Garotas empoderadas gostam de garotos interessantes

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Hazel narrando

A maioria não o conhecia, mas quem sabia da existência dele o considerava um esquisitão, nada demais. Apenas um garoto grande e desajeitado com ascendência asiática. Mas eu sabia de algumas coisinhas a mais sobre ele. Com o tempo, percebi que garotas empoderadas gostam de garotos interessantes.
Já vi isso acontecendo várias vezes. Minhas amigas são prova. Annabeth Chase, por exemplo, gosta de Percy Jackson. Ela, uma mulher poderosa e decidida, inteligente e que mete medo em quem a desrespeita e desobedece. Ele, um skatista um tanto desleixado, mas ávido defensor da vida marinha e definitivamente mais esperto do que aparenta.
Minha amiga Piper: namora um garoto padrãozinho, mas que na verdade é sensível, desajeitado e fácil de influenciar, e na companhia de Percy, você já deve imaginar o que acontece.
Tem também Calipso: namora um baixinho metido a conquistador, humorista e hiperativo. Elas poderiam ter quem quisessem nessa escola, principalmente os populares, mas elas escolheram os garotos interessantes.

Gostaria de ter percebido isso antes de aceitar o pedido de Sammy. Não me leve a mal, no começo ele parecia um garoto bacana, mas depois... bom, me arrependi de não ter esperado um pouco mais. Eu me sinto como a babá de um marmanjo, porque de fato, é o que eu sou. Sammy é irresponsável, chantagista e sem graça. Ele é primo de Leo, namorado de Calipso, mas os dois são muito diferentes. Apesar de ser meio louco e besta, Leo não faz Calipso cozinhar para ele, pôr suas roupas para lavar, arrumar sua bagunça e nem faz chantagem emocional, muito menos a trai. Já Sam...

Mesmo quando estou com ele, não ligo para o que ele diz, não presto mais a atenção que um dia eu dediquei somente à ele. É chato, é repetitivo, é desgastante. E, como se não bastasse ser um péssimo namorado, ele ainda consegue ser racista. É ridículo e hipócrita. E acredite, já tentei tirar esse chulé do pé várias vezes, mas é difícil.

Mas foi durante um dia em que eu estava com ele que eu vi pela primeira vez alguém interessante. Estávamos numa praça com meu grupo de amigos. Como sempre, todos ignoravam Sam e me olhavam como quem diz "como você ainda tá com esse cara?", enquanto eu dava de ombros. Encarei o gramado da praça que tinha um parquinho para cães, e lá, estava um rapaz alto, robusto e asiático passeando com um cachorro vira-lata. Estávamos nas férias de verão, e eu nunca tinha visto aquele garoto na vida. Achei que fosse novo na cidade, e de fato era. De início, ele não me despertou nenhuma curiosidade, apenas certa empatia pelo fato de ter um cachorro sem raça e cuidar dele tão bem.

Mais tarde naquele ano, quando as aulas começaram, aquele garoto foi apresentado à escola com os outros novatos. Seu nome era Frank. Ele parecia tímido. Eu estava em algumas turmas com ele, como em linguagens e humanas. Tanto que recebemos um trabalho de história em dupla sorteado, e ele acabou caindo como minha dupla. Era tema livre, e ele sugeriu mulheres na história. Gostei do tema e aceitei. Mas eu não esperava o que estava por vir.

Quando cheguei à casa dele, sua avó me atendeu. Ela me descreveu o caminho para o quarto dele e mencionou que eu não estranhasse, já que o neto dela (que por algum motivo ela chamava de "Fai") tinha algumas manias peculiares. Quando bati na porta e entrei, entendi o que ela quis dizer. Para começar, o quarto não era pintado, e sim salpicado de inúmeras tintas diferentes, de forma totalmente aleatória. Não havia cama, na verdade, o único móvel convencional de um quarto naquele lugar era o closet, que parecia quase esquecido no canto do cômodo. Havia uma escrivaninha, uma prateleira, uma mesa e alguns bancos dobráveis. O dono do quarto estava concentrado em um livro específico quando ergueu os olhos para me receber, com um sorriso caloroso adornado por dois piercings no lábio inferior. Ele vestia um conjunto moletom e estava descalço. Em um ponto do quarto, o cachorro que eu vira com Frank na praça dividia uma almofada canina gigante com um gato preto. Nas paredes, além da curiosa tintura, haviam pôsteres dentro de molduras, contendo pequenas escritas nos cantos que eu acredito serem em chinês. Nos pôsteres, artistas como Sia, P!nk, AURORA, Melanie Martinez e Calvin Harris estavam estampados. Tinham também alguns pôsteres de livros, séries e filmes. Na prateleira, que ocupava toda a parede à direita, haviam dezenas, talvez centenas de livros diversos, todos organizados com etiquetas em chinês. Para completar, um alvo esburacado estava encostado na parede junto de um arco e uma aljava cheia de flechas. O quarto devia ter pelo menos 4 ou 5 metros de altura, e talvez 6 de largura e uns 10 de comprimento.

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