Keith and The Feelings

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— Keith Fitzgerald! — o professor falou, tirando minha atenção da janela e a voltando para ele. — Qual a resposta dessa equação? — ele perguntou apontando para seus rabiscos no quadro.

— Eu não sei... — ele negou com a cabeça decepcionado, passando a chamar algum outro aluno.

Acho que não saberia responder aquilo nem mesmo se estivesse prestando atenção, mas nem isso eu estava. Nos últimos dias minha cabeça se recusava a se concentrar, sempre se distraindo com as mínimas coisas, como se minha cabeça estivesse completamente fora do lugar. Sempre havia sido uma pessoa com a cabeça cheia e confusa, mas não confusa desse jeito nem a esse ponto. Era um tanto absurdo. Esfreguei meus olhos e voltei a olhar para meu caderno, que agora sustentava uma página completamente branca, minha caneta nem tendo tocado a folha. Mesmo que tentasse me forçar a tentar anotar, logo perdia a linha de raciocínio e nada realmente era anotado. Suspirei alto, sabendo que depois olharia para aquelas "anotações" e me frustraria por não entender nada da matéria, ainda mais sem estar olhando para o quadro.

Havia tentado fugir de meus pensamentos a semana toda, mas quanto mais eu pensava em os evitar, mais eles dominavam minha cabeça, não querendo ir embora de jeito nenhum. Todas as vezes que eu piscava meus olhos, meus pensamentos eram inundados por apenas uma pessoa. Pessoa essa que eu nem nomearia pois já estava tentando evitar pensar, e toda vez que eu pensava em seu nome, seu rosto aparecia na minha mente. Não que ele já não aparecesse vividamente em minha mente mesmo sem seu nome ser chamado. Um arrepio passou por meu corpo, me dando uma leve acordada e me fazendo olhar novamente para o quadro, mesmo que meu olhar fosse muito além, se perdendo num horizonte de possibilidades.

Não sabia o que estava acontecendo comigo e tinha dificuldade até mesmo de me reconhecer. Naquele mesmo dia havia acordado naturalmente antes das seis da manhã e pegado meu celular, na esperança de receber uma mensagem. E o pior, quando realmente recebi, eu sorri. O tempo todo ficava me perguntando o que será que ele estava fazendo no momento, se já havia voltado de sua caminhada, se estava falando com sua mãe, se já estava na escola, que aulas estava tendo e com quem estava conversando. E todas as vezes meu coração parecia se apertar, às vezes doía tanto que eu precisava botar minha mão em meu peito para ter certeza que ele não havia parado completamente.

A sensação era estranha. Nunca nenhum amigo meu havia se instalado em meus pensamentos desse jeito. Desse jeito incompreensível que eu não conseguia botar em palavras. Era um pouco assustador e me deixava completamente perdido, como se não pudesse pensar em mais nada além disso. Eu sabia o que poderia ser, mas evitava pensar. Não poderia estar gostando de alguém, não desse jeito e sem nunca antes ter gostado de alguém, isso não acontecia do dia para noite. Um garoto ainda por cima. Me sentia tão ridículo me preocupando com isso sabendo que ele já havia até mesmo namorado outros garotos antes. Mas não que isso importasse, porque minhas intenções eram apenas ignorar esses pensamentos e sentimentos até que eles desaparecessem.

Não teria coragem de estragar nossa amizade.

Me sentei na mesa do refeitório ao lado de Diana, que no momento se encontrava sozinha. Seu almoço estava na bandeja na sua frente, mas ela estava mais focada em seu celular, trocando mensagens incessantemente com alguém. Suspirei alto para que ela me notasse, e ela o fez. Me olhou por alguns segundos, analisando minha expressão e franzindo o cenho.

— Que suspiro foi esse? — ela disse largando o celular e voltando sua atenção para a comida na sua frente.

— Nem sei pra ser sincero, mas to cansado.

— A gente tá chegando no final do semestre né, é justo você estar assim... — ela me olhou um pouco mais atentamente. — Ou não é isso?

— Vai saber né... — dei de ombros.

Mike, Keith and the...Onde histórias criam vida. Descubra agora