Escrito por: Julia Trindade, @juescrevendo em todas as redes
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Gaspar estava apaixonado. Essa era sua sentença.
A paixão avassaladora que o rapaz sentia por aquela garota de roupas desleixadas e cabelos livres, era como uma arma acertando um tiro em seu peito. Realmente, o sentimento havia chegado tão rápido a ele quanto uma bala e mudado completamente o fluxo de seus pensamentos, virando sua vida de ponta cabeça.
Jasmim era um sonho. Os sorrisos espontâneos que ela mostrava a ele quando se esbarravam no pátio do colégio, ou as referências a bandas de rock que ela fazia no meio de uma conversa qualquer, o faziam suspirar a cada vez que ele a via. Ele perdia completamente as palavras e tudo que conseguia fazer era observá-la. Ela poderia não ser o sonho de qualquer um, mas era o sonho de Gaspar. E, por mais que o garoto soubesse disso, sempre que um pingo de coragem para pedir seu número ou chamá-la para sair surgia em seu corpo, o medo da rejeição o tomava e o afastava. Então, tudo o que ele podia fazer era vê-la passar. Tão distante e, ao mesmo tempo, tão perto. Como se ele estivesse na lua e ela caminhando por Marte. Na mesma galáxia, mas a quilômetros de distância.
Enquanto o professor de Geometria insistia em fazer os alunos aprenderem a área de um semicírculo, ele insistia em prestar sua atenção nela, sentada próxima ao quadro na primeira fila. A monopolizadora de seus pensamentos tinha um dos lados do fone de ouvido preso em uma de suas orelhas, enquanto balançava levemente a cabeça, provavelmente conforme a música. Ela também parecia distraída. Às vezes rabiscando algo em seu caderno, ou batucando os dedos na mesa como uma bateria imaginária.
Sentado uma cadeira atrás na diagonal, uma oportunidade despontou em sua mente e, ao encarar o relógio que parecia zombar de seu tédio, decidiu tomar uma atitude impulsiva da qual talvez o arrependimento o consumiria. Mas, com isso, ele poderia se preocupar depois. Os dedos de Gaspar passaram rapidamente pelas páginas do caderno, até quase seu fim. Sua letra estava levemente trêmula, mas era imperceptível. Depois de escrever, ele observa a página por um tempo antes de arrancá-la.
"Tédio? :/"
Esticando um pouco seu corpo, ele cutucou a garota enquanto o professor estava virado para o quadro falando algo sobre triângulos agora. Jasmim pareceu confusa, a princípio, mas pegou o papel e mostrou um pequeno sorriso de canto ao lê-lo. Ela pegou a única caneta azul em cima de sua mesa e começou a escrever na folha. Quando o professor se virou novamente ela entregou o papel a ele, estendendo o braço.
"Salva por Bring Me The Horizon, senão morreria de tédio hahaha
Gosta de que tipo de música?"
Um sorriso brilhou no rosto de Gaspar com sua resposta e uma parte do nervosismo parecia ter ido embora. Uma parte apenas.
Ele rabiscou mais algumas coisas em resposta e lhe entregou o papel de caderno, sem se importar com o professor. Sua ansiedade era maior.
"Poderia ouvir Eyeless do Slipknot o dia todo e sei tocar algumas músicas dos Mutantes no violão.
E você?"
Jasmim respondeu rapidamente.
"Curto um pouco de tudo. Um dia tô ouvindo Can You Feel My Heart e no outro a quinta sinfonia de Beethoven.
Os Mutantes era bom só até a Rita sair, depois disso perdeu a graça.
Você sabe tocar violão? Que incrível! Fiz algumas aulas de canto por causa do teatro. Podemos fazer um dueto um dia desses."
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Entre Palavras e Acordes
Short StoryColetânea cheia de criatividade e melodia, com contos escritos por artistas incríveis e talentosos da Oficina Criativa.