Keith and The Game

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Abri os olhos com os barulhos de mensagem no meu celular, me xingando profundamente por ter esquecido de desativar as notificações na noite anterior, já que havia ido dormir tarde novamente. Já sabia que era meu pai mandando mensagens, como sempre às seis horas da manhã em ponto, como se fosse o horário mais agradável do mundo para trocar mensagens. Empurrei o celular para fora da cama, fazendo um barulho abafado no chão de carpete do quarto, mas sem parar de vibrar e mesmo com o travesseiro em cima de minha cabeça ainda o ouvia no chão. Desisti de tentar voltar a dormir após mais algumas mensagens dele e saí de debaixo das cobertas de uma vez só, sentindo o frio atingir meu corpo violentamente.

O trailer sempre fora um freezer no inverno e uma sauna no verão, mas nunca conseguiria me acostumar com aquilo, mesmo vivendo nele a dezesseis anos. Sem hesitar, fui direto para o banheiro, liguei o aquecedor na esperança de não congelar até a morte e me enfiei debaixo do chuveiro na temperatura mais quente que ele conseguia atingir, sentindo um pequeno alívio do frio. Sabia que meu pai ficaria mandando mensagens até que eu o respondesse, mas não estava com cabeça para aquilo no momento, precisava acordar de verdade antes de receber sua enxurrada de carência diária. Apesar disso, entendia que passar tanto tempo dentro de um barco deveria trazer muitas saudades de casa, e me mandar mensagens o confortava por saber que ainda havia um lugar para ele em terra firme.

Saí do banheiro já renovado e sem frio, mas ainda com preguiça demais para preparar qualquer coisa para o café da manhã, então me contentei com uma tigela de cereal, mesmo que aquele dia fosse ser longo e eu fosse precisar do máximo de energia possível. Depois de lavar a louça, comecei a me arrumar para sair enquanto respondia meu pai. Não era como se aquela tarefa exigisse muito de meu tempo, já que apesar de o amar muito, as mensagens me incomodavam mais do que me satisfaziam, então procurava ser breve.

Saí pela porta, a trancando atrás de mim. Odiava os dias de jogo na escola, pois tinha que sair mais cedo de casa para fazer os ensaios das músicas da banda marcial, ainda mais que o jogo seria contra a Superior High School, que era a grande rival da minha escola. Pra falar a verdade nunca havia ligado muito para essa rivalidade boba, pelo menos não até que um dos integrantes da banda deles esbarrou em mim enquanto eu carregava a capa de meu clarinete comigo, me fazendo o derrubar no chão. Por sorte Clarry — nome do clarinete — não estava dentro, mas mesmo assim a capa acabou com um amassado na ponta. A partir desse dia, meu espírito escolar aumentou em mil por cento, e sempre que havia qualquer jogo contra eles, eu tentava dar meu máximo e exigia também o máximo de meus colegas, mesmo com a preguiça querendo me derrubar.

Cheguei no estacionamento da escola, que naquele horário ainda era deserto, e parei meu carro em uma das melhores vagas perto da entrada, que quase parecia como uma compensação por me fazerem estar tão cedo naquele inferno. Pelo menos seria com o pessoal da banda, e não com meus colegas de sempre. Pesquei a capa do clarinete em meio a bagunça que estava o porta malas e corri para dentro, tentando não congelar no meio tempo que demorei para ir do carro até a entrada.

Antes que chegasse no ginásio, onde a concentração da banda aconteceria, esbarrei com uma das poucas pessoas naquele buraco que eu realmente me empolgava em conversar. Não me surpreendia que Diana também estivesse na escola àquela hora, os líderes de torcida tinham um dia bem cheio pela frente, assim como a banda marcial e o time de beisebol da escola. Me aproximei dela em silêncio, sem querer interromper a conversa um tanto calorosa que acontecia entre as garotas bem em frente ao banheiro, e cutuquei seu ombro tentando ser discreto em chamar sua atenção, mas todos voltaram sua atenção para nós quando ela se virou para mim.

— Keith! E aí, animado para o jogo? Sei que seu espírito escolar é gritante. — ela disse zoando, apenas nós dois ali sabíamos o porquê.

— Ô, animadíssimo! — falei com o tom mais irônico que consegui, fazendo com que as meninas rissem.

Mike, Keith and the...Onde histórias criam vida. Descubra agora