Mike and The Trailer

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Rebati a bola com o máximo de força que eu conseguia, vendo ela voar por um segundo antes de preparar minha pose novamente, na frente da máquina que também se preparava para jogar a próxima bola. Segurei o taco com firmeza, batendo mais uma vez e vendo ela voar, tendo apenas tempo de limpar o suor de minha testa antes da próxima. Estava naquela ação contínua a umas duas horas, tentando ver quanto tempo eu duraria apenas fazendo aquilo, mesmo que já estivesse tão cansado. De quinze em quinze minutos tinha de pegar as bolas de beisebol e recolocar na máquina, sentindo meu sangue esfriar e o cansaço vir, mas me forçava um pouco a voltar.

Fiquei mais uns bons minutos naquilo, até que mais uma vez as bolas acabassem e meu cansaço falasse mais alto, fazendo com que eu terminasse meu treino. Olhei de relance para o sol, fechando os olhos logo depois por ter os machucado levemente, devia ser mais ou menos onze horas da manhã. Caminhei até um dos cantos do campo, vendo que algumas crianças caminhavam juntas, uma delas de bicicleta e as outras correndo em sua volta.

— É minha vez! Desce daí Dylan! — A menina de cabelos crespos falou baixo, enquanto o garoto, que estava na bicicleta, ria.

— Você já foi, Polly. — Ele falou com sua voz aguda.

Parei um pouco e as observei, sorrindo brevemente. Tinha saudade dessa época, quando eu podia brincar e me esbaldar no que a vida tinha a oferecer de uma forma quase que subentendida. Ser criança era tão mais fácil, mas a gente só aprende isso quando deixa de ser, e com certeza é assim para todas as fases da vida. Suspirei, terminando de acumular as bolas de beisebol. Quando ergui minha visão de novo, estranhei. Uma das crianças, aquela que não tinha falado comigo, me olhava.

— É... Oi? — Perguntei um pouco confuso e envergonhado.

— Oi! — Ele sorriu, juntando as mãos timidamente em sua frente. — Moço, você é famoso? Sua roupa é tão legal. Eu adoro beisebol. — Eu ri brevemente, negando com a cabeça.

— Não sou famoso não, e obrigado. — Eu sorri. — Você já viu a Superior High? Eu faço parte do time da escola.

— Uau! Meu irmão estuda lá, mas ele não é tão legal quanto você, moço! — Ele falou dando alguns pulinhos, me senti até lisonjeado de certa forma. — Um dia eu vou jogar beisebol que nem você, e aí eu vou ser bem legal! Ah, meu nome é Tobey, aliás.

— Eu sou Mike. — Falei, vendo o outro menino se aproximar dele, o puxando pelo braço. Eu acenei para ele levemente, vendo ele sorrir e acenar de volta, depois fazer uma cara emburrada para seu irmão.

Depois que eles saíram da minha vista, me permiti gargalhar com o ocorrido, negando com a cabeça. Crianças eram seres bem divertidos, apesar que podiam dar tanto trabalho quanto. Lembrava de quando eu era criança, de como era curioso e um pouco energético demais, fora minha vontade gigantesca de carinho e... Bom, aparentemente nada mudou muito. Caminhei de volta para a máquina, pegando ela e cambaleando levemente, seu peso não era enorme mas ainda sim incomodava.

Respirei fundo, pensando nas palavras daquele menino, e o quão simples ele fez soar o fato de que eu fazia esportes, como se fosse algo completamente novo para ele, algo que ele nunca tinha pensado antes. Eu me senti exatamente dessa forma quando comecei a jogar beisebol, a algum tempo atrás. Era como eu conseguia escapar da realidade e focar em algo menor e mais divertido, algo que curava minha alma, mas fazia um tempo que isso já não acontecia mais.

Era como se a felicidade em fazer aquilo tivesse morrido aos poucos, e agora apenas resquícios apareciam aqui e ali, tipo quando eu vencia algum torneio. Desde o momento em que passei a olhar minha irmã como exemplo do que eu deveria ser, e meu pai como alguém que eu deveria agradar, o esporte nunca foi o mesmo pra mim. Não que fosse algo ruim assim, claro, todo mundo em sua vida faz coisas que não gosta, é algo comum, mas mesmo assim não deixava de ser um pouco incômodo.

Mike, Keith and the...Onde histórias criam vida. Descubra agora