Escrito por: Eliza do Prado, @elizaescritora no Instagram
Revisado por: Gabriella Ferreira, @intrografando no Instagram
Aviso de Gatilho: Morte; distúrbio psicológico relacionado a alimentação; competitividade.
Classificação Indicativa: +16
Eu nunca fui competitiva.
Mas na Academia de Ballet e Art nós respirávamos competição. Ela fluía em nossas veias como se fosse nosso sangue, nos drenando e, ao mesmo tempo, nos mantendo vivas. Como a dança que nos ensinavam.
Lá você não podia ser boa, você tinha que ser a melhor. Os diretores não queriam nenhuma falha.
Entrar era para poucos. Eu, por exemplo, tive a sorte de entrar. Minha mãe dizia que eu era brilhante e, bem, talvez ela só falasse isso para mim por ser sua filha. Apesar da insegurança, eu não conseguia ignorar os olhares radiantes e hipnotizados que as pessoas me davam quando começava a dançar. Talvez só tenha conseguido uma vaga na escola por ser mais apaixonada pelo balé do que por mim mesma.
Entrar era a parte mais fácil da Academia, pois a parte realmente difícil era continuar. Não porque os custos eram altos, mas porque havia muita pressão. Era muito raro conhecer alguém dentro da escola que tivesse a saúde mental estável, muito raro mesmo. Éramos instruídas a ser as melhores, o que aumentava a cobrança tanto vinda dos professores quanto a nossa.
E eu era a melhor, pelo menos era isso que todo mundo sempre me dizia. Talvez esse fosse o motivo de eu ser sempre um alvo, uma ameaça para os outros.
Meus pés bateram no colchão freneticamente.
Falhar? Nunca.
Diria que este era o lema da Academia de Ballet e Art. Pensei enquanto olhava para a grande e brilhante placa que mostrava o símbolo da escola: uma bailarina prata linda e delicada com as iniciais ABA embaixo.
— Linda, né? — Valerie sussurrou ao meu lado com seus olhos verdes fixados na dançarina imóvel.
— Realmente, magnífica — respondi, me afastando e continuando minha caminhada pelo jardim do campus. A academia era enorme, um condomínio cheio de dançarinos dedicados só ao balé.
Valerie, como sempre, me seguiu. Olhei de canto para ela, tentando o máximo ser discreta. Suas costas, que sempre estavam retas, se arquearam um pouco hoje, como se ela estivesse carregando uma mochila muito pesada.
Senti uma leve dor subir ao meu peito. Alguém que não conhecia Valerie não ligaria para um simples e imperceptível detalhe, mas eu percebi. Sua postura era de uma verdadeira bailarina, como se a dança nunca saísse de dentro dela.
— Você está melhor hoje? — perguntei a olhando com atenção. Seu cabelo castanho escuro estava solto, com as mechas da frente colocadas distraidamente atrás da orelha. Ela usava uma roupa toda cinza, que combinava com seu tom rosado de pele. Suas grossas sobrancelhas franziram e aqueles intensos olhos verdes me fitaram quando questionei. Um sorriso sincero, mas fraco, surgiu em sua boca rosada.
— Estou bem melhor, Bella. Não precisa se preocupar.
Seus olhos pousaram sobre meu cabelo marrom escuro preso em um rabo de cavalo apressado e na minha roupa escolhida rapidamente para poder andar pelo campus antes da minha ansiedade me corroer por dentro. O olhar foi da minha blusa até meus olhos, que eram do mesmo tom dos meus cabelos e pele, e pararam na minha postura reta, se comparada à dela. Ao cair em si, imediatamente sua coluna se ajeitou e voltou a olhar para frente.
Senti minhas lágrimas escorrerem pela minha bochecha.
— Ok — murmurei, percebendo que Valerie não queria conversar sobre o assunto que a consumia desde que entrou na escola de balé.
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Entre Palavras e Acordes
Short StoryColetânea cheia de criatividade e melodia, com contos escritos por artistas incríveis e talentosos da Oficina Criativa.