Capítulo 2

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Pude ver uma movimentação em casa. Praguejei, pois hoje nem consegui usar o banheiro na biblioteca por estar lendo e odiava ter que sair do meu quarto com pessoas estranhas lá. Dei a volta e espiei a janela do meu quarto. A porta parecia trancada. Não havia nada que pudessem me roubar, mas seria péssimo deixar alguém entrar lá. As pessoas que frequentavam minha casa não eram boas influências. Abri a janela e me impulsionei para cima, entrando no quarto. Olhei debaixo da cama e dentro do armário, estava segura. Tranquei a janela e joguei-me na cama. Eu só poderia sair do quarto pela manhã, não gostava de me arriscar. Se não ouvissem barulhos, nem lembrariam que eu existo, mas se soubessem que estava aqui, me importunariam pela noite inteira, até apagarem com o efeito de drogas e bebidas.

Troquei de roupa, tomei o restinho de água que tinha na minha garrafinha no quarto e me deitei para dormir, deixando meu celular de tela quebrada ao meu lado carregando e programado para despertar às oito da manhã, para que eu pudesse tomar banho e estar na faculdade às nove.

Despertei com batidas violentas na porta, eram três da manhã. Que conveniente, a hora do diabo.

— Jade... Oh, minha Jade. Quando vai me deixar entrar? Você já tem idade, querida, abra a porta.

Coloquei o travesseiro por cima da minha cabeça para abafar o som e tentei voltar a dormir, rezando para que um milagre acontecesse e um dia eu saísse desse inferno de casa.

***

Na manhã seguinte, nada fazia as horas passarem mais depressa. As aulas passaram tão lentas, que me faziam querer correr para biblioteca antes mesmo de acabarem. O trabalho me remunerava em trezentos dólares, por seis horas diárias de segunda a sexta-feira. Eu não tinha recebido meu primeiro salário, afinal, fazia poucos dias que estava estudando e trabalhando. Mas eu tinha os lanches gratuitos no refeitório, e só isso já era maravilhoso para mim.

Depois das aulas, eu nunca voltava para casa. Passava meu tempo lendo na biblioteca até dar a hora de colocar minha digital para iniciar meu turno. Então, quando as aulas acabaram, corri para o refeitório, comi rapidamente, fui para biblioteca, peguei o livro e me escondi em um corredor afastado no andar de cima.

O prédio tinha o térreo, onde ficavam vários corredores formados por prateleiras lotadas, com placas indicando que tipo de livros os visitantes encontrariam por ali. No centro da biblioteca ficavam mesas compridas e cadeiras almofadadas para os alunos se sentirem confortáveis, mas, em minha opinião, ficavam muito expostos. Era bom para nós funcionários que tínhamos que ficar de olhos neles, mas para mim como leitora, que gostava de sossego enquanto lia, era péssimo. No canto oposto ao da porta que ligava a faculdade à biblioteca, havia uma escada larga e comprida, que levava para o andar de cima, onde havia mais e mais livros. Entre a entrada e a escada, ficava o balcão de atendimento. À nossa frente, as mesas compridas e, depois delas, outra porta para as pessoas que não viriam pela faculdade.

No andar de cima, a parte central era toda aberta, onde, em qualquer parte do parapeito que ficássemos, conseguiríamos enxergar as pessoas lá embaixo; e no centro, havia um bonito e grande lustre.

Os alunos costumavam se reunir na biblioteca para fazerem seus trabalhos depois da aula, o que deixava tudo lotado, então, para não chamar a atenção ou ser interrompida, comecei a ficar sentada no chão no último corredor de um dos cantos do primeiro andar, no meu tempo de folga.

Eu tinha pouco mais de uma hora para ler antes de começar o trabalho, não queria mais perder tempo. Abri o livro e encarei novamente aquela fonte manuscrita. Ainda era dia, então consegui ver com mais clareza que realmente aquilo não se tratava de uma fonte, e sim de escrita à mão. A estranheza ameaçou me dominar, mas a curiosidade... ah, essa maldita ainda ia me matar. Prossegui na leitura.

Dahlia, a bruxa, narrava a abordagem feita pelo seu, até então, pretendente. Todas as mulheres do vilarejo sonhavam com ele. Por onde ele passava, era seguido por uma legião de suspiros e desejos silenciosos.

Ele nunca estava sozinho. Killian andava com um grupo de quatro amigos, que eram extremamente atraentes também – que conveniente para as mulheres do vilarejo –, mas tudo mudou para ela quando ele a viu. Antes, sua mente só pensava em possibilidades, mas notou o interesse recíproco nele e aquilo só perturbou ainda mais sua mente, principalmente pela vibração estranha que sentiu emanar dele naquele momento. Abordou-a educadamente, mas assim que se tocaram, ela soube: Killian era um lobo.

Dahlia tentou correr, fugir dos sentimentos avassaladores que a dominavam: a atração, o perigo, o proibido. Lobos e bruxas eram inimigos há séculos, assim como os vampiros. Mas Killian tinha o dom de manipular, convencendo-a de que era seguro, instigando-a a quebrar as regras.

Depois de tanto ser cercada e tentada por aquele que passou a denominar de perverso, rendeu-se. Caindo de amores por ele – clichê, quem não sabia que isso aconteceria? Mas nem por isso deixava de ser interessante –, o romance entre os dois se desenvolveu a ponto de ela querer fugir para longe, depois de seus pais terem descoberto o caso que estava tendo. Jovem, negra, final do século XIX, não precisava de muito para desonrar o nome de uma rara família de negros que tinha dinheiro, independência e liberdade. Então, ela, Killian, seus quatro amigos e outras duas bruxas fugiram para muito, muito longe.

Olhei as horas no relógio pendurado na parede, era hora de ir trabalhar. Que droga! Como vou sobreviver sem saber o que fizeram depois de fugirem?

Andei apressada até a área dos funcionários, deixei o livro lá e coloquei minha digital. Voltei para a biblioteca e comecei a trabalhar, tentando me manter ocupada até a hora da pausa, onde eu teria mais alguns minutos de leitura. Pensei em me esconder no banheiro por alguns minutos, mas acho que a Sra. Mevis iria desconfiar e eu não queria abusar da sorte, apesar da minha mente estar assim: "só mais uma página, só mais um capítulo...". Sorri. O que seria de mim se eu não tivesse essa biblioteca mágica? Talvez eu já tivesse morrido.

Xx

Ai gente...

Estou muito feliz por estar de volta!
E eu só estou imaginando a reação de vocês nos próximos capítulos 😂😂😂😂

Lety F x

O Monstro do Amor - Série Homens da Sombra Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora