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Any

- É aqui? - Any espiou para fora da janela do táxi. - Que incrível. Ele tem vista para o Central Park. Eu daria tudo para morar tão perto da Tiffany's.

O motorista olhou pelo retrovisor.

- Precisa de ajuda com todas essas malas?

- Eu dou um jeito, obrigada - disse Any enquanto pagava a viagem.

Fazia um frio cortante e nevava muito. Os flocos rodopiantes, que reduziam a visibilidade, pousavam sobre seu casaco. Alguns deles descobriam uma pequena e desprotegida brecha em seu pescoço, e deslizavam como dedos frios por dentro do agasalho. Em poucos instantes, Any e sua bagagem estavam cobertos. A calçada estava pior ainda. Seus pés escorregavam no carpete espesso de gelo e neve, perdendo a aderência.

- Ah... - Seus braços rodopiaram e o porteiro adiantou-se, agarrando-a antes que Any fosse ao chão.
- Se segura aí. O chão está perigoso.

- Nem me fale. - Ela se agarrou ao braço dele enquanto esperava o coração se acalmar. - Obrigada. Não seria nada bom passar o Natal no hospital. Ouvi dizer que a comida é péssima.

- Vamos ajudar você com as malas. - Ele levantou a mão e dois rapazes uniformizados surgiram e colocaram as malas e caixas em um carrinho de bagagem.

- Obrigada. Isso tudo vai para o último andar, na cobertura. Imagino que vocês estão informados sobre mim. Vou passar uns dias aqui, decorando o apartamento de um cliente que está fora. Josh Beauchamp.

O escritor de romances policiais com uma dezena de best-sellers. Any nunca leu um deles sequer. Ela detestava crimes, reais ou ficcionais. Preferia olhar o lado positivo das pessoas e da vida. E preferia dormir à noite.

Conforme Any entrava no hall, sentia o calor do prédio a envolver, dando-lhe conforto depois da nevasca gelada na 5a Avenida. Suas bochechas pinicavam e, apesar das luvas, a ponta de seus dedos estavam dormentes de frio. Mesmo o gorrinho de lã que cobria seus ouvidos não foi capaz de impedir a mordida feroz do inverno nova-iorquino.

- Preciso de sua identidade. - O porteiro era acelerado e objetivo. - Tivemos uma onda de invasões na área. Qual é o nome da empresa?

- Gênio Urbano. - Era tão recente dizer esse nome que ainda dava rompantes de orgulho. Era a empresa dela. Que ela criou com suas amigas. Any entregou a identidade. - Não estamos há muito tempo no mercado, mas estamos passando por Nova York como um furacão. - Ela sacudiu a neve das luvas e sorriu. - Bem, talvez esteja mais para uma brisa leve do que para um furacão, visto o que está acontecendo lá fora, mas estamos confiantes do futuro. Estou com a chave do apartamento do sr. Beauchamp.

Ela balançou o molho de chaves como prova. A expressão do porteiro ficou mais calorosa depois de oscilar olhares entre a chave e a identidade.

- Você está na minha lista. Só preciso que você assine aqui.

- O senhor pode me fazer um favor? - Any assinou com um floreio de mão. - Quando Josh Beauchamp aparecer, não diga a ele que estive aqui. É para ser uma surpresa. Ele vai abrir a porta da frente e ver o apartamento pronto para as festas de fim de ano. Vai ser como entrar em uma festa de aniversário surpresa.

Passou pela cabeça de Any que nem todo mundo gostava de festas surpresas, mas quem era ela para discutir com a família de Josh? A avó dele, que foi uma das primeiras clientes da Gênio Urbano e que se tornara uma boa amiga, deu ordens claras e diretas. Prepare o apartamento e deixe-o pronto para o Natal.

Josh Beauchamp, ao que parecia, estava em Vermont, compenetrado em seu livro e no prazo para entregá-lo. O mundo à sua volta deixou de existir. Além de decorar, Any deveria cozinhar e encher o congelador de comida. Ela tinha o fim de semana inteiro para fazê-lo, pois Josh só iria chegar na semana que vem.

Milagre Na 5° Avenida - Beauany Onde histórias criam vida. Descubra agora