Fico parada. "Não", penso "foi tudo coincidência". Respiro fundo, e vou novamente para casa.
No caminho, olho para o jornal novamente. Solto um suspiro e decido fazer outro caminho. Entro em outra rua. E grito.
A minha frente, está um garoto, mais ou menos da minha idade, tem os cabelos pretos, os olhos possuem um tom acinzentado, é mais alto que eu. Ele está empunhando uma... Espécie de espada transparente, mais pura que cristal. A seus pés, o chão está escuro, e, espalhado pelo seu casaco há um líquido escuro e ácido. Sangue.
O garoto olha para mim e pisca.
- Você...
Eu grito e corro. Ouço passos apressados as minhas costas. Sinto uma mão pegando meu braço e me forçando a parar. Viro-me. É o garoto. Ele me avalia pausadamente.
- Você é somente uma mundana...
Engulo em seco.
- Ouça, - fala ele - não quero e nem irei te machucar. - e me soltou.
Sabia que deveria ter corrido novamente, mas continuei parada.
- Olhe, - prosseguiu ele - sei que deve estar em choque, mas se vier comigo, conheço pessoas que irão ajudá-la a entender...
- E... E se eu não for com você?
- Então, pode continuar com a sua vida, como aliás, estava fazendo.
Eu hesitei. Poderia ir embora, ele não tentaria me impedir. Mas, conseguiria continuar vivendo assim, enlouquecendo aos poucos?
- Estou ficando louca?
Ele deu um meio sorriso arrogante.
- Talvez.
- Quem é você?
- Me chamo Peter.
- O que é você?
- Muito provavelmente sou como você.
- Muito provavelmente?
- Sim. A seção "pergunte gratuitamente ao Peter" já acabou?
Fiquei em silêncio.
- Minha vez. - falou ele - Quem é você?
- Não costumo dar informações pessoais a completos estranhos.
- Muito menos eu.
Fez-se uma pausa. Então respondi.
- Me chamo Jennifer.
- O que é você?
- Sou uma estudante normal, que leva uma vida normal. - falei, irritada.
- Talvez.
O encarei.
- O que aconteceu na rua antes de...
- ...de você chegar e correr por aí gritando? - completou ele - Nada, somente estava batendo um papo amigável com um demônio.
- Você é louco. - falei e me virei, indo na direção de casa.
Voltei para casa, com o pensamento seguro de que o garoto com quem falara era doido. Porém, o que não saíra da minha cabeça era a espada (ou o que quer que aquilo fosse), a marca no chão a frente do garoto, e o líquido escuro que parecia arder, e que eu reconheci como sangue.
Em casa, escapei da desconfiança de minha mãe sobre o porquê que eu demorara a chegar, falando que havia ido dar uma volta com alguns amigos. Fui para meu quarto, e desabei de exaustão. Meu ombro que levava a bolsa carteiro doía por ter ficado tempo demais com a bolsa cheia de livros e matérias do colégio. Soltei um longo suspiro. Fiquei por um tempo deitada, de olhos fechados. Ouvi minha mãe me chamando para ir comer algo, e fui para a sala.
- Filha... - começou com um sorriso, mas logo este desapareceu - O que é isso? - falou apontando para um ponto da minha blusa no braço.
Vi o que era: o sangue escuro que estava no casaco de Peter. Deve ter ficado um pouco dele quando pegou meu braço. E eu não percebera antes.
- Aula de artes, a professora disse para tentarmos novas combinações de tons de tinta. - respondi, rapidamente.
A expressão dela não suavizou. Sem falar nada, entregou-me uma maçã. Voltei para o quarto, dando uma mordida na maçã. Alguma coisa na reação da mãe me incomodou. Como se soubesse o que exatamente era aquilo, e que não era nada bom.
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Coração Marcado
Hayran Kurgu"Eu concordaria com qualquer coisa para sair de lá. Lágrimas ardiam no fundo dos meus olhos, mas eu não ousaria liberá-las. Eu tinha que ser forte, não poderia demonstrar fraqueza, principalmente na frente daquelas pessoas." - Coração Marcado E...