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Any

Sério que ela disse que ele tinha um corpão?

Ela ia ter que colocar fita adesiva na boca. Ou grampear o maxilar. Qualquer coisa que a impedisse de tagarelar como uma idiota na presença de Josh.

Mas parte da culpa era dele. Sempre que Josh a olhava, Any se sentia queimar pelo calor da tensão sexual. Cada olhar ardente fervia seu cérebro, incinerando os últimos traços de seus filtros ineficientes.

De nada servia dizer a si mesma que Josh não estava interessado ou que ele estava indisponível. O corpo de Any não ligava.

Decidida a manter a boca fechada na próxima vez que estivessem juntos, ela limpou a cozinha, lustrou o fogão até que brilhasse e se acomodou junto ao balcão da cozinha com seu vinho e uma pilha gigante de cartas.

Começou dando um jeito no lixo, rasgando cuidadosamente a parte que continha o endereço e descartando no cesto de recicláveis. Depois voltou-se ao resto.

A maior parte era de convites. Quatro festas de editoras, o lançamento de outro autor, nove bailes de caridade, uma noite de ópera e duas pré-estreias de filmes. Além disso, havia 12 cartas com pedidos de doação.

Ela sequer sabia que as pessoas ainda escreviam cartas. E nove bailes de caridade?

Any analisou os convites espalhados à sua frente com mais do que uma pontada de inveja. Ali, diante de si, estavam as provas de uma vida interessante..Se sua vida social fosse assim, suas chances de encontrar alguém aumentariam significativamente.

— Josh Beauchamp — murmurou —, para alguém que não é tão chegado em festa, você recebe muitos convites. — Eram festas a que ele, sem dúvida, não iria.

E Any sabia que o motivo para não ir a esses eventos não tinha nada a ver com o prazo de entrega do livro.
No estado mental em que se encontrava, julgava a companhia de estranhos pouco atraente, assim como ela.

Any pegou o laptop e começou com as cartas.

“Prezada Caroline” digitou, “obrigado por suas palavras gentis sobre meus livros. Fico lisonjeado em saber que...” a fez uma careta, estremecendo-se um pouco enquanto digitava, desejosa de poder mudar aquele título. “Morte, com certeza foi sua leitura predileta do ano.”

Escreveu a resposta demoradamente e então assinou com “Meus melhores votos, Josh Beauchamp”.

Era formal demais?

Com um sorriso, deletou Beauchamp e colocou “Beijos”. Any poderia apostar que Josh nunca terminaria uma carta com beijos. Cada carta teve o mesmo tratamento. Depois, Any partiu para os convites, recusando educadamente cada um, até chegar ao último da pilha.

Do lado de fora da janela, o breu se estendia e o Central Park ficou banhado em uma mistura etérea de luz e de neve. O último convite era para o Baile Snowflake, no hotel Plaza.

O convite era em forma de floco de neve e trazia relevos em prata. Any o encarou. Se recebesse um convite lindo assim, mandaria enquadrar e penduraria na parede. Ele tinha sorte por ela estar colocando a correspondência em ordem.

Faltava menos de uma semana para o baile. Era tarde demais para responder? Não. Josh era convidado VIP. Sempre teria lugar, independente do quão tarde confirmasse o RSVP.

Any conferiu os detalhes. A renda do evento iria para uma obra de caridade que treinava e cedia cachorros de terapia para idosos. O coração de Any derreteu. Ela sabia quantos idosos eram solitários.

Pegou o telefone num impulso.

— Oi, estou ligando em nome de Josh Beauchamp... Sim, trabalho para ele... — Não era mentira, era? — O sr. Beauchamp comparecerá ao Baile Snowflake. Sim e com uma convidada. Vamos informar o nome depois. Muito obrigada. — Ela desligou, imaginando o que teria acontecido se não tivesse aberto a correspondência.
Ele perderia o baile, o maior evento social no calendário nova-iorquino.
Ficaria furioso consigo mesmo.

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