Mike and The Number

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O clima estava frio, tão frio que se tornava quase impossível sair de casa, especialmente numa manhã nublada como aquela, e era por isso que eu corria. Meu corpo, ao contrário da área em volta de mim, pegava fogo. Queimava como lava derretida, abrigada dentro de uma jaqueta corta-vento azul escura e uma calça de moletom cinza. Apenas parei minha corrida matinal diária para poder descansar um pouco, apoiando as mãos em meus joelhos. Olhei algumas das árvores que se estendiam pelo parque em que estava, junto com o sol que nascia naquele momento, parecia mais lento que eu.

Ergui meu relógio para poder o olhar, já era por volta das sete e meia da manhã. Suspirei levemente, um pouco decepcionado por não ter mais tempo de correr, treinar mais minha resistência, rapidez e articulações, mas a escola chamava. Assim, fiz uma última corrida até em casa, que já não era muito longe do parque em que estava, pouco demorando para finalmente chegar lá. Entrei em casa, limpando os pés no tapete próximo à porta, escutando o barulho um pouco mais alto da televisão, onde provavelmente Maisie estava.

— Michael. Ei! — Ela virou o corpo para mim, foi quando eu percebi que ela falava comigo. Tirei meus fones sem fio e os guardei na caixinha, colocando as mãos nos bolsos enquanto esperava ela falar. — Finalmente. Que horas você acordou para correr?

— Ah umas... Seis acho, por que? — Perguntei, com minha respiração ainda ofegante. Limpei o suor de minha testa com a manga da blusa, entrando dentro de casa enquanto olhava em volta, procurando por minha mãe. Me virei para falar com Maisie, mas ela já tinha se levantado e vinha na minha direção.

— Mike... Eu já te disse que não precisa correr tanto por dia assim, qual é. — Ela parecia um pouco preocupada, ajeitando seus óculos para poder me olhar de uma forma mais nítida. — Se você ficar sempre muito cansado, não vai conseguir focar na aula.

— Eu sei, Mai, mas relaxa. Eu tenho muita energia ainda! — Ajeitei minha postura para tentar fingir que meu cansaço era menos, coisa que pouco funcionou para ela, já que entendia muito bem como era. Mas, ao mesmo tempo, não teria ideia de como era ter que se esforçar ainda mais do que o necessário.

— Hm, sei... Olha só, a mãe teve que ir mais cedo lá para a clínica porque tinha um cliente antes do horário comum dela. Você sabe o quanto ela ama as velhinhas que vão lá. Então eu vou te levar pra escola hoje. Espero que você não demore no banho como o normal porque eu tenho treino logo logo. Você sabe, o ski não... — Ela estendeu a última parte, esperando que eu respondesse.

— ...espera. Eu sei, eu sei. — Revirei os olhos levemente, rindo depois. — Relaxa, não vou demorar no banho não...

Aquilo, no fim, acabou sendo uma mentira. Demorei uns vinte minutos no banho apenas aplicando os produtos em minha pele e cabelo, mas acabei me atrasando ao cantar as músicas aleatórias, e ao sair ainda tive uma guerra particular com meu cabelo que simplesmente não queria se manter no lugar naquele dia. No total, acabei por demorar quarenta minutos, isso porque ainda faltava tomar o café e me vestir. Acabei por mandar algumas mensagens avisando que eu iria de bicicleta, já que minha irmã odiava se atrasar para o treino, e desacelerei ainda mais meu ritmo.

Fui até meu quarto, escolhendo cada peça de roupa com uma atenção especial. No fim, acabei escolhendo uma camiseta simples, um moletom cinza com alguns desenhos de flores nele, uma calça jeans e sapatos pretos, pronto para carregar o frio do lado de fora. Ao sair do meu quarto, notei que minha irmã já tinha ido embora e suspirei. Não gostava muito de ficar sozinho em casa, parecia solitário demais. Por isso, comi o meu café da manhã o mais rápido que consegui e saí de casa, pegando minha bicicleta amarela e meus fones de ouvido, já inundando meu corpo naquelas batidas calmas que combinavam tanto com o clima do dia.

Mike, Keith and the...Onde histórias criam vida. Descubra agora