Capítulo 9

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– Eu não acredito que você destruiu tudo em menos de dois meses!

Os gritos de Matteo poderiam ser ouvidos de longe, ele havia dispensado todos os funcionários de dentro da casa para poder dizer tudo o que tinha vontade. Tinha descoberto por terceiros o que diziam de Aisha nas redes sociais e com isso, acabou perdendo um negócio importante já que Mason era filho de um sócio em potencial.

– Não foi minha culpa, eles mentiram, aqueles caipiras me odeiam! – Aisha rebateu.

– Mentira? Você é uma vadia, Aisha. Você já se deitou com mais homens que pode contar e quer que eu acredite que dessa vez não é verdade?

– Eu não sou uma vadia!

– Então qual nome se dá para mulheres como você? Eu nunca me importei com o que você fazia da sua vida mas a única coisa que pedi foi que pelo menos fingisse ser decente pra não arruinar o nome da família mais uma vez. – gritou – Aquela porcaria no seu aniversário não foi o suficiente?

– Você nunca se importou com o que eu fazia porque nem se quer se importa comigo, se fosse a Charlotte...

– Não ouse tocar no nome dela! – era o ponto fraco de Matteo em qualquer discussão e Aisha sabia disso. Falar sobre Charlotte sempre o desestabilizava.

– Ela deve ter fugido porque não aguentou essa merda de família!

Em questão de segundos a mão de Matteo acertou o rosto de Aisha e ela o olhou em choque. Ele nunca tinha a agredido – fisicamente ao menos.

– Eu vou ter que achar um jeito de consertar todo esse circo que você armou mais uma vez, mas não ache que isso vai ficar em pune, você vai consertar todas as suas merdas. – Ele disse rispidamente.

– E se eu não fizer nada, o que vai fazer? Me mandar pro Egito? ou talvez a Itália já que me obrigou a aprender o idioma?
Matteo não disse nada como resposta, lhe deu as costas tentando se acalmar enquanto pensava no melhor castigo.

– Talvez eu acabe fugindo antes como a minha irmã...
Aquilo foi o estopim para tudo o que aconteceu nos dois longos minutos seguinte.

Em dez segundos Matteo agarrou o braço dela com tanta força que aquilo com certeza ficaria marcado.

Aos quarenta segundos ele começou a puxá-la escada acima enquanto ela se debatia, tentando se soltar.

Em um minuto e trinta segundos ele a empurrou dentro do quarto e saiu rapidamente, tirando um grande molho de chaves de dentro do bolso e trancando a porta.

Antes que aquele minuto acabasse, ele gritou:

– Você não vai sair desse quarto até que eu consigo olhar na sua cara sem ter nojo do tipo de mulher baixa que está se tornando!
Aisha gritou dentro daquele quarto. Bateu na porta inúmeras vezes, sabia que provavelmente ninguém a ouviria mas precisava descontar sua raiva em alguma coisa. Aquela tinha sido a segunda humilhação do dia. Seu mundo estava novamente caindo sob sua cabeça.

Ela ficou aos pés da porta por algumas horas – se permitindo finalmente chorar verdadeiramente por tudo – até ouvir uma pedra bater na janela. Foi aí que se deu conta que já era noite e que já tinham passado algumas horas.

Enxugou todos os resquícios de lágrimas e foi olhar quem estava jogando pedras incansavelmente. Era Dean e ela se surpreendeu com isso, imaginava que ele nem se quer olharia mais na cara dela pelo que havia dito de manhã.

– Por favor, me deixa subir – ele falou quase que de forma inaudível para que ninguém o flagrasse.

Aisha não queria mais dramas para aquele dia mas ao notar que ele não estava com o uniforme de segurança, se deu conta do porquê de ele estar ali. Então ela abriu a janela e o ajudou a entrar.

– O que faz aqui? – perguntou.

– Eu sei que você disse que eu não deveria me preocupar com isso porque não temos nada, mas não posso evitar. – Aisha arregalou os olhos.

– Como ficou sabendo?

– Seu pai me demitiu, me disse algumas coisas e eu deduzi o que estava acontecendo. Ele quer nos afastar, Aisha, não podemos deixar isso acontecer.

Isso ela já imaginava que iria acontecer. Matteo procuraria todos os meios de tirar tudo o que pudesse para castiga-la. Dessa vez sem ela se quer ter culpa, tirou primeiro a pouca liberdade que tinha e depois, o cara com o qual transava a algum tempo e tinha algum vínculo – mesmo este sendo minúsculo.

– Eu sinto muito por você estar envolvido nisso – Aisha disse sinceramente.

– O lado bom dessa história é que...

– Não diga o que estou pensando que vai dizer, essa história não tem lado bom.

– Ashie, nós podemos ter algo sério juntos, agora que não trabalho mais aqui podemos tentar, fugir pra longe. – Ele se aproximou e acariciou os braços dela, a puxando para um beijo em seguida.

Ela estava carente de carinho. Não aceitaria namorar com ele mas aceitaria esquecer aquele dia lastimável em seus braços. Então cedeu, baixou a guarda e deixou que seu corpo fosse amado.

O que ela não sabia é que do lado de fora da casa, havia uma pessoa que também estava cheio de amor para dar.

...

Do outro lado da cidade, algumas horas antes, havia um Luke ainda pensativo quanto ao que tinha visto.

Tinha a visto tão frágil.

Ela sempre havia transparecido tanta força desde a primeira vez que a viu. Seus saltos pontiagudos e o seu clássico batom vermelho a deixavam sexy, mas também passavam a imagem de ela ser inalcançável e ser melhor do que qualquer um que tentasse se aproximar. Depois do que presenciou, Luke deduziu que ela pensava nesses detalhes, saber que lidava com a ansiedade a anos o dava a certeza de que a garota era ainda mais forte do que deixava parecer.

Quando a viu no chão sem ar e chorando copiosamente, desejou absorver aquilo, trocar de lugar somente nesses momentos para que ela nunca mais passasse por isso. Nunca havia presenciado uma crise, não fazia ideia de como agir, sua primeira reação foi sentar ao seu lado e abraça-la, repetindo o bom e velho “vai ficar tudo bem, estou aqui com você”. Pareceu funcionar, depois de alguns abraços longos sua respiração foi ficando branda e a primeira coisa que ouviu dela foi um sincero pedido de desculpas.

A verdade é que ele estava chateado com sua reação na mansão, mas depois daquele momento intimo que transcendia qualquer relação sexual, ela não precisava mais se desculpar.

Dois motivos:

1. Agora a entendia um pouco melhor.
2. Agora sabia que estava se apaixonando por Aisha Andrews.

Era cedo. Era arriscado. Era complicado.
Mas era inevitável não se apaixonar depois de um beijo tão intenso.

Depois que chegou da escola, andou pela casa praticamente correndo, ainda evitava a presença da mãe. Ashley tinha escondido um divórcio do próprio filho e todas as vezes que ele perguntava onde o pai estava, ela dava alguma desculpa. Nicole ainda não tinha tido a chance de se assumir para Peter e por isso não tomou coragem de falar sobre com nenhuma de suas amigas, isso só deixava Luke ainda mais irritado. Sua irmã não merecia continuar dentro do armário por conta de dois adultos mentirosos.

– Luke? – Ashley o chamou quando o viu passar apressado pela cozinha. – Você não pode me ignorar pra sempre!

– Mas posso continuar tentando sem esforço.

– Não seja injusto comigo, tudo que fiz foi pra proteger você e sua irmã! – seu tom de voz se elevou, fazia tempos que não ouvia sua mãe começar a perder a paciência.

– Proteger com mentiras? Vocês saíram pra viagem dizendo que estava tudo bem, foram só algumas semanas, mãe, como puderam mentir tanto? Ou brigaram tanto na viagem que não aguentaram mais a cara um do outro e se separaram? Engraçado é que eu acreditava que vocês se amavam de verdade...

– Luke, você tem dezessete anos, um dia você vai casar e espero do fundo do meu coração que não precise sentir na pele para entender que nem sempre o amor é o suficiente para uma relação dar certo, as vezes os sentimentos precisam de manutenção cuidadosa e nem sempre temos tempo pra isso.

Suas palavras faziam sentido para ele mas não iria dar o braço a torcer, estava magoado demais.

– Onde o papai está? – perguntou mesmo sabendo a resposta que receberia – Não me conte mais mentiras, você sabe a verdade e me deve essa resposta.

– Infelizmente não posso ajudar – Ashley suspirou, estava farta de mentir – a única coisa que sei é que ele começou o pagamento da pensão de vocês. Apenas manda o dinheiro e não diz nada, não responde minhas mensagens desde o dia que eu cheguei da viagem. Eu realmente sinto muito por vocês estarem no meio disso tudo.

Luke não disse nada. Uma hora ou outra perdoaria a mãe, mas não conseguia encará-la da mesma forma enquanto se sentia traído pelas mentiras.

Será que o próprio pai, que tinha sido seu herói preferido quando era apenas uma criança, teria sumido propositalmente?
Será que tinha trocado a própria família pelo trabalho? Ou já teria arrumado outra família?

Eram muitas incógnitas. Sua mente era especialista em criar várias teorias mas já não aguentava mais pensar nisso. Precisava sair de casa para respirar.

Calçou seus tênis esportivos e saiu correndo pela cidade sem um rumo definido. No meio do trajeto passou em frente a uma floricultura ainda aberta e naquele momento, seu inconsciente soube exatamente até onde iria.

Sentia uma grande necessidade de que pelo menos em um âmbito da sua vida pudesse se sentir bem. Sempre tivera uma vida tão tranquila e boa, não estava acostumado com tanto caos.

Seu subconsciente o levou por uma longa caminhada atravessando a cidade. Quando parou – quase sem forças para dar mais um passo –, se viu novamente em frente daquela mansão absurdamente grande. Passou dez minutos parado em frente ao portão, cogitando dar meia volta e ir correndo pra casa ou talvez chamar um táxi já que suas pernas estavam cansadas demais para enfrentar alguns quilômetros no percurso de volta. Quando Ashley percebesse que tinha saído, o deixaria de castigo mas Luke julgava que isso valeria a pena. Estava determinado a assumir os sentimentos recém descobertos pela garota.

Depois de ser revistado três vezes e ter que comprovar a identidade de inúmeras formas possíveis, a equipe de segurança o deixou entrar. Todas as luzes da casa estavam apagadas, com a exceção de uma no segundo andar. Era o quarto dela. Se aproximou lentamente da entrada sem tirar os olhos da luz mas viu algo que o fez frear antes de bater na porta.

Tinha um homem no quarto.

Luke viu pela sombra da janela que a garota pela qual estava se apaixonando não estava só. Reconheceu que era uma silhueta masculina e pelos toques que viu, entendeu o que estava acontecendo naquele quarto.

Ele a beija.

Ela enlaça seu corpo.

Luke não queria ver essa cena.

“Não quero ver essa cena.”
“Não quero ver essa cena.”
“Não quero ver essa cena.”

As rosas brancas – que tinha colhido no caminho e eram semelhantes às que vira na vitrine da floricultura – tocaram o chão.
Nunca em seus dezessete anos de vida, Luke tinha se sentido de forma semelhante.
Suas mãos ainda doíam pela forma como ela cravou as unhas nele, mas essa dor era mínima comparada ao que sentia naquele momento. Se sentiu otário por ter se preocupado tanto enquanto Aisha estava com outro.

Agora, depois do que viu pela sombra da janela, nada do que havia sentido importava mais.

Um pedacinho do seu coração se partiu naquele momento.

Não seria a última vez que se partiria por ela.

AishaOnde histórias criam vida. Descubra agora