareceu, pouco se ouviu falar sobre a mais nova, já que ninguém conhecia ao menos o seu rosto. Muito se especulava sobre ela, talvez fosse apenas uma vítima inocente em meio a maluquice dos pais. Ou seria tão louca quanto eles.

Depois de um semestre letivo totalmente tedioso, havia chegado o primeiro final de semana das férias. Ethan Harris havia decidido que era o dia perfeito para arrastar o amigo introspectivo, Luke Davis, até uma festa nos arredores da cidade. Luke não queria ir, considerava que o lugar fechado, cheio de poluição sonora e jovens fedendo a álcool não o atraía nenhum pouco, até pensou em tentar argumentar, mas seria em vão, bastara Ethan pegar um de seus DVDs da coleção de Harry Potter para ameaçá-lo que ele mudaria de ideia rapidamente.

A decisão era simples: Ficar sem DVDs do Harry Potter que possuíam cenas pós-créditos exclusivas ou viver o que seria facilmente o seu inferno particular.

– Não acredito que me fez vir a esse cubículo barulhento! – Luke falava preocupado – Se meus pais sonharem que eu saí e deixei Nicole sozinha, vão me matar!

Sua preocupação havia uma razão válida, sua irmã de quinze anos ficara sozinha e seus pais estavam confiando nele para cuidar dela enquanto faziam uma viagem pela américa. Nicole não era o tipo de pessoa que gostava de seguir regras e provavelmente aprontaria algo enquanto ele não estivesse.

– Hey, eles não estão viajando? O máximo que pode acontecer é a Nick tacar fogo na casa ou levar algum garoto para...

– Não termine de falar as idiotices que se passam no seu cérebro minúsculo, minha irmã é nova demais para esse tipo de safadezas! – Luke o interrompeu antes dele sugerir que a sua irmãzinha fizesse o que ele considerava uma pouca vergonha, ela não seria capaz... ou seria?

– Você que pensa, não é todo mundo que ainda vive no século 19 como você, chegar aos 17 anos virgem cara... Você precisa resolver esse problema.

– HA HA HA, você é muito engraçadinho, não sei por que ainda ando com você.
– Se não andasse provavelmente seria bv.
Seu amigo não havia dito uma mentira, quando o assunto era garotas, existia uma certa dificuldade gerada pela timidez excessiva do rapaz.

– Relaxa cara, você logo vai encontrar alguém que vai te ajudar com o seu problema, enquanto isso, eu vou ali resolver o meu – Não houve tempo para responder aquela afirmação, Ethan já havia sumido em meio à multidão de bêbados, como em um piscar em olhos.

Já que havia ficado sozinho, a melhor opção de Luke era ir atrás do lugar mais deserto da boate para minimizar os danos que aquela noite geraria em sua audição, definitivamente não se sentia confortável no ambiente e já estava começando a se arrepender de ter ido. Talvez ter um DVD a menos não fosse tão ruim assim.

Antes de ir para um dos lobbies, parou no bar lotado dos fundos para pegar um refrigerante e começar sua busca por um esconderijo que ao menos não fedesse a fumaça dos cigarros de conteúdo duvidoso que circulavam pela festa. Pretendia sentar-se e esperar já que dançar, flertar e ficar bêbado estava totalmente fora de cogitação. Era o que ele achava, ao menos.

– Não sei por que ainda aceito sair com esse idiota, é obvio que ele ia me abandonar de novo – pensou alto enquanto esperava seu drink nada alcoólico – Era obvio que ele iria me trocar pelo primeiro rabo de saia que visse.

– Falando sozinho?

Alguém perguntou do seu lado, com o tom de voz mais rouco e sexy que já tinha ouvido. Havia uma pessoa ao seu lado – provavelmente esperando a atendente do bar também preparar seu pedido – e ele não havia percebido.

Luke olhou rapidamente para a moça, analisando suas características na tentativa de reconhecê-la da escola, mas seu rosto não era tão comum como o das outras meninas que já tinha visto pela cidade. Cabelos escuros e lisos na altura do ombro que combinavam perfeitamente com sua pele negra, seus lábios carnudos que estavam cobertos por um batom vermelho marcante e seus olhos verdes... ele nunca havia se deparado com nenhum olhar tão intenso e sedutor como aquele. Era incrivelmente sexy, única e diferente, havia algo de diabólico que a diferia das outras jovens, era impossível de descrever.

O olhar que deveria ter sido rápido foi estendido por alguns longos segundos e ele ostentava uma expressão boba de surpresa, estava atento a cada um dos detalhes da moça e era provável que durante esse tempo, tivesse chegado até a ficar com a boca aberta de admiração.

– É... sim, quer dizer, não! – gaguejou.
Essa era mais uma característica dele que considerava como diretamente ligada à sua vida amorosa catastrófica. Em maior parte do tempo sua voz saia plena, mas quando havia uma grota bonita em sua frente, seu corpo o boicotava.

– Você é estranho! – Foi a primeira fala da garota que não sabia conter a risada diante da situação – não que isso seja algo ruim, acho fofo – fez questão de completar para não ser julgada de forma errada.

– Obrigada, eu acho – o jovem riu sem jeito para disfarçar a própria vergonha – Meu nome é Davis, Luke Davis e você é a...?

Ela ficou em silêncio durante alguns segundos. Ele estava com a mão estendida para um comprimento formal, mas tudo se seguiu de forma diferente. A garota misteriosa se aproximou de seu pescoço – deixando toda a sua pele arrepiada – para beijar a bochecha dele e sussurrar em seu ouvido:

– O prazer é todo meu, Davis. – Seu cochicho soava como uma canção que o arrepiava novamente, dessa vez por lugares mais inusitados.

Como era possível sentir tantos efeitos próximo a uma estranha que conhecia a menos de dez minutos?

– Vamos dançar?

Outra característica: Luke não sabia dançar, mas aceitou o convite antes que pudesse lembrar desse detalhe. Não, mas seria impossível negar algo a ela, seu olhar... era magnético.

A garota misteriosa então pegou em sua mão gélida e o arrastou para o centro da boate, não demorou a se dar conta que ele tinha dois pés esquerdos e fez questão de mostrar alguns passos simples que ele deveria imitar. Enquanto ele apenas esboçava uma dança, movendo apenas os braços, ela rebolava sensualmente. Luke se esforçava ao máximo para disfarçar o quanto seus olhos azuis estavam focados nas curvas dela, se recriminava mentalmente todas as vezes em que desviava do rosto e baixava a cabeça focando em certas áreas de seu corpo. Ela sentia todo esse olhar sobre si e amava a devoção daquele garoto inexperiente, fazia questão de deixar suas intenções claras com passos mais ousados e provocantes, sua bunda roçava lentamente contra ele e podia jurar que havia sentido um certo volume em seu corpo.

Uma parte de Luke queria voltar a si e se afastar, mas como se fosse um pescador ouvindo o canto de uma sereia, não conseguia se desvencilhar do magnetismo que o atraia cada vez mais.

– O que você quer saber sobre mim? – ela perguntou como se sentisse a dúvida dele pairando entre eles.

– Você tem namorado? – ele perguntou visivelmente tímido. Ela não esperava por esse questionamento, levando em conta que ele mal tinha coragem de abrir a boca.
Azul encarou verde suplicando por uma resposta.

– Não, Davis. Você tem alguém?

– Não, meio que ninguém se interessa por um cara como eu.

Houve um agradecimento mental a Deus pela troca de música, nenhum dos dois sabia o que dizer. Luke não era do tipo de cara que perdia o controle, principalmente com as palavras.

Logo em seguida começou a tocar algo mais lento que permitia uma dança em par e isso serviria para que o clima amenizasse e ele pudesse recuperar a razão que estava perdendo segundos antes. Mas ambos pensavam de formas diferentes, enquanto ele almejava a tranquilidade, ela queria o caos.

A garota misteriosa não esperou que falasse algo ou a chamasse para a nova dança, ela simplesmente tomou as rédeas da situação e o puxou para mais perto de si.

– Nunca dancei assim com ninguém, me perdoe se eu pisar no seu pé ou tropeçar – ele disse em uma tentativa de quebrar o gelo.

– Não ouse, eu juro que chuto suas bolas se você arranhar meu Louis Vuitton – seu tom de voz sugeria seriedade, mas seu sorriso descarado mostrara que era só uma brincadeira.

Estando colados era ainda mais difícil manter o controle, os olhos verdes que mudavam de tonalidade de acordo com a luz encaravam os azuis com intensidade. Já não sabiam mais qual música estava tocando, os batimentos dele aceleravam conforme sentia a respiração dela que estava cada vez mais próxima de si.

Então em um ato de extrema coragem, com toques de insegurança e medo de rejeição, Luke finalmente se entregou a situação, se aproximou dela o suficiente para demonstrar qual era seu real desejo, ainda era tímido demais para beijá-la, mas confiou que se ela queria algo, aquela era a oportunidade. Sentiu seu perfume invadir suas narinas e foi instantaneamente ludibriado, já não queria mais esperar a iniciativa.

Então ele decidiu agir.

Colocou uma de suas mãos por entre seus cabelos e a outra subiu por suas costas lentamente, antes mesmo que pensasse no que fazer a seguir, sentiu seus lábios serem tocados pelos dela. Logo deu passagem para a língua enquanto sua mente alucinava com milhões de cenários ousados. Era quente, tinha um gosto de menta que deixava tudo ainda mais excitante, os movimentos eram perfeitos e as mãos dela sabiam exatamente por onde deveriam percorrer.

Luke havia ficado com algumas outras garotas antes, mas não se considerava um expert, na verdade se surpreendia como seu corpo estava agindo por conta própria, já que nunca havia sido tão ousado quanto naquela noite. No colégio, todos costumam me chamá-lo de estranho ou até mesmo questionar sua sexualidade por ser um isolado e não ter muitos amigos.

Consequentemente, nenhuma garota, nem mesmo as novatas se aproximavam. Já Ethan, seu melhor amigo, era totalmente o oposto. Era especialista em beijar várias e levá-las para cama sem muito esforço.
– Isso foi melhor do que eu imaginei – ela falou assim que a falta de ar os interrompeu, e antes de pensarem no que dizer, se uniram novamente em um beijo ainda mais longo que o anterior.

– Foi o melhor... quer dizer, não que eu não tenha beijado nunca na minha vida, quer dizer... isso foi muito bom, nenhum se compara ao seu – Luke falou, a garota misteriosa apenas riu e focou rapidamente no volume que havia entre as pernas dele e logo sua risada espontânea mudou para algo diabólico. Ela também queria mais do que apenas beijos. 

Sem muitas palavras e em meio a beijos, ambos abriram a primeira porta que viram em sua frente, era um lobbie vip da boate onde ninguém os veria, não tinha mais nada além de alguns sofás no canto que seriam de bom tamanho para o que planejavam. Ela praticamente o jogou agressivamente sobre um deles e retomaram de onde haviam parado. Os novos beijos eram mais vibrantes que os anteriores, havia uma excitação maior pelo risco de serem flagrados, que talvez os locatários daquele lobbie apareceriam e se deparariam com uma cena que causaria grande confusão.

As mãos do inexperiente Luke haviam ganhado vida própria, a tocavam de uma forma que parecia gostar e lhe dar algum êxtase, ela sabia exatamente como o instigar ainda mais, com poucos toques e nenhuma palavra, o único barulho ouvido era o da trilha sonora sensual que se adequava perfeitamente ao momento. Novamente agradeciam mentalmente ao Dj.

Em uma péssima hora, pouco antes de começarem os finalmentes, o celular dela começou a tocar incansavelmente, o clima foi cortado na hora e a garota misteriosa se viu na obrigação de pegar o celular, depois de ver quem estava ligando, sua expressão mudou completamente, como se tivesse visto um fantasma ou algo do tipo.

– Preciso ir, Davis – falava enquanto descia sua saia e colocava seu cabelo de volta no lugar – Vamos terminar isso em outra hora.

– Está tudo bem? Quer que eu te acompanhe? – ele perguntou preocupado.

– Tudo isso foi ótimo, mas eu definitivamente preciso ir – houve apenas um último beijo e ela se foi sem olhar para trás, sem ao menos cogitar ter dito pelo menos seu nome para que ele pudesse procurar por ela.

Nenhum número para contato, nenhum user de alguma rede social... nada.

Apesar de todo o mistério que a rodeava, havia ficado a sensação de que esse não era o último encontro deles e Luke esperava que também não tivesse sido o último beijo.

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