Mike, Keith and the...

Mike and The Feelings

❤

Eu olhei o céu por alguns segundos, enquanto esperava o sinal da escola finalmente ecoar para ditar o fim das aulas. Minha cabeça já doía de tantas páginas de livros que tivemos que ler. Meu genial professor de literatura resolveu pesar a mão em uma das obras mais sem sentido que já li na minha vida: Moby Dick, de Herman Melville. Não podia dizer que tinha gostado da obra, especialmente porque não tinha passado da página cinquenta, mas mesmo assim saberia que não gostaria do resto. Eu odiava livros como aquele, de leitura complicada. Para ser sincero, odiava até os que eram simples de se ler.

Estava extremamente entediado, checando meu celular de minuto em minuto para ver a hora e saber se... Alguém, havia mandado mensagem, mas nenhuma notícia dele, de qualquer forma. Devia estar tendo uma aula super divertida que não dava para mexer no celular, e eu aqui, pensando numa proximidade nossa muito pequena naquele dia do barco. Seus olhos brilhavam com a luz do barco, seu rosto extremamente próximo do meu, sua respiração se fundindo com a minha... Balancei a cabeça ao escutar o sinal da escola ecoar, pegando minhas coisas e me levantando rapidamente.

Peguei o livro de forma desajeitada enquanto também apanhava minha bolsa, encaixando-a no meu ombro e passando a caminhar acelerado. Dei um tchauzinho rápido para o professor, para que não fosse óbvia a minha vontade de me mandar daquele lugar, mas mesmo assim acho que ficou clara a vontade de ir embora. De qualquer forma, segui pelo corredor, passando por alguns amigos meus, até trombar com um deles.

— Opa, calma lá. — Me afastei levemente, sorrindo um pouco envergonhado. Devia prestar mais atenção por onde andava. — Isso tudo é vontade de me ver? — Leslie perguntou com aquele tom de voz provocativo, que eu odiava completamente. Na realidade eu até gostava, mas depois de alguns meses de namoro, se tornou cansativo.

— Ai, cala a boca. — Revirei meus olhos de brincadeira.

— Você não mudou nada, né? Enfim, que bom que eu cruzei com você porque, na realidade, queria te chamar pra gente sair. — Ele sorriu confiante, mas eu apenas cruzei os meus braços.

— E o que você vai ganhar com isso?

— Que? Nada? Eu não posso só querer ver um amigo de longa data e... Tá, você me pegou. — Ele passou as mãos por seus cabelos castanhos, estavam um pouco maiores desde que eu o vi a algum tempo atrás. Não que meus olhos não cruzassem com ele na escola algumas vezes, mas eu normalmente tentava ignorar para não parecer esquisito. — Eu preciso da sua ajuda pra revisar a minha prova de matemática e entender por que eu... Tipo, errei metade dela. Se eu não fizer isso acho que não vou conseguir fazer a prova de recuperação e você sabe que eu sou tipo, um merda nisso.

— Realmente, você é. — Complementei.

— Ai. — Ele riu, mas logo voltou a me olhar um pouco mais sério. — Vai, por favor? Eu te pago um almoço

— Hm... Tá bom, vai. Mas nada mais além da prova... E do almoço, sou uma pessoa faminta. — Completei, rindo baixo enquanto ajeitava minha mochila nas minhas costas. — Agora licença que eu preciso vazar, quero ir pra casa logo.

Acenei rapidamente pra ele, vendo ele fazer o mesmo. Era estranho falar com um ex que eu não tinha muito contato assim do nada, mas acho que não me importava muito no fim das contas. Depois de ver uma pessoa pelada, falar com ela se torna a coisa mais fácil que você consegue fazer.

Caminhei para fora da escola, vendo as árvores se moverem lentamente com o vento que batia de forma calma, quase gentil, sobre suas folhas. Respirei profundamente, aliviado que já era a última semana de aula — ao menos para mim e todos os outros que não tinham ficado de recuperação —, e que eu finalmente poderia descansar um pouco mais e acordar mais tarde, talvez umas sete e meia. Quando me virei para caminhar para o estacionamento e pegar minha bicicleta, ouvi algo no fundo da minha cabeça, sem saber exatamente o que era. Segui despreocupado, até que entendi o que aquele som era, me virando para sua fonte.