Capítulo 46

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*Ana Clara*

Hoje seria a audiência, onde Ricardo e Cecília iriam ser dados como culpados e presos para receber tudo que merecem.

Se passou semanas e no decorrer delas, Merlia depôs contra ele contando todos os detalhes ao detetive. Ela ficou tensa no começo, mas comigo e com Miguel ao seu lado se sentiu mais confortável e contou tudo, em todo momento me mantive firme, mas quando tudo acabou e cheguei em casa, desabei em choro depois de ouvir tudo que aquele monstro fizera. Acredito que tomadas pela iniciativa de Merlia, mais cinco mulheres apareceram alegando e depondo contra Ricardo, que também foram vítimas dele. Para todas eu pedi perdão e conversei, tentando consolá-las da melhor maneira possível.

Miguel e eu não trocávamos nenhuma palavra a não ser o mínimo, era como se tivéssemos nos tornados dois estranhos. Mas acredito que estávamos ocupados demais com o processo e querendo o mesmo objetivo, Ricardo e Cecília presos.

Entrei no local onde ocorreria a audiência retirando meus óculos escuros e avistei Merlia sentada ao lado de Miguel dentro do tribunal e sentei do seu lado a deixando no nosso meio. Todos estavam aqui, ninguém quis ficar em casa para esperar as notícias.. acredito eu que todo mundo queria ver o desgraçado se dando mal.

Falando nele, as portas foram abertas e o mesmo entrou com as mãos presas em frente ao corpo junto de Cecília, que iria ser presa por ser cúmplice dele, e se sentaram esperando sua sentença. Seu rosto ainda estava deformado, acho que nunca mais voltará a ser o mesmo, ainda estava roxo e machucado.

Vi Miguel apertar os punhos trocando um breve olhar com ele e por um impulso toquei sua mão o fazendo me olhar e relaxar no mesmo instante. Apertamos a sobrancelha e afastei minha mão que agora estava quente pela sensação do toque dele.

O juiz começou a audiência e todos nos calamos prestando atenção. Em alguns momentos observei Merlia tensa e agarrei sua mão a acalmando até o final do processo.

Os meninos, todos até mesmo Tyler estavam vestidos em ternos pretos de três peças e com as pernas cruzadas lançando um olhar mortal à Ricardo, que acredito estar se borrando de medo porque toda vez que encontra o olhar deles, desvia para algum canto.

De certa forma doía em mim, ver os dois seres humanos que eu idolatrava até uma certa idade, sendo presos por causarem mal as pessoas. Parecia errado sentir essa dor, mas meu peito estava sendo esmagado a cada palavra dita pelo juiz.

-.. o réu é declarado culpado de todas as acusações e cumprirá uma pena de 14 anos de prisão em cárcere privado.. - diz o juiz e em seguida bate o martelo. - Cecília Martins é declarada culpada por ser cúmplice de seu marido e estar ciente de todos os seus atos durante todos esses anos e cumprirá uma pena de 14 anos de prisão.

O som do último martelo soou dando fim à audiência e senti meu peito apertar, pisquei várias vezes tentando conter as lágrimas e levantei saindo apressada do tribunal em direção ao meu carro.

- Ana - ouvi Miguel me chamar e estendi a mão o fazendo parar onde estava.

- Fica longe de mim! - digo entrando em meu carro e dirigindo para casa.

Não era fácil, eu estava sim feliz por eles finalmente serem pegos, mas a realidade caía de forma tão bruta sobre mim que doía até mesmo respirar. Subi entrando em meu apartamento, sentindo a brisa da noite fria chegando e olhei para o local completamente vazio e me sentindo sozinha. Eu não tinha mais uma família há muito tempo.. mas agora parecia ter multiplicado o peso disso.

Me joguei na cama chorando desesperadamente e tão alto que seria possível todos do prédio ouvirem, logo bucky subiu em cima da mesma me fazendo companhia.

Desamparada. Essa era a única palavra que me defenia nesse momento, sentia como se algum buraco negro tivesse sido aberto dentro do meu peito e estivesse sugando tudo de mim, todas as minhas energias e me deixando completamente vazia. E eu não podia jogar a culpa em ninguém, porque meus pais fizeram isso comigo! não acabaram só com a vida deles, mas comigo também.

A cada lágrima que se escorria, mais a dor aumentava, tanto que chegava a ser insuportável e eu só pedia, melhor.. implorava à Deus para que me ajudasse nesse momento.

A culpa não era minha, eu entendia isso, mas era tão difícil.. tão difícil..

Vi a tela do meu celular ascender e o nome de Miguel brilhar na tela, mas eu estava com raiva demais dele para atender e apenas desliguei em sua cara voltando a enterrar meu rosto no travesseiro.

Pelo menos agora, todos ficariam bem em relação à maldade dos meus pais.. só isso importa Ana, só isso.

Adormeci minutos depois de desidratar de tanto chorar e acordei com meu celular tocando de novo, era uma mensagem de Helena, avisando que estavam na porta. Levantei sem pressa e caminhei como se vários sacos de cimento estivessem em minhas costas e abri vendo minhas amigas me olharem de modo acolhedor, tão acolhedor que bastou apenas isso para que me fizesse voltar a chorar novamente e Júlia me abraçar.

- Isso dói tanto.. - digo com dificuldade - me ajudem.

Ouvi Maju soluçar e afagar minhas costas e a apertei mais contra mim.

- Eu sinto muito, minha pequena.. - diz tentando me acalmar.

Sentamos no sofá e Kananda tocou em meus pés fazendo uma massagem relaxante enquanto Helena fazia brigadeiro para nós.

- Você sabe.. que não tem culpa disso, né? - perguntou Kananda e assenti.

A noite ficou mais suportável com elas aqui, dormimos todas juntas jogadas no tapete fofo da minha sala, mas antes ficamos horas e horas conversando sobre coisas totalmente aleatórias e divertidas.. e Miguel, bom.. o mesmo havia me mandado mais mensagens, mas não o respondi. Não estava com cabeça para isso, pelo menos não agora, e acho que tudo bem..

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Boa leitura! ❤

Por uma noite - Livro 2 da saga: Os cavalheiros Onde histórias criam vida. Descubra agora