Mike and The Sailboat

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— Você tá zoando com a minha cara?! — Esbravejei irritado, batendo minha mão com força na escrivaninha. Logo depois fazendo uma face de dor, já que a palma da minha mão tinha sofrido com aquela ação. Tinha acabado de receber a notícia que não tinha conseguido me classificar para entrar em um time de beisebol menor que Superior tinha, suspirando profundamente.

Não só isso, como tinha recebido meu teste de matemática do dia, caindo alguns pontos da nota. Quando cheguei na cozinha de manhã, meu cereal favorito e o chocolate que tinha escondido para comer no dia tinham desaparecido completamente. Briguei com minha irmã por conta de opiniões divergentes sobre quem deveria lavar a louça no dia, cortei minha mão numa faca enquanto lavava a louça e ainda tinha queimado minha língua tentando tomar meu café diário.

Me levantei da mesa, bufando alto, pronto para cair na minha cama e ficar lá o resto da tarde e da noite, mas quando fui o fazer, bati meu dedo mindinho na base da cama, fazendo com que eu quase soltasse um palavrão bem alto, mas segurei para que minha mãe não viesse brigar comigo. No fim, apenas deitei na minha cama, com a cara mais emburrada que conseguia fazer.

Odiava dias assim, em que uma coisa levava a outra e tudo parecia desandar de uma forma que eu não podia controlar. As mínimas coisas, como meu celular travando ou uma tosse chata alojada na minha garganta me irritavam de uma forma que eu nem conseguia entender, e nem as músicas mais felizes estavam adiantando em meu estado, então simplesmente fiquei deitado, observando o teto do meu quarto.

Respirei profundamente, colocando as mãos em meu rosto enquanto tentava me acalmar, aproveitando para massagear as minhas têmporas antes que eu ficasse com aquela dor de cabeça chata, e assim tudo se tornaria ainda pior.

— Calma... Tá tudo bem Michael. — Tentei falar com confiança para ver se eu acreditava mesmo que não funcionasse tanto assim.

Sabia que eu precisava me distrair, para enfim poder me acalmar daquelas coisas. Peguei meu celular, já pensando em talvez assistir um vídeo ou ficar jogando, mas sentia que tudo aquilo pioraria a forma como eu estava. Assim, imaginei que talvez conversar com alguém pudesse me animar um pouco, mas a primeira pessoa que chegou em minha cabeça não era muito bem uma opção mais.

Nesse mesmo dia, depois de ser apenas respondido com um "ok" de Keith eu percebi que em todas as nossas conversas, eu quem mandava mensagem. Eu quem tentava puxar assunto e, se funcionava, eu era quem falava mais no fim das contas. E isso me deixou pior. Talvez eu estava tão extasiado com a ideia de ter um novo amigo, tão próximo quanto os que eu já tive antes, que não notei que no fim, ele não queria tanto assim minha amizade? Ou será que eu só era muito chato e ele percebeu isso tarde demais?

Aqueles pensamentos já se distanciavam da raiva e agora se encontravam com uma tristeza leve, mas que me desanimava completamente. Era difícil fazer amigos, eu nunca sabia o que se passava pela cabeça das pessoas, o que elas queriam fazer ou o que elas pensavam de mim. Eu só queria saber como agradar elas, mas nem isso eu conseguia direito.

Senti as lágrimas chegando em meu olho, fazendo com que eu tentasse me controlar o máximo possível. Quando eu estava a ponto de deixá-la cair, senti meu celular vibrar contra meu peito. O peguei um pouco despretensiosamente, me xingando mentalmente por ceder a qualquer notificação que aparece em meu celular, mas me surpreendi ao ver que era Keith.

Ampliei a notificação para ver as outras mensagens, sentando rapidamente na minha cama. Na mensagem, Keith perguntava se estava tudo bem e mencionou que a gente não tinha conversado ainda, falando que sentia minha falta. Senti meu coração acelerar levemente, não conseguindo evitar um sorriso de aparecer em meu rosto. Como eu sou fácil, senhor.

Mike, Keith and the...Onde histórias criam vida. Descubra agora