Capítulo 5.

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*Ana Clara*

Há somente três coisas que são capazes de me deixar triste.

1° meus pais
2° ver minhas amigas tristes
3° a falta de sexo.

E agora, encarando a tela do meu celular, eu queria muito que o motivo do meu mau humor e tristeza fosse a falta de sexo e não os meus pais marcando um almoço de última hora comigo.

Respirei fundo buscando energia e forças e vesti um vestidinho básico de alças finas e decote reto da cor rosinha bebê e uma sandália nos pés.

- Ué, para onde vai? - perguntou Júlia entrando em meu apartamento junto de Helena.

- A caminho do inferno - digo e é o suficiente para que elas entendam.

- Vamos com você. - diz Júlia rapidamente.

- Sim, nós vamos. - concordou Helena e sorri fraco recebendo um abraço das duas engolindo toda a vontade de chorar.

Eu nunca comentava sobre meus pais porque para mim eles estavam mortos e enterrados a muito tempo, assim como eu estava até hoje para eles.

- Quero ir sozinha, meninas.

- Tem certeza?

- Tenho, Maju. Não se preocupem, vou ficar bem.

- Vai para a boate ainda hoje à noite? - perguntou Helena.

- Vai por mim, vou precisar muito disso quando eu voltar.

Nem cheguei a encostar no prato de comida, a tristeza apossou meu corpo e sentia meu coração apertar pela ansiedade e isso me deixava sem fome e fatigada. Só queria acabar logo com isso de uma vez por todas e dirigi até a casa dos "meus pais".

Assim que cheguei o porteiro abriu as portas para mim e agradeci seguindo para a sala onde eles estavam.

O silêncio ensurdecedor era de matar qualquer pessoa ansiosa.

- Está atrasada. - comentou dona Cecília, ríspida como sempre.

- Estava ocupada - menti. - vamos logo com isso.

- Fale direito conosco, garota. - diz Ricardo e apenas virei as costas indo me sentar na mesa ouvindo os passos atrás de mim.

Dona Cecília e Ricardo, meus pais. Ou melhor, é o que eles deveriam ser.. Começamos a comer em um completo silêncio, ninguém falava ou perguntava nada. Mas logo Ricardo o quebrou, e preferia que não tivesse feito.

- Quando você vai criar juízo? estamos cansados de tentar.

Não disse nada, meu pai é um advogado muito requintado e famoso, minha mãe também é advogada, digamos que eu vim de uma família rica, mas.. sempre tem que ter algo de ruim. Eles me odeiam e nunca me apoiaram no meu sonho de ser modelo, sempre optaram por querer que eu seguisse seus passos, mas como não os segui, me mandaram embora de casa assim que fiz meus dezoito anos e foi aí que fui morar com as meninas e me virei sozinha para me sustentar, sem precisar do dinheiro dos dois.

- Até onde sei não estou maluca. - rebato no mesmo tom.

- Mas burra está. Quero ver até quando você pensa que se exibir por aí vai te sustentar.

- Até o momento está funcionando, não vê? - zombei.

- Você me envergonha. Você suja o nome dessa família, carregamos uma história no nosso sobrenome e você simplesmente ignora isso.

- Eu estou seguindo meu sonho. - digo seca.

- Sonho? você chama isso de sonho? isso que você faz é moleza. Qualquer homem quer olhar para uma mulher que não se valoriza e adora aparecer praticamente nua por aí. É por isso que você não arruma ninguém, ninguém vai amar e querer uma mulher que não se respeita ao seu lado, pelo menos um homem descente não. - suas palavras eram como lanças de aço, que eram direcionadas e atiradas em minha direção em um campo fechado, escuro e sombrio. Onde meus pés não eram capazes de se mover, onde só me restava tentar me proteger o máximo possível para que não me machucasse tanto.

- Filha, nos escute - começou Cecília mas a interrompi.

- Não quero saber, vocês sempre fazem isso e nunca me escutam, você só pensa em você e na sua visibilidade, você é um egoísta.

- VOCÊ NOS ABANDONOU E SUJA NOSSO NOME SE EXIBINDO E SE VENDENDO COMO UMA PROSTITUTA E EU SOU EGOÍSTA? - ele gritou e encolhi meus ombros com medo, senti meus lábios tremerem e meu corpo paralisar.

- Já chega, Ricardo. Você prometeu que iríamos conversar dessa vez. - diz Cecília.

- Eu tenho nojo dessa garota - levantou e saiu batendo as portas.

Logo Cecília trouxe água para que eu tomasse e assim o fiz.

- Me desculpa, filha..

- Você nunca me protege, você nunca protegeu, eu não sou sua filha.

- Só queremos o seu bem.. queremos que se porte como uma mulher de respeito.. como você vai conseguir alguém assim? se casar? ter filhos? filha.. me entenda.

- Eu já entendi, ninguém aceitaria amar uma exibicionista. Não é preciso repetir, muito obrigada pelo almoço.

Levantei indo em direção ao meu carro dirigindo de volta para o apartamento e quando cheguei sentei no chão caindo aos prantos. Eu era tão suja assim? era tão difícil me amar? eu sempre fui uma garota boa com todo mundo, porque não podia ter pais que me amassem e cuidassem de mim?

Afundei o rosto em minhas pernas soluçando e tremendo, eu só queria que eles se sentissem orgulhosos de mim..

Ouço a porta se abrir mas não levanto o olhar pois sei que são as meninas e logo o cheiro da Maria Júlia me cerca junto de seus braços me aconchegando enquanto Helena afaga meu cabelo.

- Porque eles me odeiam tanto? - perguntei com dificuldade.

- Eles são uns idiotas, não merecem a filha que tem, não deixe que eles ditem seu valor. Você é talentosa e nos orgulhamos de você - diz Júlia e assenti fraquinho ainda com o rosto em seu peito.

- Você é muito amada por nós, Ana. Não se esqueça disso em nenhum momento, ok? - concordei para Helena e levantei o olhar para as duas que estavam chorando junto à mim, ficamos sentadas por um longo tempo até que eu me acalmasse.

- Tem certeza que quer sair hoje? podemos remarcar e ficar juntas assistindo algo. - diz Júlia receosa.

- Sim, eu quero ir. - concordo e as duas não falam mais nada.

Depois de longos segundos Helena sugeriu que tivéssemos uma tarde das garotas e assim fizemos, pintamos as unhas, arrumamos os cabelos depois de lavá-los e hidratar, nos depilamos e comemos brigadeiro brasileiro que Helena fez.

Respirei fundo enquanto assistíamos a série titãs, eu estava deitada no colo de Júlia enquanto a mesma me fazia cafuné. Acho que só Deus sabe o quanto sou grata em tê-las junto à mim pois foram as duas que me incentivaram a continuar firme na tentativa de ser modelo, elas não me deixavam desistir e sempre me empurravam mesmo que fosse a força para mais um teste e bum, eu consegui.

Talvez eu não tivesse o amor dos meus pais, mas pelo menos estava cercada por pessoas que me amam e gostam de mim. E, para mim, isso basta.

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Boa leitura! ❤

Por uma noite - Livro 2 da saga: Os cavalheiros Onde histórias criam vida. Descubra agora