01

213 14 0
                                    

Any

O mar está cheio de peixes, mas isso é inútil se você mora em Nova York.
- Any

- NÃO PODEMOS MANDAR DOIS pombinhos! Sei que ele vai pedi-la em casamento no Natal e que acha isso romântico, mas não vai ser nada romântico quando o lugar estiver coberto de cocô de pássaro. O salão vai colocar a gente na lista negra e o amor da vida dele vai responder "não", o que vai destruir o final feliz que tanto queremos. - Ajeitando o celular em uma posição mais confortável na orelha, Any Gabrielly se aninhou dentro do casaco.

Do lado de fora da janela do táxi a neve caía sem parar, desafiando as pessoas que tentavam removê-la. A impressão era de que, quanto mais tiravam, mais neve caía. Na disputa entre homens e os elementos da natureza, a humanidade com certeza estava perdendo. A nevasca turvou quase toda a vista da 5a Avenida: as vitrines cintilantes foram silenciadas e veladas pelos flocos que caíam.

- Vou ajudá-lo a reformular sua concepção de "romântico", e isso não vai incluir passarinhos, galinhas de qualquer nacionalidade, chocadeiras, gansos, nem nada do tipo. E já que estamos nesse assunto, um anel de ouro basta. Para que cinco? Ele quer algo magnífico, não excessivo. Não é a mesma coisa.

Como sempre, Sabina era prática:

- Laura sonha com esse momento desde menininha. Ele se sente pressionado a fazer tudo perfeito.

- Tenho certeza de que o sonho dela não incluía uma coleção de animais selvagens. Vou bolar um plano e vai ser espetacular. Ninguém entende de romance mais do que eu.

- Exceto quando é para você mesma.

- Obrigada por me lembrar que minha vida amorosa é inexistente.

- De nada. E já que concordamos sobre a situação, talvez você queira me dizer o que pretende fazer para mudar.

- Absolutamente nada. E não vamos falar sobre isso de novo. - Any remexeu na bolsa e puxou o bloco de notas. - Podemos voltar aos negócios? Falta um mês para o Natal.

- Não temos tempo para criar nada muito elaborado.

- Não precisa ser elaborado. Precisa ser emocionante. Ela tem que ficar comovida pelas palavras dele e pelo sentido por trás delas. Espera aí... - Any bateu com a caneta na página. - Eles se conheceram no Central Park, né? Passeando com os cachorros?

- Sim, mas, Any, o parque está enterrado sob meio metro de neve e não para de cair mais. Um pedido de casamento no Central Park agora pode terminar no pronto-socorro. O que seria memorável, só que pelos motivos errados.

- Deixa comigo. Vou ter bastante tempo para pensar nos detalhes nos próximos dois dias, pois vou estar sozinha na casa de um cara aí, decorando e enchendo a geladeira para quando ele voltar de viagem do deserto. - Ela fez uma anotação para si mesma e deslizou o bloco de notas para dentro da bolsa.

- Você está trabalhando demais, Any.

- Não acredito que estou ouvindo isso de você.

- Até eu dou uma relaxada de vez em quando.

- Não reparei. E, caso você não tenha percebido, nosso negócio está crescendo.

- Ele não vai parar de crescer se você tirar uma noite de folga para um encontro mais quente.

- Obrigada, mas há um pequeno probleminha no seu plano. Não tenho encontro quente nenhum. Nem um encontro morno eu tenho...

- Você não acha que deveria tentar procurar alguém pela internet de novo?

- Detesto marcar encontros pela internet. Prefiro conhecer pessoas de outra forma.

- Mas você não tem conhecido ninguém! Você só trabalha. E dorme abraçada no seu ursinho de pelúcia.

Milagre Na 5° Avenida - Beauany Onde histórias criam vida. Descubra agora