Conto 13: No mais profundo e intrínseco eu

20 4 1
                                    

Escrito por: Becs Marconi, @becs_lunarian no Instagram

Revisado por: Gabriella Ferreira, @intrografando no Instagram

Classificação Indicativa: +10

Sentando lentamente sob meu colchonete, repenso minha próxima ação. De olhos fechados, respiro devagar pensando que talvez seja melhor ir ver uma série ou caminhar ou só dormir ou Balanço a cabeça como se fosse capaz de afastar tais pensamentos intrusivos. Eu preciso fazer isso.

— Eu preciso de ajuda. — digo em voz alta para mim mesma, me agarrando ao som dessa minha voz trêmula como uma âncora.

Deito no colchonete desejando encontrar o que perdi em mim.

É em momentos como esse, em que o caos se enraíza tão bruscamente em minha mente, se alastrando como ervas-daninhas, que sempre decido por me partir em três. Afinal, é mais fácil desmontar o quebra-cabeça.

Então começo a contar de 100 a 1. Após quatro dezenas contadas já sinto minha consciência pesar; em seis dezenas meu corpo despenca como se caísse de um lugar muito alto em grande velocidade; após oito dezenas, ainda imóvel, me sinto mergulhar de costas em águas agitadas, caindo até o fundo dessas águas. Mas no fundo não encontro areia ou rochas, e sim um véu o qual meu corpo atravessa e, deixando o fundo do mar, chega em terra firme sentindo o ambiente ao redor seco e minhas costas sendo acomodadas por um chão liso. Ainda me mantenho seca.

A primeira vista é como uma cidade sem cor, sem casas, sem prédios ou qualquer coisa que denote vida.

Não parece haver paredes e se há, são tão brancas quanto o chão. Olho pra cima lembrando de ter sentido água e a mesma realmente ainda está lá, violenta, com ondas que se quebram e formam novas. E, mesmo com o mar sob minha cabeça, esse céu de água salgada não possui qualquer influência na luz ao redor, que se mantém fria e pálida.

Mesclas de chão liso branco, gramado verde e terra fofa saúdam meus pés descalços. Há poucos pontos de cor. E é nesses pontos que minha visão se agarra tentando ao máximo se afastar dessa alvura amarga.

Ando apressada pelo além-nada, segurando firme aos meus braços, alternando meu olhar entre o chão — me certificando que o mesmo não vai se abrir debaixo de mim — e ao redor, procurando qualquer mudança sutil ao ambiente. Eu sinto que estou fugindo mas nem sei de que. Ou quem.

Fugindo De qualquer forma eu acabo mesmo sempre fugindo. No menor dos pensamentos eu já me afasto, mas nunca consigo o fazer totalmente. Ora, é quase impossível. Porque onde eu for, eu vou estar.

Paro. Me agacho e curvo a cabeça em direção aos joelhos enquanto abraço as minhas pernas. Isso foi uma péssima ideia.

— Foi não. Na verdade, essa foi a primeira coisa certa que você fez desde o início desta semana. — Kaleo, à minha frente, afirma em réplica ao meu pensamento.

Agacha-se, imitando minha posição e decifrando meu semblante com a cabeça levemente inclinada. Dou um sorriso fraco. Quanto tempo se passou desde que vi meu reflexo mais velho?

— Vem. — me induz a levantar. Se posiciona de pé, me aguardando. Eu o sigo não fazendo qualquer objeção.

— Talvez seja um caso de visão distorcida. — pondera sem muitos rodeios, enquanto caminhamos sob a grama macia. Ele tenta me ajudar sem saber exatamente como, se desdobrando em possibilidades do que poderia estar acontecendo. Ele sabe, ele entende, ele sente. Só não tem ideia do que fazer.

— É que — a voz me escapa e minha garganta fecha como se me impedisse de continuar. O desespero toma conta de mim. Cruzo os braços e os aperto numa inútil sensação de que tudo estaria bem. Mas não consigo ficar nessa posição por muito tempo.

Entre Palavras e AcordesOnde histórias criam vida. Descubra agora