Solucionando problemas

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Frank narrando

Eu não sei em qual momento minha filosofia de vida fez efeito e me pôs para frente. Talvez quando perdi minha mãe. Independente de quando, essa filosofia teve origem com os discursos da minha avó. Não que eu desse muita atenção, eu normalmente ignorava a maior parte, mas algumas coisas eu captava. E eu construí algo com isso.

Ing e iang trabalham com seu oposto. Eles não apenas se suportam existencialmente como também tem um pouco do outro em si. São um reflexo do espelho: está virado para o lado oposto, esquerda vira direita, frente vira atrás, mas é a mesma imagem. É tão simples e tão profundo que você se sente meio burro. Enfim. Pensando nisso numa espécie de surto depressivo, eu passei a praticar esse pensamento. Eu sou estritamente contra a violência, mas sei lutar e atirar (inclusive tenho uma bela pontaria). Um dos meus maiores medos é o fogo (inexplicavelmente), por isso, tendo à me aproximar da lareira quando acesa e também aprendi algumas coreografias artísticas que envolvem objetos flamejantes. Eu sou extremamente raivoso e temperamental, além de impaciente, portanto, costumo meditar por longas horas, fazer caminhadas e dou preferência à ouvir do que falar. Eu tenho uma preguiça tão grande que sinto meu corpo desmoronar só de pensar em levantar, então sou o mais disposto e prestativo possível.

À essa altura você deve me considerar um maluco. Eu devo ser mesmo. Mas eu sinto que, encarando meus problemas de frente, pensando e sentindo eles, eu posso lidar melhor com eles caso eu não consiga resolvê-los. Trabalhar com algo que eu não sou muito chegado na maior parte do tempo me afasta da possibilidade de ficar viciado e acumular problemas. Eu não sei como exatamente eu cheguei nessa lógica e nem como eu tive a santa disposição de praticá-la, mas isso me tornou alguém relativamente equilibrado, organizado e capaz de cumprir as próprias metas e objetivos.

E isso me levou à atual grande questão da minha vida: o amor.
Eu me apaixonei por uma garota esplêndida. Ela é linda, cativante e divertida. E comprometida. E fiel. O nome dela é Hazel Levesque. Como diz minha filosofia, devo encarar quaisquer questões de frente. Se não podia namorar com Hazel, então eu iria ser amigo dela, apoiá-la e sorrir perante sua felicidade. Detalhe: eu também sou extremamente tímido, portanto, se alguém, especialmente uma pessoa extrovertida e carismática, chama a minha atenção, eu potencialmente vou tentar fazer amizade. Costumo ser capaz de ultrapassar meu nervosismo.

Fiquei dignamente surpreso com a facilidade com a qual minha amizade com Hazel cresceu e amadureceu. Normalmente as pessoas repudiam ou estranham meu contato. Talvez porque tenha se tornado incomum um "oi, como vai? Muito prazer, meu nome é Frank. Tem algum assunto que você goste de conversar?". Uma abordagem prática, rápida, séria e necessária. É tão estranho assim fazer as coisas do jeito certo?
Enfim, continuando. Hazel me contou sobre seus gostos, algumas desventuras, histórias, ideias. Ela é ferrenhamente ativa politicamente, chega a levantar a poeira ao redor. Também é incrivelmente engraçada e harmoniosa. Mas, mesmo assim, parecia haver um peso que ela carregava. Eu perguntei se alguma coisa a incomodava, a julgar pela linguagem corporal, mas ela negou. Porém, o tom que ela usou deixou claro que ela apenas estava evitando a questão. Ignorar nossos problemas pode ser confortável, mas é péssimo. Não toquei mais no assunto, deveria deixar ela decidir o que fazer com suas próprias questões.
Certo dia, ela me entregou um papel. Pediu para que eu lesse quando estivesse com tempo e sozinho. Assim o fiz. Estava escrito o seguinte:

"Você disse que notou que eu tenho um problema pela minha linguagem corporal. Eu neguei e menti. Mas eu não aguento mais, preciso da sua ajuda, porque você é a única pessoa sensata, madura e equilibrada o suficiente para me ajudar com isso. Eu sempre falo sobre questões como abusos, principalmente no âmbito pessoal, mas eu mesma estou tendo esse problema e não consigo resolver nem lidar. Meu namorado. Ele está sendo tóxico. Ele me pede para olhar meu celular, faz chantagem emocional o tempo todo, joga a culpa dos erros dele em mim, me convence a coisas que eu não quero, e ultimamente, tem sido pior. Ele está tentando me forçar a abrir as pernas para ele, e eu definitivamente não quero, não estou pronta. Eu conheço ele, sei do que é capaz. Já fiz coisas que eu morreria antes de fazer por manipulação dele. Eu preciso de ajuda Frank, por favor ele quer me separar de você eu não vou suportar, me socorre!"

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